segunda-feira, novembro 26, 2007

Há dias assim

Tinha tudo para ser mais um fim de semana igual a tantos outros. Podia ser inserido na categoria "comum e meio chato".
Até que o telemóvel tocou. E, em vez de sair um convite para ir ver o Barcelona na tv, saiu um convite para ver isto



A reprodução não faz justiça à banda. É o Angelo Debarre Quartet, um quarteto fabuloso que toca o mesmo estilo de música do Django Reinhardt, e também alguns dos temas que o famoso guitarrista compôs. Foi um delírio!


andré

domingo, novembro 25, 2007

Livros


«[uma] sala que parecia um cruzamento entre a biblioteca e o estúdio de um cavalheiro do século dezassete. A ajuizar pelos livros atrás da rede entrecruzada do armário de madeira, vermelho e grande como um roupeiro, o século do cavalheiro até podia ter sido o dezasseis. Havia cerca de sessenta volumes gordos, brancos, encadernados a pergaminho, de Alceu a Zenão; o suficiente, em suma, para um cavalheiro; mais fariam dele um pensador, o que teria efeitos desastrosos nas suas maneiras ou no seu património»


Do livro de Joseph Brodsky que muito me acompanhou nas últimas férias, Marca de Água (1940), sublinhados meus.


Se o meu património está irremediavelmente lesado, que dizer das maneiras? Ou as palavras adequar-se-ão apenas a 'cavalheiros'? Pelo sim pelo não, desconfiem sempre dos que albergam em casa mais de seis dezenas de volumes.


evva

Tão queridos…



São os The Dears. Eu já tinha escutado este single mas nunca tinha conseguido entender o nome da banda. Até hoje.

andré

sábado, novembro 24, 2007

O combate do ano: VPV x MST




Caso ainda não tenham reparado, alguns media portugueses, talvez por falta de assuntos interessantes para cobrir, ou incapacidade de os encontrar (ou até por diversão… quem sabe…), têm gasto os seus recursos a alimentar e divulgar o combate entre Vasco Pulido Valente (VPV) e Miguel Sousa Tavares (MST).
Tudo parece ter começado a propósito de uma crítica que o primeiro terá feito a um livro do segundo - intitulado Equador -, crítica essa que, segundo MST afirma, VPV terá feito sem primero ter lido o livro.

O combate parece estar a processar-se da seguinte forma:
MST: entrevista no Expresso, artigos no DN, entrevista no programa Pessoal e Transmissível da TSF.
VPV: coluna semanal no Público e, hoje, artigo de profundidade do suplemento P2 do mesmo jornal, que parece ter sido escrito a pedido do próprio jornal (???!!!).

Como se pode ver, cada um faz uso dos recursos ao seu dispor, naquele que é, porventura, um dos casos mais interessantes de absoluta irrelevância jornalística.
Não percam os próximos episódios desta fantástica saga. Já estou a imaginar daqui a uns anos, uma edição especial do Prós e Contras em que a coitada da Fátima passará a maior parte do seu tempo a evitar que VPV e MST se peguem à bengalada. A não perder!

andré



PS: para uma próxima oportunidade fica outro caso, talvez mais interessante de analisar: o combate obsessivo de José Pacheco Pereira (JPP) à actual liderança do seu partido - o PSD - em particular ao seu líder, Luis Filipe Menezes (LFM).
PS2: a continuar assim, antes de iniciar os posts, terei de fazer uma lista de abreviaturas…

sexta-feira, novembro 23, 2007

Liga o teu RADAR!



O que é que faz um gajo, enfiado em casa com uma bruta de uma conjuntivite nos dois olhos, uma gripezita a chocar, e com um doutoramento que não pode esperar?
Vai à net e sintoniza a RADAR!
(…porra… isto é rima a mais…)

Aqui há a BBC, mas em Lisboa há a RADAR e a OXIGÉNIO, em Coimbra a RUC, e em Braga a RUM. E todas com emissão online. Música alternativa de ponta em rádios made in POR.


andré


PS: …no Porto, já não me lembro de uma rádio em condições desde que a gloriosa, e muito saudosa (snif…) XFM acabou.

domingo, novembro 18, 2007

Os malditos trabalhos de casa


(Clicar na imagem para aumentar; recebida por mail)

evva

Control (Anton Corbijn): Da fotografia travestida em cinema disfarçado de banalidade poética

Antes de mais, devo começar por esclarecer que sou das maiores fans dos Joy Division à face da terra. Nunca nenhuma outra banda me marcou tanto e, passada a crise urbano-depressiva dos 15-17 anos, continuo a vibrar, com o mesmo entusiasmo, com a intensidade das letras e a voz cavernosa de Ian Curtis, a guitarra em convulsão de Bernard Sumner, o baixo e a bateria omnipresentes de Peter Hook e Stephen Morris.

Sentei-me na Sala 1 do Cidade do Porto com as piores expectativas (já tinha visto o trailer antes de A Outra Margem) mas com uma ligeira, muito ligeira, esperança de ser surpreendida pelo biopic do melhor e mais fascinante songwriter de sempre e pela cinematografia de Anton Corbjin, cujas emblemáticas fotografias da banda povoaram a minha adolescência, apesar de desconfiar muito das aventuras cinematográficas de fotógrafos e realizadores de videoclips. O que mais temia, porém, era que o filme, em parte baseado na ridícula biografia de Deborah Curtis, Touching for a Distance (lançada em 1996 e que adquiri e li, revoltada, no mesmo ano), insistisse demasiado, como o livro, no ponto de vista da ‘viúva coitadinha e desgraçadinha’. O filme terminou e abandonei a sala com as expectativas confirmadas.

O argumento tem diálogos de uma displicência atroz, sobretudo no início da relação de Ian e Deborah (alguém compreendeu a razão pela qual Ian se apaixonou por ela?), e a estrutura elíptica agudiza essa sensação de superficialidade. Annik, o terceiro vértice do triângulo, é praticamente reduzida a um cliché. A forma como a relação extraconjugal é tratada permite-nos concluir que o interesse de Ian por Annik se deveu simplesmente a um desejo sexual motivado por sentimentos de repulsa da monotonia suburbana do casamento com Deborah, o que acaba por desmerecer Ian e Annik, como é óbvio, mas também a própria Deborah num lamentável tiro no pé.

E que dizer do processo criativo do songwriter? Sim, Curtis idolatrava Bowie, Lou Reed e Iggy Pop, sim, recitava Wordsworth de cor, e…? A este nível, e para além da exiguidade e da linearidade como são expostas as suas influências, há da parte dos argumentistas (um deles, Deborah herself) um erro crasso na forma como interpretam cada tema escrito por Curtis, fazendo derivar quase todas as canções da sua biografia pessoal («O poeta é um fingidor», sublinhou Fernando Pessoa, não nos esqueçamos, e Curtis tinha a exacta noção dessa ficcionalidade): “She’s lost control” é apresentada como uma referência ao ataque epiléptico que presenciou enquanto trabalhava no centro de emprego, “Love will tear us apart” reporta-se directamente ao desmoronar do casamento, etc, etc. Tudo isto secundariza irremediavelmente a que é para mim a maior qualidade do vocalista dos Joy Division: mais do que um songwriter ele é um extraordinário poeta, com um notável sentido da expressão. Curtis soube exprimir como poucos o ‘pessimisme fin-de-XXe siècle’, à imagem dos poetas franceses do final do século XIX. Veja-se New Dawn Fades:

A change of speed, a change of style,
A change of scene, with no regrets,
A chance to watch, admire the distance,
Still occupied, though you forget,
Different colours, different shades,
Over each mistakes were made.
I took the blame.
Directionless so plain to see,
A loaded gun won’t set you free.
So you say.

Well share a drink and step outside,
An angry voice and one who cried,
Will give you everything and more,
The strains too much, can’t take much more.
Oh, I’ve walked on water, run through fire,
Can’t seem to feel it anymore.

It was me, waiting for me,
Hoping for something more,
Me, see in me this time, hoping for something else.

Não consegui vislumbrar neste filme a pose urbano-depressiva que foi marca dos Joy Division e sobretudo de Ian Curtis. Na interpretação, falhada, de Sam Riley ele é pouco mais do que um apagado e epiléptico suburbano, com um olhar e presença em palco electrizantes. Ao tentar ‘copiar’ os gestos e o olhar de Curtis, a composição da personagem peca por falta de densidade, tudo ali é linear e trivial. Se Riley se tivesse descolado um pouco do original, poderia ter feito sua a personagem e não uma mera imitação, por vezes bem conseguida, do olhar e dos gestos em palco de um ícone. Compare-se a evocação de Charlie Parker, por Forrest Whitaker, em Bird, de Clint Eastwood, ou de Johnny Cash, por Joaquin Phoenix em Walk the Line, para se deduzir que construir uma personagem baseada numa lenda musical não é apenas imitar certos maneirismos do original. Até o destino final e fatal da personagem parece reduzir-se ao infortúnio de um jovem tímido que se casou cedo demais (e nunca conseguimos perceber bem porquê) e não aos sentimentos de tristeza, angústia, depressão, inadaptação social, alienação, paranóia e doença que as suas canções revelavam.

Por outro lado, quase nada nos é mostrado da forma como a banda evoluiu, de Warsaw para Joy Division, e interagiu musicalmente, criando um som único que influenciou e influencia ainda hoje muitas bandas (ouça-se com atenção os Interpol ou She Wants Revenge, que não recusam, bem pelo contrário, a herança) e que é indissociável dos últimos anos de vida de Ian Curtis que o filme pretende evocar. Não nego que os actores que incarnam os restantes membros da banda se tenham esforçado por transmitir a atmosfera dos concertos, mas a voz de Sam Riley é decepção pura, para ouvidos habituados à voz explosiva de Curtis. Corbjin deveria ter optado pela dobragem. A interpretação de ‘Isolation’ toca as raias da ópera cómica, sobretudo a deixa de Martin Hannett: «Genious!». Só não ri porque dá vontade de chorar.

Finalmente, há que dizer que a fotografia de Martin Ruhe é magnífica, como aliás seria de esperar num filme realizado por um superlativo fotógrafo, num preto e branco que tenta captar a atmosfera depressiva da suburbana Macclesfield de final dos anos setenta, apesar de ter sido filmado em Nottingham. Mas um filme tem de ser mais do que uma longa e lenta sucessão de boas fotografias. Falta a esta estreia de Anton Corbijn na realização de longas-metragens a noção do que pode e deve ser a narrativa em cinema.

Control é um retrato inócuo e desonesto, que não faz justiça a Ian Curtis. Mas não deixem de ir vê-lo e façam o vosso juízo. E depois, regressem a casa para ouvir, e ver, o original.

evva

terça-feira, novembro 13, 2007

Daily match

(clique no título para ouvir um extrato da música)



You go up
And I go down
There is no left
No right



I go up
And you go down
There is no right
No wrong



Cause everyday
Is everyday
The same
The same
The same



Cause everyday we do the same
Again
Again
Again


Lali Puna
Daily match, do EP Micronomic


andré

domingo, novembro 04, 2007

Dias frios

As Maçãs, Abel Manta

Brrr!... Tragam-me uma manta quente e maçãs assadas com canela.



evva

sábado, novembro 03, 2007

A Outra Margem


Muit 'nito.
Personagens fortes e bem construídas, dos protagonistas aos secundários, sem excepção.
Vão ver.


evva

quinta-feira, novembro 01, 2007

Rodrigo Leão



Esta é uma das músicas do mais recente álbum de Rodrigo Leão, a banda sonora do documentário televisivo 'Portugal, Retrato Social', que passou este ano na RTP. Foi sem dúvida uma combinação feliz entre realização, investigação e composição musical.

Eu gosto muito da música do Rodrigo Leão. Não porque é de excelente qualidade, não porque a acho inovadora, mas porque me soa bem, porque a acho bonita.
Agrada-me sentir que ele a faz por prazer, porque gosta, não porque quer provar alguma coisa, não porque está preocupado em seguir um estilo ou outro.

Pelo que ouço, parece gostar de música erudita e da música de cabaret (ou música ligeira, chamem-lhe o que quiserem), e, em ambos os casos, parece gostar sobretudo da voz.
Mas em algumas peças instrumentais a melancolia, also similar à que podemos encontrar nos Madredeus, invade tudo o resto. Como o mar. É linda, muito linda mesmo.

Enquanto escrevo, ouço 'Os Poetas - Entre nós e as palavras', obra em que participa com os companheiros do costume, Gabriel Gomes e Fraancisco Ribeiro, e que para mim é talvez a obra mais conseguida. Combinação perfeita entre música e poesia. A entoação forte e sóbria da voz de Herberto Helder em 'Minha cabeça estremece' e a voz frágil e incisiva de Mário Cesariny em 'Queria de ti um país…' transmitem momentos de absoluto delírio, igual ao das palavras que se ouvem.

Agora só me resta esperar até ouvir o novo álbum. Entretanto, vou continuando a rever o documentário, em que tudo é português. É como regressar a casa…


andré







Para todos/as que queiram ver ou rever os 7 episódios do documentário de António Barreto, realizado por Joana Pontes, e com música de Rodrigo Leão, aqui fica o link:

http://www.rtp.pt/wportal/sites/tv/portugal_retrato/index.shtm


andré