segunda-feira, dezembro 31, 2007

Os Bons Anos


«Em um Mundo tão avarento de bens, onde apenas se encontra com um bom-dia, ter obrigação de dar bons-anos, dificultoso empenho! Deus, que é autor de todos os bens, os dê a Vossas Reais Majestades felicíssimos (mui altos e mui poderosos Reis e Senhores nossos) com a vida, com a prosperidade, com a conservação e aumento de estados que as esperanças do Mundo publicam, que o bem da Fé Católica deseja, que a Monarquia de Portugal há mister e que eu hoje quisera prometer e ainda assegurar. Em um Mundo, digo, tão avarento de bens, onde apenas se encontra com um bom-dia, ter obrigação de dar bons-anos, dificultoso empenho! E na minha opinião cresce ainda mais esta dificuldade, porque isto de dar bons-anos, entendo-o de diferente maneira do que comummente se pratica no Mundo. Os bons-anos não os dá quem os deseja, senão quem os assegura

Padre António Vieira, Sermão dos Bons Anos (1642)


[evva]

domingo, dezembro 30, 2007

sábado, dezembro 29, 2007


A tentar sobreviver à ressaca de uma gripe com... trabalho.


evva

domingo, dezembro 23, 2007

Feliz Natal




andré

la la la

Mais música: são os "la la la ressonance" e deram há pouco tempo um concerto no Passos Manuel, que eu - com pena minha - perdi para outras noitadas graças a esta vida de professora...

A banda é portuguesa e apresenta-se como tendo transitado de um trabalho de "experimentalismo e improvisação"  (em "The Astonishinh Urbana Fall") para uma actividade pautada pelo " formalismo, abstracção e ironia. " São muitos rótulos...: a banda já tem um album ("Palissade"); nada como ouvi-lo.  A não perder também: a página web dos lllr em : http://lalalaressonance.com


Sónia

terça-feira, dezembro 11, 2007

He's back!



É pena que o actor por dentro do boneco não consiga disfarçar melhor a pronuncia eslava. Mas tá muita bem sacado!

andré

domingo, dezembro 09, 2007

Mulheres I



A propósito desta reportagem da Pública, pode-se encontrar um pequeno filme sobre o mesmo tema aqui.

andré

Mulheres II




andré

terça-feira, dezembro 04, 2007

O regresso



António Sérgio de novo no ar. Na Radar. Todos os dias, das 23 à 1. Viriato 25.

andré

segunda-feira, dezembro 03, 2007

Em concerto





Novo, novo... não será. A música é honestamente revivalista: Joy Division, The Clash, The Dead Kennedys... mas sabe lindamente!
São os "Nouvelle Vague", para quem quiser ver e ouvir, no Sá da Bandeira, dia 6. 


Sónia

domingo, dezembro 02, 2007

sábado, dezembro 01, 2007

Dedicatórias

Dedicatória 1

A quem parou, 

Porque para haver música é preciso haver silêncio, é de agradecer a quem parou durante a greve de ontem da função pública.  Esta  dedicatória é especialmente para os professores, que não pensaram na aula desse dia, que ficou por dar, mas em como terão que dar todas as que virão depois; que não pensaram no prejuízo dos seus alunos desse dia e deste ano, mas no benefício desses e de todos os que virão. Porque há momentos em que trabalhar, de qualquer forma e a qualquer preço, é mais indigno do que parar.

Dedicatória 2
A um mês que passou,

Para uma despedida simpática de Novembro:
http://www.lastfm.com.br/music/Julie+Doiron/_/Snow+Falls+In+November


Dedicatória 3
Ao feriado de hoje?

O direito à autodeterminação é sempre de celebrar, mas olhando bem para o lado... não seria melhor fazê-lo discretamente? Para quê os foguetes? Porquê  a festa?


Sónia


2 em 1

Depois de ter começado a semana a delirar com a música do post anterior, não havia melhor do que terminar a ouvir a English Chamber Orchestra a tocar Bartok e Mendelssohn



e, na segunda parte, acompanhados pela solista Sara Chang, a tocar as Quatro Estações de Vivaldi, a peça que me iniciou na música clássica.



Foi uma boa semana. Foi foi.

andré

segunda-feira, novembro 26, 2007

Há dias assim

Tinha tudo para ser mais um fim de semana igual a tantos outros. Podia ser inserido na categoria "comum e meio chato".
Até que o telemóvel tocou. E, em vez de sair um convite para ir ver o Barcelona na tv, saiu um convite para ver isto



A reprodução não faz justiça à banda. É o Angelo Debarre Quartet, um quarteto fabuloso que toca o mesmo estilo de música do Django Reinhardt, e também alguns dos temas que o famoso guitarrista compôs. Foi um delírio!


andré

domingo, novembro 25, 2007

Livros


«[uma] sala que parecia um cruzamento entre a biblioteca e o estúdio de um cavalheiro do século dezassete. A ajuizar pelos livros atrás da rede entrecruzada do armário de madeira, vermelho e grande como um roupeiro, o século do cavalheiro até podia ter sido o dezasseis. Havia cerca de sessenta volumes gordos, brancos, encadernados a pergaminho, de Alceu a Zenão; o suficiente, em suma, para um cavalheiro; mais fariam dele um pensador, o que teria efeitos desastrosos nas suas maneiras ou no seu património»


Do livro de Joseph Brodsky que muito me acompanhou nas últimas férias, Marca de Água (1940), sublinhados meus.


Se o meu património está irremediavelmente lesado, que dizer das maneiras? Ou as palavras adequar-se-ão apenas a 'cavalheiros'? Pelo sim pelo não, desconfiem sempre dos que albergam em casa mais de seis dezenas de volumes.


evva

Tão queridos…



São os The Dears. Eu já tinha escutado este single mas nunca tinha conseguido entender o nome da banda. Até hoje.

andré

sábado, novembro 24, 2007

O combate do ano: VPV x MST




Caso ainda não tenham reparado, alguns media portugueses, talvez por falta de assuntos interessantes para cobrir, ou incapacidade de os encontrar (ou até por diversão… quem sabe…), têm gasto os seus recursos a alimentar e divulgar o combate entre Vasco Pulido Valente (VPV) e Miguel Sousa Tavares (MST).
Tudo parece ter começado a propósito de uma crítica que o primeiro terá feito a um livro do segundo - intitulado Equador -, crítica essa que, segundo MST afirma, VPV terá feito sem primero ter lido o livro.

O combate parece estar a processar-se da seguinte forma:
MST: entrevista no Expresso, artigos no DN, entrevista no programa Pessoal e Transmissível da TSF.
VPV: coluna semanal no Público e, hoje, artigo de profundidade do suplemento P2 do mesmo jornal, que parece ter sido escrito a pedido do próprio jornal (???!!!).

Como se pode ver, cada um faz uso dos recursos ao seu dispor, naquele que é, porventura, um dos casos mais interessantes de absoluta irrelevância jornalística.
Não percam os próximos episódios desta fantástica saga. Já estou a imaginar daqui a uns anos, uma edição especial do Prós e Contras em que a coitada da Fátima passará a maior parte do seu tempo a evitar que VPV e MST se peguem à bengalada. A não perder!

andré



PS: para uma próxima oportunidade fica outro caso, talvez mais interessante de analisar: o combate obsessivo de José Pacheco Pereira (JPP) à actual liderança do seu partido - o PSD - em particular ao seu líder, Luis Filipe Menezes (LFM).
PS2: a continuar assim, antes de iniciar os posts, terei de fazer uma lista de abreviaturas…

sexta-feira, novembro 23, 2007

Liga o teu RADAR!



O que é que faz um gajo, enfiado em casa com uma bruta de uma conjuntivite nos dois olhos, uma gripezita a chocar, e com um doutoramento que não pode esperar?
Vai à net e sintoniza a RADAR!
(…porra… isto é rima a mais…)

Aqui há a BBC, mas em Lisboa há a RADAR e a OXIGÉNIO, em Coimbra a RUC, e em Braga a RUM. E todas com emissão online. Música alternativa de ponta em rádios made in POR.


andré


PS: …no Porto, já não me lembro de uma rádio em condições desde que a gloriosa, e muito saudosa (snif…) XFM acabou.

domingo, novembro 18, 2007

Os malditos trabalhos de casa


(Clicar na imagem para aumentar; recebida por mail)

evva

Control (Anton Corbijn): Da fotografia travestida em cinema disfarçado de banalidade poética

Antes de mais, devo começar por esclarecer que sou das maiores fans dos Joy Division à face da terra. Nunca nenhuma outra banda me marcou tanto e, passada a crise urbano-depressiva dos 15-17 anos, continuo a vibrar, com o mesmo entusiasmo, com a intensidade das letras e a voz cavernosa de Ian Curtis, a guitarra em convulsão de Bernard Sumner, o baixo e a bateria omnipresentes de Peter Hook e Stephen Morris.

Sentei-me na Sala 1 do Cidade do Porto com as piores expectativas (já tinha visto o trailer antes de A Outra Margem) mas com uma ligeira, muito ligeira, esperança de ser surpreendida pelo biopic do melhor e mais fascinante songwriter de sempre e pela cinematografia de Anton Corbjin, cujas emblemáticas fotografias da banda povoaram a minha adolescência, apesar de desconfiar muito das aventuras cinematográficas de fotógrafos e realizadores de videoclips. O que mais temia, porém, era que o filme, em parte baseado na ridícula biografia de Deborah Curtis, Touching for a Distance (lançada em 1996 e que adquiri e li, revoltada, no mesmo ano), insistisse demasiado, como o livro, no ponto de vista da ‘viúva coitadinha e desgraçadinha’. O filme terminou e abandonei a sala com as expectativas confirmadas.

O argumento tem diálogos de uma displicência atroz, sobretudo no início da relação de Ian e Deborah (alguém compreendeu a razão pela qual Ian se apaixonou por ela?), e a estrutura elíptica agudiza essa sensação de superficialidade. Annik, o terceiro vértice do triângulo, é praticamente reduzida a um cliché. A forma como a relação extraconjugal é tratada permite-nos concluir que o interesse de Ian por Annik se deveu simplesmente a um desejo sexual motivado por sentimentos de repulsa da monotonia suburbana do casamento com Deborah, o que acaba por desmerecer Ian e Annik, como é óbvio, mas também a própria Deborah num lamentável tiro no pé.

E que dizer do processo criativo do songwriter? Sim, Curtis idolatrava Bowie, Lou Reed e Iggy Pop, sim, recitava Wordsworth de cor, e…? A este nível, e para além da exiguidade e da linearidade como são expostas as suas influências, há da parte dos argumentistas (um deles, Deborah herself) um erro crasso na forma como interpretam cada tema escrito por Curtis, fazendo derivar quase todas as canções da sua biografia pessoal («O poeta é um fingidor», sublinhou Fernando Pessoa, não nos esqueçamos, e Curtis tinha a exacta noção dessa ficcionalidade): “She’s lost control” é apresentada como uma referência ao ataque epiléptico que presenciou enquanto trabalhava no centro de emprego, “Love will tear us apart” reporta-se directamente ao desmoronar do casamento, etc, etc. Tudo isto secundariza irremediavelmente a que é para mim a maior qualidade do vocalista dos Joy Division: mais do que um songwriter ele é um extraordinário poeta, com um notável sentido da expressão. Curtis soube exprimir como poucos o ‘pessimisme fin-de-XXe siècle’, à imagem dos poetas franceses do final do século XIX. Veja-se New Dawn Fades:

A change of speed, a change of style,
A change of scene, with no regrets,
A chance to watch, admire the distance,
Still occupied, though you forget,
Different colours, different shades,
Over each mistakes were made.
I took the blame.
Directionless so plain to see,
A loaded gun won’t set you free.
So you say.

Well share a drink and step outside,
An angry voice and one who cried,
Will give you everything and more,
The strains too much, can’t take much more.
Oh, I’ve walked on water, run through fire,
Can’t seem to feel it anymore.

It was me, waiting for me,
Hoping for something more,
Me, see in me this time, hoping for something else.

Não consegui vislumbrar neste filme a pose urbano-depressiva que foi marca dos Joy Division e sobretudo de Ian Curtis. Na interpretação, falhada, de Sam Riley ele é pouco mais do que um apagado e epiléptico suburbano, com um olhar e presença em palco electrizantes. Ao tentar ‘copiar’ os gestos e o olhar de Curtis, a composição da personagem peca por falta de densidade, tudo ali é linear e trivial. Se Riley se tivesse descolado um pouco do original, poderia ter feito sua a personagem e não uma mera imitação, por vezes bem conseguida, do olhar e dos gestos em palco de um ícone. Compare-se a evocação de Charlie Parker, por Forrest Whitaker, em Bird, de Clint Eastwood, ou de Johnny Cash, por Joaquin Phoenix em Walk the Line, para se deduzir que construir uma personagem baseada numa lenda musical não é apenas imitar certos maneirismos do original. Até o destino final e fatal da personagem parece reduzir-se ao infortúnio de um jovem tímido que se casou cedo demais (e nunca conseguimos perceber bem porquê) e não aos sentimentos de tristeza, angústia, depressão, inadaptação social, alienação, paranóia e doença que as suas canções revelavam.

Por outro lado, quase nada nos é mostrado da forma como a banda evoluiu, de Warsaw para Joy Division, e interagiu musicalmente, criando um som único que influenciou e influencia ainda hoje muitas bandas (ouça-se com atenção os Interpol ou She Wants Revenge, que não recusam, bem pelo contrário, a herança) e que é indissociável dos últimos anos de vida de Ian Curtis que o filme pretende evocar. Não nego que os actores que incarnam os restantes membros da banda se tenham esforçado por transmitir a atmosfera dos concertos, mas a voz de Sam Riley é decepção pura, para ouvidos habituados à voz explosiva de Curtis. Corbjin deveria ter optado pela dobragem. A interpretação de ‘Isolation’ toca as raias da ópera cómica, sobretudo a deixa de Martin Hannett: «Genious!». Só não ri porque dá vontade de chorar.

Finalmente, há que dizer que a fotografia de Martin Ruhe é magnífica, como aliás seria de esperar num filme realizado por um superlativo fotógrafo, num preto e branco que tenta captar a atmosfera depressiva da suburbana Macclesfield de final dos anos setenta, apesar de ter sido filmado em Nottingham. Mas um filme tem de ser mais do que uma longa e lenta sucessão de boas fotografias. Falta a esta estreia de Anton Corbijn na realização de longas-metragens a noção do que pode e deve ser a narrativa em cinema.

Control é um retrato inócuo e desonesto, que não faz justiça a Ian Curtis. Mas não deixem de ir vê-lo e façam o vosso juízo. E depois, regressem a casa para ouvir, e ver, o original.

evva

terça-feira, novembro 13, 2007

Daily match

(clique no título para ouvir um extrato da música)



You go up
And I go down
There is no left
No right



I go up
And you go down
There is no right
No wrong



Cause everyday
Is everyday
The same
The same
The same



Cause everyday we do the same
Again
Again
Again


Lali Puna
Daily match, do EP Micronomic


andré

domingo, novembro 04, 2007

Dias frios

As Maçãs, Abel Manta

Brrr!... Tragam-me uma manta quente e maçãs assadas com canela.



evva

sábado, novembro 03, 2007

A Outra Margem


Muit 'nito.
Personagens fortes e bem construídas, dos protagonistas aos secundários, sem excepção.
Vão ver.


evva

quinta-feira, novembro 01, 2007

Rodrigo Leão



Esta é uma das músicas do mais recente álbum de Rodrigo Leão, a banda sonora do documentário televisivo 'Portugal, Retrato Social', que passou este ano na RTP. Foi sem dúvida uma combinação feliz entre realização, investigação e composição musical.

Eu gosto muito da música do Rodrigo Leão. Não porque é de excelente qualidade, não porque a acho inovadora, mas porque me soa bem, porque a acho bonita.
Agrada-me sentir que ele a faz por prazer, porque gosta, não porque quer provar alguma coisa, não porque está preocupado em seguir um estilo ou outro.

Pelo que ouço, parece gostar de música erudita e da música de cabaret (ou música ligeira, chamem-lhe o que quiserem), e, em ambos os casos, parece gostar sobretudo da voz.
Mas em algumas peças instrumentais a melancolia, also similar à que podemos encontrar nos Madredeus, invade tudo o resto. Como o mar. É linda, muito linda mesmo.

Enquanto escrevo, ouço 'Os Poetas - Entre nós e as palavras', obra em que participa com os companheiros do costume, Gabriel Gomes e Fraancisco Ribeiro, e que para mim é talvez a obra mais conseguida. Combinação perfeita entre música e poesia. A entoação forte e sóbria da voz de Herberto Helder em 'Minha cabeça estremece' e a voz frágil e incisiva de Mário Cesariny em 'Queria de ti um país…' transmitem momentos de absoluto delírio, igual ao das palavras que se ouvem.

Agora só me resta esperar até ouvir o novo álbum. Entretanto, vou continuando a rever o documentário, em que tudo é português. É como regressar a casa…


andré







Para todos/as que queiram ver ou rever os 7 episódios do documentário de António Barreto, realizado por Joana Pontes, e com música de Rodrigo Leão, aqui fica o link:

http://www.rtp.pt/wportal/sites/tv/portugal_retrato/index.shtm


andré

quarta-feira, outubro 24, 2007

Outono em Sheffield







As fotos não são minhas mas são aquilo que eu vejo todos os dias.

andré

terça-feira, outubro 23, 2007

Isto ainda vai demorar algum tempo a entender…

P. A palavra autoridade [nas relações familiares] tem para si uma carga positiva ou negativa?
R. Eu creio que em Portugal e em Espanha, onde vivemos ditaduras, a palavra autoridade está mal interpretada. Entende-se como fascismo ou ditadura. A autoridade é necessária. É necessária sobre nós mesmos: o auto-governo, a disciplina. Mas também faz falta no lar, na rua, na escola. E é fundamental o respeito. A uma mulher grávida, a uma pessoa mais velha, ás plantas, aos objectos dos outros.

Extrato da entrevista Pessoal e Transmissível de Carlos Vaz Marques na TSF, com Javier Urra, um psicólogo espanhol, a propósito do livro deste intitulado "O pequeno ditador".

sexta-feira, outubro 19, 2007

Sem rumo…

António VariaçõesErva Daninha Alastrar
do álbum Dar e Receber
(Para ouvir um extrato da música, clique no icon play E NÃO no nome da música)

Só eu sei,
Só eu sei que sou terra,
Terra agrestre por lavrar,
Silvestre monte maninho,
Amora, fruto sem tratar.

Só eu sei que sou pedra,
Sou pedra dura de talhar,
Sou pedrada em aro,
Calhaus em forma de encastrar.

A cotação é o quiserem dar,
Não tenho jeito pra regatear,
Também não sei se a quero aumentar.

Porque eu não sei se me quero polir,
Também não sei se me quero limar,
Também não sei se quero fugir deste animal
Que ando a procurar.

Só eu sei que sou erva,
Erva daninha alastrar,
Joio trovisco, ameaça
Das ervas doces de enjoar.

Só eu sei que sou barro,
Dificil de se moldar,
Argila com cimento e cérebro,
Nem qualquer sabe trabalhar.

Em moldes feitos não me sei criar,
Em formas feitas podem-se quebrar,
Também não sei se me quero formar

Porque eu não se me quero polir,
Também não sei se me quero limar,
Também não se quero fugir deste animal
Que ando a procurar."


andré

quarta-feira, outubro 17, 2007

Descoberta tardia…



Estas eram as The Organ, um grupo que viveu entre 2001 e 2006. Para a história fica um álbum e alguns EPs. É pena! Tinham um som bem porreiro!

andré

terça-feira, outubro 16, 2007

Mais Radiohead



In the deepest ocean
The bottom of the sea
Your eyes
They turn me
Why should I stay here?
Why should I stay?

I'd be crazy not to follow
Follow where you lead
Your eyes
They turn me

Turn me on to phantoms
I follow to the edge of the earth
And fall off
Everybody leaves
If they get the chance

And this is my chance

I get eaten by the worms
Weird fishes
Picked over by the worms
Weird fishes
Weird fishes
Weird fishes

I'll hit the bottom
Hit the bottom and escape
Escape

I'll hit the bottom
Hit the bottom and escape
Escape

Weird Fishes/Arpeggi (ainda antes do lançamento de In Rainbows)

andré

Sem rumo…



Everything is open
Nothing is set in stone
Rivers turn to ocean
Oceans tide you home
Home is where your heart is
But your heart had to roam
Drifting over bridges
Never to return
Watching bridges burn
Youre driftwood floating underwater
Breaking into pieces pieces pieces
Just driftwood hollow and of no use
Waterfalls will find you bind you grind you
Nobody is an island
Everyone has to go
Pillars turn to butter
Butterflying low
Low is where your heart is
But your heart has to grow
Drifting under bridges
Never with the flow
And you really didnt think it would happen
But it really is the end of the line
So Im sorry that you turned to driftwood
But youve been drifting for a long long time
Everywhere theres trouble
Nowheres safe to go
Pushes turn to shovels
Shovelling the snow
Frozen you have chosen
The path you wish to go
Drifting now forever
And forever more
Until you reach your shore
Youre driftwood floating underwater
Breaking into pieces p ieces pieces
Just driftwood hollow and of no use
Waterfalls will find you bind you grind you
And you really didnt think it would happen
But it really is the end of the line
So Im sorry that you turned to driftwood
But youve been drifting for a long long time
Youve been drifting for a long long time
Youve been drifting for a long long
Drifting for a long long time


andré

segunda-feira, outubro 15, 2007

Pronto…

… não há nada a fazer… começou mais um ano do Gato Fedorento…





andré

Caramba…





… os Radiohead editaram um novo álbum! Agora não consigo fazer mais nada senão ouvi-lo. O pessoal no escritório não compreende porquê…
…insensíveis…


andré

sábado, outubro 13, 2007

Soneto dos 45 anos

por Fernando Pinto do Amaral. Mas que retrata com fidelidade os meus 35:

Que soubeste fazer da tua vida
depois de tantos anos à procura
do que chamavas terra prometida
no meio da floresta mais escura?

Por que deste consolo a essa ferida
que ainda continua a arder sem cura
se do teu coração não há saída
e o tempo te devora em lenta usura?

O que te ensina hoje cada dia
se já pouco te dói como doía
e tudo se transforma em quase nada?

Apenas o amor, que será só
memória de quem és, do pó ao pó
- cinza talvez, mas cinza apaixonada.

A Luz da Madrugada, Dom Quixote.

Tudo isto é fado, nada disto é cinema

Carlos Saura com Caetano Veloso
nas gravações de Fados
(foto EFE)

O cinema não passa por aqui. Nem sequer sob a forma de documentário. Parece mais um longo teledisco onde desfilam as escolhas do autor (ou de Carlos do Carmo, o consultor português?). Se bem que pareça pretender contar a história do fado (apesar de Carlos Saura o negar), não acredito que um espectador menos familiarizado com ela consiga compreender o alcance das muitas referências que o filme exibe, da música africana à brasileira, mas onde a ausência do tango, filiação estudada por Rui Vieira Nery (referido na ficha técnica!), é incompreensível.


Neste video clip pseudo-biográfico, Amália é pouco mais do que uma nota de rodapé, mas Carlos do Carmo, of course, e Marisa omnipresentes. Não me queixo do Camané, por razões óbvias, apesar de Saura filmar o seu lado menos fotogénico e por isso mais autêntico (também gostei das rugas de Caetano Veloso a assassinar Estranha Forma de Vida e de Chico Burque), mas que dizer do esquecimento de Maria Teresa de Noronha, Mísia ou Kátia Guerreiro? Não pretendia este filme(?) encerrar a trilogia de Saura sobre «três formas de expressão musical urbanas do século XX»? E o fado de Coimbra não é urbano?

De qualquer forma, para quem venera o fado como eu, há actuações inesquecíveis: Cuca Roseta com a melhor interpretação de SEMPRE de Rua do Capelão, ou Novo Fado da Severa (quem perceber mais disto do que eu, por favor elucide o título exacto da composição escrita pelo injustiçado Júlio Dantas*) e Lilla Downs a não envergonhar Lucília do Carmo na Travessa da Palha. Mas tudo isto não deixa de ser uma estranha forma de cinema.

evva

* Ainda está por escrever a enorme contribuição deste homem para a cultura portuguesa. Voltarei a ele um dia destes.

sexta-feira, outubro 05, 2007

Dia do professor

Aos colegas que hoje se manifestaram contra os tempos que correm (para trás).
Muito especialmente aos do ensino superior que, sem protecção no desemprego, estão tão fora deste tempo.


“En efecto, de no ser religiosos o no tener medios profesionales de fortuna, la situación de los profesores de humanidades era sencillamente angustiosa. Los documentos de Alcalá del siglo XVI nos hablan de las peticiones de ayuda económica del maestro Ibarra en 1572; los de Salamanca, de la súplica de ayuda en 1561 del bachiller Martín de Munguía “ora por vía de limosna, ora por vía de aumento de su cátedra”, porque era pobre y había servido a la universidad dando una clase de griego por 6000 maravedíes al año; y del préstamo de 100 reales de plata que le hizo el rector al catedrático de dicha materia, el maestro Gaspar de León, en 1591. La prosa burocrática de los documentos del siglo XVII refleja patéticamente en su estilo formulario las estrecheces económicas del profesorado. En Alcalá piden anticipos Sebastián de Lirio en 1605 y Fernando Caupena en 1614. [...]
Los documentos más desgarradores, sin embargo, son las peticiones de socorro de las viudas de los profesores salmantinos.”

Luis Gil Hernández (1997): Panorama Social del Humanismo Español (1500-1800), Madrid, Tecnos, p. 392.


Sónia

quinta-feira, outubro 04, 2007

Esta semana…





Esta semana, no meio de uma pilha de raiva que vinha acumulando desde a semana anterior, dei-me de frente com dois filmes sobre pais. O primeiro, já antigo, é o Interiors do Woody Allen. O outro, de 2006, é Dinamarquês, realizado por Susanne Bier, e chama-se Before the Wedding.
No primeiro é a figura da mãe, que como disse Herberto Helder “mexe aqui e ali” e é como um “poço de petróleo” na cabeça das filhas perturbadas pela insuportabilidade da sua presença. No segundo, é um pai que planeia em segredo a vida que quer para a sua família após a sua morte prematura. Dois filmes tocantes e de um poder emocional tremendo.
Puxa! Como é que a tristeza pode ser tão bela?!…


andré


…mas se calhar fui só eu e a minha irritação que os viram assim.

terça-feira, setembro 11, 2007

Bloggers de todo o mundo, uni-vos

Para quem não teve a oportunidade de disfrutar da Festa do Avante como teria gostado, porque ficou a trabalhar por cá ou porque foi trabalhar para lá, aqui fica uma hiperligação para saltar ao som da Carvalhesa:

http://www.youtube.com/watch?v=3ILYx0qewm0

Sónia

Hóquei no campo

Eurohockey Nations Challenge II Men
Predanovci, Eslovénia








andré

quinta-feira, setembro 06, 2007

O futuro fica lá à frente?

Nesta altura em que o ano lectivo reabre em muitas escolas, noutras é época de fecho. Queria sublinhá-lo recordando as notícias que, há algum tempo atrás, saíram a público sobre o fecho da EB2,3 Padre Agostinho Caldas Afonso, em Pias (Monção).
O encerramento da Escola em si não singulariza a notícia entre - infelizmente – muitas outras notícias do fecho de – infelizmente – muitas outras escolas pelo país fora. O que me faz trazer aqui esta situação em particular é o que a respeito da escola de Pias li em devido tempo no editorial da revista do meu sindicato (SPN informação, n.º17, Julho de 2007). O que torna esta situação especial é que esta mesma escola que o Ministério da Educação se propôs encerrar recebeu um prémio internacional de qualidade educativa atribuído pelo Conselho Ibero-americano em Honra da Qualidade Educativa. Passo a transcrever uma passagem do que li: “a única dúvida que persiste é saber se haverá representantes da EB2,3 de Pias na cerimónia de entrega do galardão atribuído, que vai ter lugar no Panamá, nos dias 13 e 14 de Setembro. Se essa presença se confirmar, será curioso saber a reacção das instituições oficiais promotoras do prémio, como Ministérios da Educação de países sul-americanos e a UNESCO, que vão entregar um prémio – anunciado como 'o mais importante reconhecimento outorgado a distintos e prestigiados profissionais e instituições líderes da educação ibero-americana, que promovem os valores éticos nas respectivas especialidades' - a uma escola que já não é, em nome da racionalidade.”
Mas não só em nome da racionalidade se diz fechar a escola: fala-se também em modernidade; fala-se em transferir docentes e discentes para instituições mais modernas e mais eficazes. Acontece que, em alguns desses casos, não se está a mudar para melhores escolas, mas sim para escolas tão boas, tão más ou piores que as de origem. Em alguns desses casos, os alunos têm que que percorrer maiores distâncias e por caminhos menos seguros que anteriormente. É verdade que, noutros tempos, as crianças – e bem pequenas – percorriam descampados e matos para ir à escola ou mesmo para trabalhar. Mas não são estes “tempos modernos”? Provalmente sim, mas à semelhança dos que Chaplin retrata no seu fabuloso filme.
Preferia ter-me “estreado” no blog com um tom menos amargo. Preferia ter falado de música ou de outras coisas de que gosto, mas, enfim, sou professora e não perdi a capacidade de indignação – algo para que sim se deveriam definir serviços mínimos...

Sónia

quinta-feira, agosto 30, 2007

The Notwist II

http://www.youtube.com/watch?v=MpWRLnpmLgk
(Para ver o videoclip, clique no link. A função embeded do Youtube não está disponível)

One step inside doesn't mean you'll understand
Álbum Neon Golden, 2002
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Prepare your shoes not to come back soon
Prepare your heart not to stop too soon
You cannot walk with us

One step inside doesn't mean you'll understand
One step inside doesn't mean I'm yours

In your world my feet are out of step
And my arms won't move, my hands won't grab
I will never read your stupid map
So don't call me incomplete
You're the freak


andré

The Notwist



Pilot
Álbum Neon Golden, 2002
----------------------------------

He's living next to rails.
He can tell you things of different cars and trains.
Now he's trying the whole day to switch off time
by causing train-delay.

Could be enough if only he's the pilot once a day.

Not a word to compensate.
Not a sentence to describe this desperate state.
Not a Picture to compare.
We step into a room of opaque air.

Could be enough if only we are pilots once a day.



andré

quarta-feira, agosto 29, 2007

segunda-feira, agosto 27, 2007

Airport fan


Pormenor do aeroporto de Manchester

andré

sexta-feira, agosto 17, 2007

SER PORTUGUÊS II


evva

P. S.: Regresso na próxima semana. Até lá, bons mergulhos!

quarta-feira, agosto 15, 2007

Liberdades formais, justiça social, Hugo Chávez e Putin

Alguns comentários, que reputo de algum interesse para o esclarecimento dos leitores, sobre um Editorial do PÚBLICO
Dedicou-me o director do PÚBLICO o seu editorial intitulado "Os deveres que a história impõe a Mário Soares". Permita-me que faça alguns comentários, que reputo de algum interesse, para esclarecimento dos leitores.
Em primeiro lugar, o título. Não me considero com nenhuns deveres para com a História, sobretudo com H grande. A história deixemo-la aos historiadores. Tenho deveres para com a minha consciência, isso sim, sempre tive, desde que comecei a fazer política, como diz, "há mais de 65 anos". Deveres para com a minha consciência e para com a minha Pátria, que para mim nunca foi uma flor de retórica, mas antes um imperativo moral que me conduziu à política. Sempre considerei a política como uma actividade nobre, talvez a mais nobre de todas, desde que exercida desinteressadamente, ao serviço da comunidade e das ideias que julgo melhores para Portugal.
Para além de sempre ter lutado pela liberdade, como reconhece - 32 anos antes e 33 depois do 25 de Abril, naturalmente em condições muito diferentes -, lutei contra a ditadura fascizante que nos oprimiu, contra o colonialismo, que nos custou, sobretudo após 1961, tantas humilhações e tantas vidas, tão inúteis, lutei e luto pela paz, pelo bom entendimento entre os Estados e as pessoas, sem discriminações, pela Europa, como uma entidade supranacional, e, no plano cultural, contra o obscurantismo, o dogmatismo, o espírito inquisitorial e contra todas as formas de intolerância.
Além de lutar pela liberdade, também sempre lutei em favor da justiça social e contra as profundas desigualdades que afligem, cada vez mais, as nossas sociedades ocidentais, para não falar das outras. Por isso sou socialista, não totalitário, partidário de um sindicalismo livre e do mercado, mas também de um Estado interventivo e justo que impeça e corrija, tanto quanto possível, as grandes desigualdades que o mercado, entregue a si próprio, sempre gera. Foi a isso que chamei, no Verão quente de 1975, socialismo em liberdade, para o diferenciar doutros modelos então em moda. Deve lembrar-se.

Sou liberal, no sentido político do termo, mas não no sentido económico. Nesse plano, sou profundamente crítico do chamado neoliberalismo e da globalização neoliberal que estão a arrastar o Ocidente e o mundo para um desastre fatal, que tenho esperança possa ser invertido, in extremis, a curto prazo. Sou crítico também da chamada democracia liberal, expressão nada inocente, que se tornou muito vulgar após o colapso do comunismo, para a impor como modelo urbi et orbi e a contrapor à democracia social, que deu os "trinta gloriosos anos" de progresso à Europa escandinava e ocidental (CEE).
É esta a minha posição, coerente comigo próprio, que, julgo, tanto lhe desagrada, e o leva, creio, a não querer compreender algumas minhas respostas ao Diário Económico, aliás no seguimento de outras que dei antes e dos artigos que regularmente escrevo, na imprensa portuguesa e estrangeira.
Quanto aos "tiques autoritários" do actual Governo. Lamento decepcioná-lo, mas não são mais do que isso, pequenos tiques. Querer empolá-los, comparando-os às arbitrariedades dos anos sem luz do fascismo, não só representa um inaceitável exagero como um dislate que compromete, por desafiar o senso comum.

Quanto ao problema das liberdades formais a que - diz - não atribuo importância, também está enganado. Salvo erro, fui dos primeiros a levantar essa questão, entre nós, nos anos
de brasa de 1974-75. Disse e escrevi então que as liberdades ditas formais, como a gíria marxista as classificava para lhes tirar importância, são essenciais. Porque sem respeitar as liberdades formais, as substanciais, que têm a ver com o bem-estar das pessoas, perdem muita eficácia e valor, como se viu.
Encerrar uma televisão para calar uma voz incómoda é intolerável. Estou de acordo consigo. Mas não foi esse o caso. Chávez limitou-se a não renovar uma concessão estatal, quando terminou a respectiva concessão, por fazer incitações à violência. O que é muito diferente. Sobretudo quando o Estado em questão foi já vítima de uma tentativa (frustrada) de golpe de Estado violento e o respectivo Presidente eleito, democraticamente, foi sujeito a uma tentativa (também frustrada) de assassinato.
Creia que para mim todos os ditadores são maus. Não gosto de ditadores. Mas não há uns bons e outros maus, consoante estão a nosso favor ou contra, no plano geoestratégico.
Quando tive responsabilidades políticas falei, obviamente, com muitos ditadores, que remédio. Numa escala de zero a vinte, acho que os encontrei de todas as naturezas. Dos chefes de Estado do Brasil, no tempo dos generais, a Mobutu ou a Kadhafi (hoje completamente branqueado), de Ceausescu a Tito ou Gromiko. Um homem político não pode ser nem vestal nem moralista. E falar - como é óbvio - não é mal que se pegue... Nem sequer com terroristas, se necessário. Veja como o seu admirado Bush tem falado, por interposta Condoleezza Rice, com todos quantos lhe parecem necessários, pertençam ou não ao "eixo do mal". No Iraque, no Afeganistão, no Paquistão, na Coreia do Norte, no Irão...

Ocaso de Putin - e da Rússia - é mais sério e grave, porque, muito provavelmente, a Rússia vai alinhar - e oxalá o faça - numa parceria estratégica com a União Europeia. A Rússia foi humilhada e menosprezada, após o colapso do comunismo. Não deveria ter sido. Com Putin, quer se goste ou não, voltou a ser uma grande potência mundial, com a qual não se deve brincar aos mísseis. A menos que sejamos tão insensatos que queiramos atirar a Rússia, contra os nossos interesses, para o triângulo estratégico que pode vir a desenhar-se na Ásia: China, Índia, Rússia. Já pensou nessa eventualidade?
Finalmente não será inútil concluir com Bush, o flagelo maior deste nosso conturbado início de século. Acusa-me de ser antiamericano com a mesma sem razão com que outros (talvez mesmo o Senhor Director, não me lembro bem), no Verão quente de 1975, me acusavam - crime nefando! - de ser pró-americano.
Não. Não sou antiamericano. Não sou, de resto, contra nenhum povo. Sou contra as políticas de certos dirigentes, quando as considero nefastas e perigosas. Foi o caso de George W. Bush, cuja política denunciei - lembra-se disso - antes de ter invadido o Iraque. Medite agora nas consequências desse crime fatal. Pois bem, hoje cerca de 80 por cento dos americanos são críticos severíssimos de Bush e lutam desesperadamente por encontrar uma saída para o terrível imbróglio criado por ele. Não só para os EUA mas para todo o Ocidente, com destaque para o impasse em que tem permanecido a União Europeia, devido à subserviência e falta de coragem de bastantes dos seus dirigentes.

Permita-me que termine revelando-lhe o meu actual estado de alma. Estou muito pessimista quanto ao futuro próximo do mundo. Tudo vai mal. No plano político, desde logo, como hoje é evidente. Mas também no plano financeiro, onde os sinais de uma crise séria generalizada começam a multiplicar-se e a tornar-se muito preocupantes. Para não falar nas questões ambientais e na crise de valores que afecta, como nunca, o Ocidente.
Sabe donde julgo pode vir alguma razão de esperança? Vou surpreendê-lo. Precisamente da América do Norte, terminada a era Bush. Tudo vai ter de mudar, radicalmente, na substância e na forma. Seja qual for o novo presidente. E, com um pouco de sorte, poderá vir alguém capaz de redescobrir o velho pioneirismo e idealismo americano, na linha de um Wilson, de um Roosevelt, mesmo de um Eisenhower (quando teve a coragem de negociar a ameaça do complexo político-militar) ou de um Kennedy, da "nova fronteira". Alguém capaz de redescobrir, pela força das circunstâncias, o way of life americano, os velhos valores da solidariedade, da paz e da utopia, para represtigiar a América no mundo, ajudar a União Europeia a sair do impasse, dar força e sentido às Nações Unidas, lutar a sério, e sem retórica vã, contra a miséria e as pandemias que alastram no mundo, em favor de um ambiente são, dos direitos humanos, da liberdade e da justiça social.
Aceite, senhor director, os cumprimentos deste "ancião", que tende a ser visto como "a voz avisada, cheia de energia e experiência", para usar as suas próprias palavras.

Mário Soares, Ex-Presidente da República
in Público, 15 de Agosto de 2007


andré

terça-feira, agosto 14, 2007

Ser português… I

A propósito de uma interessante discussão a decorrer num blog aqui da vizinhança, apeteceu-me começar a escrever sobre algumas das características que nos distinguem, que nos tornam únicos, que fazem de nós Portugueses.
Porquê? Porque sim.

Se há característica que quase todos nós (portugueses) partilhamos é a dificuldade em sermos críticos. Confundimos com muita frequência crítica com opinião ou com avaliação negativa.
Adoramos dar opiniões, ou melhor, nós adoramos fazer com que os outros nos ouçam. Por isso interrompemos muitas vezes o discurso de quem fala, ou elevamos a nossa vós em relação à dos outros. Devido à ausência histórica de espaços públicos de discussão, a emissão de opiniões é uma urgência diária para cada português. Aliás, a minha ansiedade em escrever este post é reveladora disso mesmo.

A crítica é um acto de grande responsabilidade que exige estudo e reflexão sobre aquilo que se quer ou se acha relevante dizer. Ora o nosso discurso é muito mais marcado pela inspiração do que pela reflexão. E a maioria de nós não lê ou reflecte com profundidade de modo a formar uma opinião ou elaborar uma crítica. Fala com alguém cuja opinião respeita, e a partir daí, replica-a, quase sempre de forma indiscriminada.

A falta de preocupação com a consistência é particularmente evidente no Desporto, onde todos/as somos especialistas. Mas também o é na arte, na política, ou em qualquer outra área onde a subjectividade é maior.
Para os portugueses quase tudo é relativo, e como tal, é muito difícil de se provar ou demonstrar seja o que for. O Iluminismo não chegou ás nossas cabeças. Chegou sim às prateleiras, onde foi devorado e repetido, tal qual a retórica religiosa, que se ouvia e não se podia questionar.
Aqui reside a causa de uma das nossas instituições mais acarinhadas, o estatuto, que no nosso caso está relacionado com a posição social de quem opina ou critica, e não com o seu saber ou com a relevância da sua contribuição para o bem comum (o conceito de bem comum é quase desconhecido e como tal muito pouco respeitado).

Como quase ninguém sabe profundamente do que fala, para ser ter discípulos em Portugal não interessa ser consistente ou coerente. Tem é que se ser convincente e carismático. Não interessa tanto se aquilo que diz é correcto ou incorrecto, interessa é que soe bem, que seduza a audiência. Não é por acaso que na nossa história não há muitos filósofos ou cientistas. Temos sim muitos líderes, quase todos popularizados mais pela sua autoridade e menos pelas suas ideias.
E temos muitos poetas. Muitos. E ainda bem.

Não se pense que os nossos intelectuais são imunes a este fenómeno. Bem pelo contrário, são o seu espelho mais perverso. Como emitir opiniões sustentadas ou fazer críticas justas é pouco valorizado, alguns elementos desta classe de cidadãos dedicam-se geralmente ao exercício de opressão através da inteligência, isto é, em vez de tentarem partilhar o seu conhecimento, usam-no para evidenciar a ignorância dos outros, e para exibir a sua pretensa superioridade intelectual.
Uma vez que o conteúdo da crítica ou da opinião é quase sempre menos importante do que o estatuto a emite, a muitos dos intelectuais cristaliza ao fim de pouco tempo, o que só pode acontecer devido à falta de pessoas que os confrontem, ou seja, porque as coisas mudam pouco ou mudam muito devagar.

Eu acredito que as circunstâncias da nossa história favoreceram este estado de coisas. O nosso isolamento geográfico e a reduzida interacção (seja por invasões ou disputa do território) da maioria da população com outros povos e outras culturas (os árabes são anteriores à formação do pais, e os espanhóis são muito parecidos connosco), favoreceu todos aqueles que quiseram manter tudo na mesma e todos aqueles que não quiseram mudar.
Os descobrimentos, que podiam ter servido para abrir muitas cabeças, evidenciaram-se mais por aquilo que fizemos aos outros e não tanto pela influência que outros tiveram em nós. O país ficou igual apesar de África, da Índia, ou do Brasil.

Não creio haver mal algum em se ser displicente, incoerente, ou impulsivo nas opiniões que se emite ou nas críticas que se faz. Mas, como é óbvio, há que reconhecer que isso não torna ninguém mais inteligente ou conhecedor, bem pelo contrário.
Apesar de tudo, fascina-me a nossa liberdade face à razão. A forma consistente e constante como exercitamos a nossa incoerência. É assim, ponto final. E não há mais discussão.
É útil na poesia, ou no fado, onde os sentimentos e as emoções não necessitam justificação nem explicação. São só e tudo aquilo que interessa.
É um tema interminável para o humor, como o Herman José o demonstrou ao longo dos anos 80, e tal como o Gato Fedorento não se cansa de evidenciar na actualidade.
E é também um óptimo exercício, sobretudo para fugir a tentativas de normalizar e industrializar a forma como pensamos.
Mas nós estamo-nos a marimbar para a utilidade de tudo isto. Só queremos é fazer aquilo que nos dá na cabeça.


andré

sexta-feira, agosto 10, 2007

Saudades




if i told you things i did before
told you how i used to be
would you go along with someone like me
if you knew my story word for word
handled all of my history
would you go along with someone like me

i did before and had my share
it didn't lead nowhere
i would go along with someone like you
it doesn't matter what you did
who you were hanging with
we could stick around and see this night through

and we don't care about the young folks
talkin' bout the young style
and we don't care about the old folks
talkin' 'bout the old style too
and we don't care about our own folks
talkin' 'bout our own stuff
all we care about is talking
talking only me and you

usually when things has gone this far
people tend to disappear
no one would surprise me unless you do

i can tell there's something goin' on
hours seem to disappear
everyone is leaving i'm still with you

it doesn't matter what we do
where we are going to
we can stick around and see this night through

and we don't care about the young folks
talkin' bout the young style
and we don't care about the old folks
talkin' 'bout the old style too
and we don't care about our own folks
talkin' 'bout our own stuff
all we care about is talking
talking only me and you

and we don't care about the young folks
talkin' bout the young style
and we don't care about the old folks
talkin' 'bout the old style too
and we don't care about our own folks
talkin' 'bout our own stuff
all we care about is talking
talking only me and you
(repeat)
talking only me and you

talking only me and you
talking only me and you


Young folks
Peter, Bjorn and John
Álbum Writer's Block


andré

sábado, agosto 04, 2007

terça-feira, julho 31, 2007

Tributo




É assim que me lembro do Blow up.
A imagem pouco nítida a que ficamos reduzidos
no final. Nada é o que parece, mesmo (ou talvez
sobretudo) através das lentes de um bom fotógrafo.
E a beleza dos planos. E o charme da Vanessa Redgrave.
Não é dos meus filmes preferidos. Mas não me
consigo esquecer dele.

Foi o primeiro dos dois filmes que vi do Antonioni.
O Para além das nuvens não me entusiasmou tanto.
Mas a procura da beleza em tudo o que se mostra…
…essa estava lá também.

Se tudo correr bem, na próxima semana vou
preencher uma grande lacuna. Vou ver o Sétimo
Selo
, que será o meu primeiro Ingmar Bergman.

Entretanto, espero que não morra mais ninguém.


andré

segunda-feira, julho 30, 2007

domingo, julho 29, 2007

O meu Domingo



"San Gerolamo nello studio"
Antonello da Messina (1430-1479)


National Gallery, Londres


evva

sábado, julho 28, 2007

Obituário


Estou de luto*. O meu picador de gelo morreu ontem. Exaustão. Horas e horas a contribuir para a felicidade da cultura ocidental em intermináveis brindes. "À nossa", "ao Alberto João", "aos alemães que nunca mais chegam e se perderam no metro", "ao arroz de marisco", "e os gémeos polacos?", "aos jornalistas belgas", "à Clara, que atura festas de adultos sem se queixar", "aos alemães que finalmente chegaram (por acaso a rapariga é Croata)", "à Zita Seabra", "aos controleiros", "à União Ibérica", "Independência ou morte!", "ao Camané", "à bola de bacalhau", "aos galegos", "pim-pam-pum, cada bola mata um, lá em cima no Huambo...", "aos filófosofos libaneses", "ao bolo de mousse de chocolate", "às caipirinhas do Wouter", "aos Buraka Som Sistema", "e o gelado de lima?", "aos melhores amigos do mundo!". R.I.P..

evva

*Felizmente, a partir de terça-feira já posso adquirir o herdeiro. Temos de marcar a próxima festa para celebrar.

quinta-feira, julho 26, 2007

Banda sonora de um Verão inesquecível II



Pensar em você
(Chico César)

É só pensar em você
Que muda o dia
Minha alegria dá prá ver
Não dá prá esconder
Nem quero pensar
Se é certo querer
O que vou lhe dizer
Um beijo seu e eu vou só
Pensar em você

Se a chuva cai
E o sol não sai
Penso em você
Vontade de viver mais
E em paz com o mundo
E comigo

[Se a anterior 'Banda sonora de um Verão inesquecível' homenageava as viagens empoeiradas a caminho da Samouqueira, tão empoeiradas que ninguém conseguia adivinhar a cor do bólide, este tema de Chico César animou intermináveis discussões filosóficas sobre as potencialidades de janelas descidas e cabelos ao vento relativamente ao ar condicionado, por entre lagoas e vulcões adormecidos, sempre com a recomendação avisada de 'se uma vaca aterrar em cima do carro, arranquem-lhe o selo da orelha, ou não me pagam os estragos!', o que nos obrigou a conduzir constantemente de nariz no ar, com receio de ameaças bovinas caídas do céu. Manias...]


evva

Bang Bang...

A preparar visita ao novo Tarantino ao som do anterior:



I was five and he was six
We rode on horses made of sticks
He wore black and I wore white
He would always win the fight

Bang bang, he shot me down
Bang bang, I hit the ground
Bang bang, that awful sound
Bang bang, my baby shot me down.

Seasons came and changed the time
When I grew up, I called him mine
He would always laugh and say
"Remember when we used to play?"

Bang bang, I shot you down
Bang bang, you hit the ground
Bang bang, that awful sound
Bang bang, I used to shoot you down.

Music played, and people sang
Just for me, the church bells rang.

Now he's gone, I don't know why
And till this day, sometimes I cry
He didn't even say goodbye
He didn't take the time to lie.

Bang bang, he shot me down
Bang bang, I hit the ground
Bang bang, that awful sound
Bang bang, my baby shot me down...


evva

P.S.: I always shoot people down, I know. Não consigo evitar, está-me no sangue taurino.

quarta-feira, julho 25, 2007

Banda sonora de todas as estações



evva

O admirável "Plano Tecnológico da Educação"

«Jornalista: Sabes o que é que estás aqui a fazer?
'Aluno': Chamaram-me para uma publicidade - uma agência - e estou aqui, agora.

No mínimo, brilhante. Assisti, num misto de estarrecimento pré-comatoso e incredulidade delirante (a caminho da baba), à reportagem do lançamento do Plano Tecnológico da Educação (juro que é ipsis verbis). Um momento de ouro da SIC-Notícias. Graças à inspirada verve da repórter e à rara circunstância de observarmos José Sócrates sem rede e em postura coloquial, assisti, pela primeira vez na televisão, à queda de um mito. Entregue a si mesmo e ao seu sorriso de laca, o nosso Primeiro caiu do pedestal de enfatuamento saloio a que se habituou a dirigir-se aos «portugueses e às portuguesas». E caiu estrondosamente. Um estrondo mudo proveniente de uma performance penosa, quase aviltante. Foi patética a forma como José Sócrates reagiu atrapalhadamente às perguntas do jornalista, revelando uma plastificante falta de à-vontade e um sub-reptício enfado por certo tipo de perguntas lhe estarem a ser dirigidas - ao invés das perguntinhas da praxe que mais não passam do que deixas para um discurso pré-fabricado e pré-formatado.

Desassombradamente e de forma profissional, a jornalista soube ardilosamente desmontar a farsa – não só os alunos eram fictícios, contratados por uma agência, como tudo aquilo tresandava a show-off propagandista – e contar a história. Mas o facto da história ser mais do mesmo – propaganda barata sobre temas sérios elevados a utopias à lá Aldous Huxley – não me preocupa. O que me preocupa é eles – primeiro-ministro, ministros e responsável pelo emblemático Plano Tecnológico – acreditarem naquilo. O que me preocupa é eles acreditarem piamente que são aqueles meios – que supostamente corrigirão a mão azelha do professor que ao tentar desenhar um equilátero no quadro de ardósia lhe sai um T0 na Musgueira – que irão melhorar o ensino em Portugal. Pensar que são aqueles écrans espalhados pela sala de aula - mais o quadro mágico que desenha as figuras geométricas na perfeição, mais o programinha que indica logo quantos erraram - que irão resolver os problemas do ensino e substituir a «escola do passado» pela «escola do futuro». Pensar que a «escola do futuro» é aquilo. Um dos mais brilhantes professores que encontrei no antigo Preparatório, e em toda a minha vida, dava aulas de matemática num quadro de ardósia. Ali, na André de Resende (em Évora). Tinha uma caligrafia horrenda e um jeito para o desenho equivalente ao do Dr. House para a diplomacia. Era desajeitado e desorganizado. Odiava calculadoras. E, contudo, ensinou-me matemática como mais ninguém. E ensinou-me a gostar de matemática – mania que eu ainda hoje cultivo e aprecio. É inútil e escusado explicar isto ao Sr. Primeiro-Ministro e à Sra. Ministra da Educação. Pelo que se viu na reportagem, estúpido, até.


Carlos do Carmo Carapinha»

(via 31 da armada; sublinhados meus)

evva

terça-feira, julho 24, 2007

Banda sonora de um Verão inesquecível



[é o que dá estar submersa em trabalho com um sol maravilhoso e ameno a convidar-nos a outras paragens...]

evva

Deixa-me cá ver se eu compreendi

"Mulheres que querem fazer um aborto têm que ser atendidas em cinco dias, quando uma consulta de ginecologia pode demorar meses"

in Público, 23.07.2007, pag. 12.


Pois… Eu juro que entendo o problema, e a posição aparentemente radical do governo.
…mas ao fim de 9 meses já não vale a pena ter consulta, pois não?


andré

segunda-feira, julho 23, 2007

A não perder




Anna (Nina Kervel-Bey), protagonista de La Faute à Fidel, a minha heroína* do momento.

evva

*Reparem no pormenor da laranja descascada de faca e garfo. Adorável.

quinta-feira, julho 19, 2007

En Barcelona


Músico na catedral



Bairro gótico


Sagrada familia


Companhia de Gás


Casa Milà / La Pedrera


Fontes do Palau Montjuic


Parque Guell


Ensaio das Women Sing na igreja de Santa Maria de Pi


Panorâmica a partir do parque Guell


andré