sexta-feira, março 24, 2006

The end of the affair


Um filme que entra directamente para o meu top ten de 'Como terminar uma história de amor?'. É claro que a história é muito previsível e deliciosamente piegas, e que a posteridade recordará apenas a interpretação de Meryl Streep, mas às vezes precisamos de filmes assim, que nos levem ao colo e que em pequenas coisas nos revelem as grandes verdades. E agora vou comprar outra embalagem de lenços e estancar as lágrimas...
evva

quinta-feira, março 23, 2006

Ah, Baía!


E não me venham dizer que este não é o melhor guarda-redes português! E que Quaresma ainda tem de provar que merece estar no Mundial 2006, enquanto que Costinha tem lugar garantido! Não há por aí quem queira fazer uma OPA sobre a Federação Portuguesa de Futebol e levar-nos de vez o Scolari?
evva

quarta-feira, março 22, 2006

amores

Diz Galeote, o mais nobre dos reis-senhores, a Lanzarote, o mais nobre dos cavaleiros:

"ella vos ama tan lealmente e de tan grande amor que yo bien creo que ante ella querra ser señora de una poca de tierra convusco que de todo el mundo sin vos”.

Ms. 9611 BN Madrid

E depois de ler coisas destas pareço uma tontinha com a lágrima no olho...
Isabel Sofia

terça-feira, março 21, 2006

Poesia

Todos os anos lectivos, tenho o devaneio de fazer despertar nos alunos, num que seja, aquela voz interior que os fará amar as palavras até ao fim dos seus dias. Seduzo-os com lugares comuns, que a poesia se come, que os versos se trituram na boca, agitam-nos o sangue, enchem a alma...


É praticamente impossível, no emaranhado de conteúdos programáticos a cumprir, mas sonho com o dia em que poderemos começar cada aula com a leitura de um poema ou de um qualquer texto, explorá-lo em conjunto e que tudo isso lhes faça sentido. E lá para Junho, no final do ano, poder deixar-lhes numa fotocópia este testamento:


Que fique só da minha vida
um monumento de palavras
Mas não de prata Nem de cinza
Antes de lava Antes de nada
Daquele nada que se aviva
quando se arrisca uma viagem
por entre os pântanos da ira
além do sol das barricadas
Ou quando um poço que cintila
parece o tecto de uma sala
Ou quando importa que se extinga
dentro de nós a inexacta
irradiação que vem das criptas
em que o azul nos sobressalta
em que à penumbra se diria
que se acrescenta o som das harpas
Ou quando a terra não expira
senão segredos feitos de água
Ou quando a morte nos avisa
Ou quando a vida nos agarra

Adeus ó pombas onças víboras
todas iguais ante as muralhas
Adeus veredas invisíveis
que na floresta nos aguardam
Adeus ó barcos à deriva
Adeus canais Adeus guitarras
Adeus ó sílabas da brisa
Adeus sibilas ninfas cabras
tantas que a Deus se prometiam
mas só adeuses encontravam
Adeus ó deusas de partida
no meu minuto de chegada
Adeus ardentes evasivas
a ver se um pouco as demorava
Se as demorava ou demovia
de tão depressa me deixarem
Adeus ó portas clandestinas
que ao fim da tarde se entreabrem
Adeus adeus íntimas vítimas
das cerimónias implacáveis

Como deixar-vos todavia
se as vossas mãos as vossas faces
ora parecem despedir-me
ora conseguem renovar-me
E tantas tantas tantas ilhas
no mar que não nos limitasse
Como deixar-vos se na linha
deste horizonte aquela praia
tão de repente se aproxima
tão de repente se me escapa
Jorram vulcânicas as crinas
de récuas de éguas subaquáticas
Jorram do fundo E à superfície
crescem as ilhas assombradas
Eis que de longe lembram liras
mas entre as ondas só navalhas
É quando o poeta menos grita
que mais se crê nas suas lágrimas
Fique porém de quanto sinta
um monumento de palavras

Mas não de bronze Nem de argila
E nem de cinza nem de mármore
De fumo sim Do que se infiltra
no coração das velhas máquinas
no estertor dos suicidas
no riso triste dos apátridas
no ondular das gelosias
de onde se espia a madrugada
Do fumo enfim que se eterniza
na longa insónia das estátuas
E que de nós a alma extirpa
não nos deixando nem a máscara
quando é só corpo o que nos fica
para morrer às mãos dos bárbaros
E que nos conta só mentiras
E nos aceita só verdades
Múltiplas ágeis infinitas
sejam as linhas que ele trace
como as que traça a própria vida
sem liberdade em liberdade

Adeus ó fogo Adeus raízes
que todo o fumo alimentavam
E adeus o mel Adeus urtigas
da minha terra calcinada
Adeus cortiço Adeus cortiça
Ó madrugadas inflamáveis
Já se nem sabe a que sevícias
é que por fim a boca sabe
Nem qual a sombra que improvisa
esta sonâmbula sonata
que apazigua que arrepia
que nos destrói que nos exalta
Nem qual o crime inda mais crime
se acaso chega a desvendar-se
Adeus adeus eterna esfinge
Adeus Não penses que me ultrajas
E lembro tudo o que era simples
antes do nada inevitável
Mas que do nada ao menos fique
um monumento de palavras

David Mourão-Ferreira
Obra Poética, Lisboa, Editorial Presença, 1988, 1º edição


[evva]

segunda-feira, março 20, 2006

Coimbra, noite de nevoeiro cinza-molhado

Há dias em que quando tudo parece fazer sentido, todas as coisas se encaixam...eis que nos apercebemos que a chuva lá fora deixa passar o cinzento de uma tristeza desconhecida, mas que nos perturba. Então, temos vontade de abrir os braços. Mas contentamo-nos com a presença e o sorriso que oferecemos na tentativa de uma reconstrução.
Valham-nos os sonhos e as eternas demandas.
Isabel Sofia

quarta-feira, março 08, 2006

Não sei como confessar...

Mas hoje dei por mim a torcer pelos lampiões e a vibrar com os golos, tal o descalabro daquela equipa do Liverpool. Estou a perder qualidades.

evva

Antes que me esqueça...


Terminam hoje dez anos de uma presidência desastrosa, a manter-se em silêncio quando devia intervir e a interferir no rumo da governação em proveito dos interesses da esquerda bloco central. Por mim, já vai tarde. E não deixa saudades.

evva.

Dia da Mulher

Convém esclarecer de antemão que sou particularmente avessa a todas as jornadas pseudo-celebrativas, do não fumador, dos avós, do animalzinho de estimação (quando vivi em França lembro-me de haver um dia destes), etc, e irrita-me particularmente a que hoje se celebra.

Há uns anos trabalhei no Alentejo, num daqueles munícipios sempre pronto a gastar rios de dinheiro nestes folclores e a poupar em infrastruturas essenciais. Começou logo em Setembro, com a oferta de um mega-jantar à comunidade educativa no pavilhão gimnodesportivo, para celebrar a abertura do ano lectivo. Largas e largas dezenas a auferir gratuitamente de respasto com entradas diversas, dois pratos, bons vinhos e sobremesas variadas, tudo à discrição, com música ao vivo e bailarico a condizer. Lembro-me de a cada passo ouvir o tilintar de uma caixa registadora na minha cabeça, atónita com tamanho despesismo. Nenhum de nós, registe-se, se teria importado de pagar pelo jantar.

Seguiram-se inúmeros espectáculos, todos de borla, como manda a tradição da pseudo-igualdade de direitos e oportunidades em terras alentejanas. Teatro, bailado, as mais prestigiadas companhias nacionais, concertos, marionetas, todos de impoluta qualidade. Pérolas a porcos, perdoem-me. Num dos muitos concertos a que assisti no tal pavilhão gimonodesportivo, lembro-me de uma noite em que os belle chase hotel tocaram para uma plateia cheia mas absolutamente desinteressada de tudo o que se passava em palco. A certa altura, a conversa e o entra-e-sai da assistência eram de tal ordem que mal se conseguia ouvir a banda e eu contava-me entre os 0,00001% que tentava responder às solicitações do vocalista, dançar ao ritmo das músicas ou cantar os refrões. Para os restantes, o concerto passou ao lado. Seria possível tal desrespeito se cada uma das pessoas que assistiu ao concerto tivesse desembolsado dois ou três euritos, ou mais?


Não é distribuindo gratuitamente cultura pelo povo que se formam gerações instruídas, com gosto pela arte e sensibilidade para os eventos culturais, já se sabe. É investindo na sua formação, fornecendos-lhe, com rigor, as ferramentas e os conteúdos indispensáveis para que saibam apreciar e criar. Nunca de forma lúdica, ou gratuita, mas insistindo sempre para que prestem provas exigentes, invistam em si próprios e no seu trabalho e apenas por esse esforço sejam recompensados. Só quem está fora do sistema educativo desconhece as enormes pressões a que são sujeitos os professores para transitar de ano os alunos que nada fazem para incrementar artificialmente as taxas de sucesso, e não falo apenas do ensino básico obrigatório.


E eis que somos chegados ao dia 8 de Março. Sem surpresas, a tal edilidade alentejana mandou distribuir pelas mulheres do concelho milhares e milhares de flores (bem tratadas com químicos de florista, não daquelas que pintam intensamente a planície alentejana por esta altura, as minhas preferidas), acompanhadas de um convite para mega-jantar no pavilhão gimnodesportivo. Claro que, na escola, logo se combinaram romagens ao banquete. Vinte minutos antes da hora marcada, saio de casa e dirijo-me ao recinto. A 200 metros de distância já se ouvia o cacarejar. Indescritível. Centenas de mulheres acumulavam-se ruidosamente nas ruas limítrofes do pavilhão, novas, velhas, casadas, viúvas, solteiras ou nem por isso, saltitavam, abraçavam-se, gritavam como nunca nos braços de maridos e amantes. Mal nos avistámos, as minhas amigas e eu entreolhámo-nos com a expressão 'Help! Tirem-nos daqui!' a empalidecer-nos o rosto e decidimos juntarmo-nos aos homens que jantavam em desagravo no ponto de encontro do costume. Foi um dos melhores jantares de 8 de Março que já tive, celebrado com homens, amigos e amigas do peito.


Mulheres! Deixem-se de lamúrias feministas e carpideiras esquizofrénicas. A melhor maneira de celebrar este dia, e todos os que nos sobejam, é junto deles, rindo com eles, gritando com eles e por eles. Tudo o resto, a tal igualdade e liberdade, virá por acréscimo, pelo nosso empenhamento único e incansável no amor, na verdade e na vida. Bem hajam.


evva

FILMES…



Agora percebo que o cinema sempre me fascinou pelo conteúdo e não tanto pelas soluções técnicas, estejamos perante um filme de ficção científica ou de acção. Reconheço a importância central da técnica mas não tenho nem a sensibilidade nem a formação suficiente para a entender na totalidade. Daí que não goste do “Gladiador” ainda que me digam que é tecnicamente bom, e goste do “Exterminador Implacável 2” (T2) que qualquer um reconhece como fraco, ainda que tecnicamente extraordinário.

Interessa-me a seriedade e a honestidade com que uma obra é feita, o que me faz insurgir contra engodos como o “Munique” ou o “Million Dollar Baby” que abordam questões complexas de forma ligeira e tendenciosa, encostando-nos a situações que são facilmente julgadas de uma forma ou de outra, a favor ou contra. O caso do “Munique” é muito mais interessante porquanto o encosto é sistematicamente disfarçado.
A vida não é a preto e branco, nem as pessoas o são. Daí que filmes como o “Mar adentro”, a “Lista de Schindler” ou a “Queda” sejam objectos que respeito porque me deixam na dúvida, porque me obrigam a pensar nas intenções e na natureza das pessoas. Porque é sempre mais fácil ver os problemas a partir das convicções que nos são mais próximas e com as quais nos sentimos mais confortáveis.

Os filmes maus são como os refrigerantes, a comida fast food ou as chiclets, gosta-se mesmo que se saiba que são maus.
O que é espectacular no “T2" é o homem a surgir do chão, ou a refazer-se a partir de gotas de mercúrio não tanto a tecnologia que está por detrás disso. No “Tigre e o Dragão” (que é apesar de tudo melhor do que o “T2”) é o imaginário das artes marciais, e acrescento que nada me incomoda a tentativa eventual de cruzamento com a realidade.

O Clint Eastwood, que sigo incondicionalmente, também fez filmes fracos – “Poder Absoluto”, “Dívida de Sangue”, “Cowboys do Espaço” – onde a personagem dele acaba sempre com a miúda, bastante mais nova, e em que maus são castigados no fim. Contudo fez filmes bons – “Imperdoável”, “Caçador Branco coração negro”, “O Mundo Perfeito” – onde as personagens são frágeis e fortes, em que a realidade é ambígua ou pelo menos mais verosímil, e o quotidiano está mais presente.

É por essas e por outras que apesar de preferir o cinema europeu – onde os sentidos são explorados de forma mais profunda e as explicações ficam para quem vê –, não resisto às produções de Hollywood, cheias de diversão e a imaginação.

Não sei muito sobre filmes mas o que mais detesto é que me tentem impingir opiniões ou pontos de vista. É por isso que não gosto da maioria dos filmes do Spielberg e que acho que será difícil haver este ano algo melhor do que o “Match Point”, um filme em que muita gente (eu incluído) se sente bem pelo facto de a pessoa que cometeu o crime se safar no fim.

Mas esse é talvez o facto mais interessante da arte. Todos queremos encontrar nela algo que nos conforte, e ficamos quase sempre desiludidos quando isso não acontece. E quanto maior é a nossa afectividade em relação à mensagem e a quem a emite mais dificuldade temos em admitir ou lidar com esse desconforto.

andré

PS: A imagem que vêem é do Blade Runner, um dos meus filmes preferidos e um dos melhores de Ficção Científica que alguma vez vi.

domingo, março 05, 2006

Momento radical


Conduzir um carro no IP4, Alto do Marão, noite cerrada e a nevar intensamente. Belo.

evva