domingo, julho 30, 2006

Acabei de ler Orientalismo…



Desde que, por alturas do 11 de Setembro, soube da existência deste livro, através de uma entrevista com o autor no Público, que me ficou a vontade de o ler. Hoje terminei-o.
É sempre um motivo de regozijo quando uma obra me põe a pensar sobre as coisas e sobre a sua origem. Essa é, para mim, a sua grande virtude. Porque não é apenas a complexidade do problema que se torna relevante mas também a metodologia utilizada que vai, ela própria, influenciar a leitura e compreensão da tese que se visa defender.

Não posso deixar de manifestar alguma raiva perante o facto de o autor deste livro se ver na necessidade de produzir uma obra tão extensa e tão profunda para tornar inteligivel uma ideia que fica, para alguns, clara logo nas primeiras páginas. Não porque não seja necessário faze-lo mas porque só assim se consegue ser respeitado num ambiente onde as ideias dominantes são diferentes daquelas que o livro defende.

Resumindo e concluindo, é como se, para contrariar um discurso tão simples como o de George Bush em torno do "Eixo do Mal", um intelectual nos dias de hoje, tivesse que escrever um livro de 400 páginas em torno das assumpções que estão detrás da política externa americana em geral, e desta administração em particular. E porque bombardear a Casa Branca está fora de questão.

andré


PS: Para os que se sentem à vontade no inglês, recomendo esta edição de 2003 da Vintage Books que tem um novo prefácio do autor e mantém o epílogo de 1994. De qualquer forma, o livro foi editado em português pela Cotovia em 2004.

… e deixei de assinar o Economist





Sempre preferi as experiências orientadas, que visam a autonomia e a independência intelectual de cada um. Infelizmente esta não é a vocação desta respeitada revista semanal cuja honestidade e rigor respeito e admiro. Por outro lado, é cada vez mais claro para mim que a Economia não é (nem alguma vez terá sido) o principal orientador da vida dos países e das pessoas. Enfim… tenho de procurar um subsituto. Se alguém quiser dar uma ajuda…

andré

sábado, julho 29, 2006

Eu bem me parecia…

"O cristão e o comunista são muito próximos em muitos aspectos só que o cristão tá pensando nessa vida maravilhosa após a morte e o comunista quer ver essa vida aqui, agora."

Lenine (o músico) , em mais uma entrevista Pessoal e Transmissivel de Carlos Vaz Marques na TSF, disponivel em Podcast em http://www.lusocast.com ou http://www.tsf.pt


andré


PS: O meu pai dizia que Jesus tinha sido primeiro comunista na terra. A partir de determinada altura, eu passei a perguntar-me se não seriam os comunistas os apóstolos da nossa contemporaneidade. Aquela frase do Marx de que a religião era o ópio do povo devia ser um recalcamento qualquer.

quinta-feira, julho 27, 2006

Joana & Michel

(na manifestação contra a guerra israelo-libanesa, ontem, no Porto;
foto publicada no JN de hoje)

Há meses que acompanhamos este amor lindo, que sofremos com eles a angústia da separação e da distância, que seguimos com ansiedade as notícias que se sucederam aos primeiros bombardeamentos, no dia exacto em que Michel concluía o seu Master of Philosophy na Universidade Americana de Beirute, que vivemos o desespero da Joana enquanto o Michel não conseguia fugir de Beirute, que partilhamos as lágrimas de alegria quando o soubemos são e salvo em Amã, que ouvimo-lo horrorizado relatar, quando finalmente aterrou no Porto, como um helicóptero israelita sobrevoou a sua vizinhança, na zona cristã de Beirute, e muito perto de sua casa disparou três mísseis na direcção do porto de Beirute e se retirou lentamente e foi bombardear um aquartelamento do exército libanês, «como se fosse a coisa mais natural do mundo», que escutamos com um nó na garganta o relato extraordinário da sua fuga por estradas secundárias constantemente bombardeadas pela aviação israelita, «o taxista conduzia em semi-círculos sem praticamente olhar para a estrada, com os olhos fixos no céu a observar o movimento dos aviões israelitas e a direcção dos mísseis», e, por muito que discordemos da legenda do cartaz, não conseguimos deixar de sentir um grande orgulho e de torcer para que o Michel possa voltar quanto antes para o país a desmoronar-se que deixou para trás ou que a sua família possa sair pacificamente do Líbano para visitar este país à beira-mar alheado e regressar à Beirute natal sem nada temer. Porque, ao contrário do que por aí se apregoa, há libaneses que odeiam visceralmente o Hezbollah e a Síria, por muito que a imagem permita conjecturar o oposto.

evva e mariaşi

O medo da novidade

"Os povos têm um instinto que tenta impedir que não se desvirtue aquilo que amam. Quando vêem que coincide com a sua alma, então aceitam-no."

Horácio Ferrer a propósito das inovações introduzidas no Tango por Astor Piazzolla, em mais uma entrevista Pessoal e Transmissivel de Carlos Vaz Marques na TSF, disponivel em Podcast em http://www.lusocast.com ou http://www.tsf.pt


andré

segunda-feira, julho 24, 2006

Todos muito zangados, árabes e não só


Tem sido dificil arranjar tempo para escrever alguma coisa sobre o que se está a passar no médio oriente, ou melhor dizendo sobre a agressão bárbara e repugnante que Israel (se não com o apoio declarado dos States, pelo menos com a sua conivência) mantém sobre o Libano.

À falta de palavras minhas ou do Michel, reencaminho-vos para este blog: http://angryarab.blogspot.com/

E fica a promessa de comentar o assunto em breve.

Joana

quarta-feira, julho 19, 2006

A legitimação da violência

Na passada segunda-feira, enquanto antecipava os títulos dos jornais britânicos do dia seguinte, a estação televisiva SKY News destacava a foto do jornal inglês The Guardian que descrevia de forma impressionante a devastação que a força aérea israelita tinha causado em Beirute, a capital do Líbano. Na tarde do dia seguinte, a mesma estação cobria o sofrimento da mãe de um dos soldados israelitas raptados e destacava os mortos no ataque do dia anterior à estação de comboio de Haifa, bem como o ambiente de tensão e de medo que se vivia naquela cidade, que pelas imagens parecia ainda de pé.

Na terça-feira vi o presidente da Comissão Europeia a pedir ao Hezbollah, mas não a Israel, o cessar imediato da sua actividade militar. Vi o jornal Público a fazer manchete com o ataque à estação de comboio de Haifa e a deixar para segundo plano a destruição do Líbano, e vi eurodeputados do PS, do BE, e da CDU a exigir uma posição da UE contra o ataque de Israel, enquanto o deputado do PSD, um respeitado intelectual, defendia a posição vigente.

Hoje, quarta-feira, o primeiro-ministro britânico afirmou no parlamento que enquanto as condições obrigatórias para o cessar fogo (de Israel) não estiverem cumpridas, ou seja enquanto o Hezbollah não parar a sua acção militar, nada de novo vai acontecer, ou seja, Israel não vai ter de parar os bombardeamentos.

Esta situação é aparentemente simples para muitos dos que estão a ler este texto, pois Israel é a vítima óbvia de uma organização terrorista que todos condenamos. Israel representa para muitos um pedaço do Ocidente (seja lá o que isso for) no meio de um conjunto de Estados subdesenvolvidos que representam ou estão associados ao Eixo do Mal (?!…).

A agressão de Israel não é terrível apenas pela enorme desproporcionalidade de recursos militares, ou pelo ataque a bairros cristãos, ou pelo morte de civis, ou pela devastação de um país que já estava a conseguir dar a volta por cima depois de uma guerra longa.
O que choca é que estes ataques fazem parte de um projecto militar de larga escala a partir do qual o Estado Judaico pretende eliminar todas as potenciais ameaças à sua existência. E porquê? Talvez porque o seu principal aliado, os EUA, pense da mesma forma em relação à sua política externa. É pra deitar tudo abaixo! Iraque, Líbano, quem sabe até o Irão e a Coreia do Norte e, se for necessário, a Síria.

Quanto à foto do The Guardian, talvez fique no top do ranking de um qualquer concurso internacional de fotojornalismo onde será abraçada com choque e muita admiração.

Já agora, e para que se saiba, há cerca de 300 mortos libaneses. Israelitas cerca de 25. Israel ainda está de pé. O Líbano já não.

andré

terça-feira, julho 18, 2006

Boa sorte Israel…

Caro/a leitor/a,

Peço-lhe o favor de me acompanhar neste raciocínio:

1. O Estado de Israel existe e assim vai continuar, por muitas e variadas razões, e não estou em crer que nenhuma força seja capaz de o destruir. Actualmente, o seu primeiro ministro está preso a uma politica que nada trará de bom para o seu país, oriunda de um homem que já nem sequer existe politicamente.
2. Os movimentos terroristas que surgiram contra Israel vão continuar a existir, por muitas e variadas razões, enquanto o mote da sua existência se mantiver e, sobretudo, enquanto a revolta das populações contra os actos de Israel lhes continuar a garantir novos militantes e recursos para combater. A vitória do Hamas e do Hezbollah em eleições democráticas aparece porque, por muito que nos choque, quando estamos entre a parede e o abismo escolhemos a segunda alternativa.
3. Os EUA vão continuar a apoiar Israel, por muitas e variadas razões, mas vão tentar acalmar o Médio Oriente por forma a não aumentar ainda mais a desgraça que criaram no Iraque onde o resultado foi o aumento do poder e influência de toda a corrente radical anti-americana (eu arrisco dizer anti-ocidental). Creio que depois de duas torres, os rapazes não aguentariam ver um avião ou um qualquer engenho explosivo deitar abaixo mais um símbolo do seu país e da sua cultura.
3. A Rússia e a China não têm muito que dizer a não ser que ninguém pode fazer mal ao Irão, pois afinal ele fornece petróleo e sabe-se lá mais o quê, recebe o dinheiro e não faz perguntas.
4. O primeiro ministro Iraniano continua a berrar mais alto do que a elite religiosa do seu país contra os Americanos e contra Israel, o que lhe dá popularidade e força política, uma vez que, para o manterem sossegado, os clérigos Iranianos alguma coisa lhe terão de dar em troca. Convenhamos, ninguém no Irão quer uma guerra contra os Americanos ou contra Israel.
5. A Europa está entalada entre o dever de solidariedade aos Americanos e Israelitas e o dever de cordialidade aos Chineses e aos Russos.
6. A ONU nada mais pode fazer, pois o Conselho de Segurança está preso perante este exercício global de Real Politik.

Num ambiente de cortar a respiração, uma solução da paz negociada podia ser aquilo que todos queriam, mas a memória recente do destino de Yitzhak Rabin elimina toda a esperança de que a paz possa surgir, quanto mais sobreviver, a partir de Israel.

A pergunta que fica é: quantos mais Líbanos terão de ser destruídos até que a paz possa regressar, nem que seja só por um bocadinho?

andré


PS: na passada sexta-feira, dia 14, no Expresso da Meia-Noite da SIC Notícias, a prof.ª Manuela Franco dizia que talvez o problema esteja na assumpção ocidental de que o conflito Israelo-Árabe se tem de resolver…
Tal como a droga, a prostituição, e outros males endémicos do nosso mundo, este parece ser um problema com o qual se tem de ir lidando. É triste não é?

segunda-feira, julho 17, 2006

Ah, Zizou!




(via Tomar Partido)

evva

Autre éventail

(El Abanico Rojo, Soledad Fernandez)

[Eis um poema da mulher de Mallarmé dedicado ao mais precioso dos objectos. É o próprio 'éventail' que aqui assume a voz, desejando que a sua interlocutora não cesse de agitá-lo e com ele 'frissonner l'espace', que se anima graças ao seu movimento contínuo. É o que mais precisamos neste momento, que uma frescura de crepúsculo nos beije. Incessantemente. ]

O rêveuse, pour que je plonge
Au pur délice sans chemin,
Sache, par un subtil mensonge,
Garder mon aile dans ta main.

Une fraîcheur de crépuscule
Te vient à chaque battement
Dont le coup prisonnier recule
L'horizon délicatement.

Vertige! voici que frissonne
L'espace comme un grand baiser
Qui, fou de naître pour personne,
Ne peut jaillir ni s'apaiser.

Sens-tu le paradis farouche
Ainsi qu'un rire enseveli
Se couler du coin de ta bouche
Au fond de l'unanime pli!

Le sceptre des rivages roses
Stagnants sur les soirs d'or, ce l'est,
Ce blanc vol fermé que tu poses
Contre le feu d'un bracelet.


Madame Mallarmé


[evva]

domingo, julho 16, 2006

MES DAMES ET MESSIEURS, THE 2006 SUMMER HIT:

Qual Floribela, qual carapuça! Qual GNR, qual inferno reciclado! A música de Verão c'est La Danse du Coup de Boule. As rádios portuguesas, habitualmente vendidas às editoras, ainda não o descobriram, mas na blogosfera não pára de tocar. Para ouvir e dançar sem descanso. À sombra.

LA DANSE DU COUP DE BOULE
(clicar para ficar viciado)


Coup de boule, coup de boule
Coup de boule à droite
Coup de boule, coup de boule
Coup de boule à gauche
Allez les bleus!
Allez!

Zidane il a frappé, Zidane il a tapé
Coup de boule
Zidane il a frappé, Zidane il a tapé
Coup de boule
Zidane il a frappé, Zidane il a tapé
Coup de boule
Zidane il a frappé, Zidane il a tapé
Coup de boule

Le rital il a eu mal
Zidane il a frappé
L'italien ne va pas bien
Zidane il a tapé
L'arbitre l'a vu à la télé
Zidane il a frappé
Mais la coupe on l'a ratée
On a quand même bien rigolé

Zidane il a frappé, Zidane il a tapé
Coup de boule
Zidane il a frappé, Zidane il a tapé
Coup de boule
Zidane il a frappé, Zidane il a tapé
Coup de boule
Zidane il a frappé, Zidane il a tapé

Trézéguet n'a pas joué
Quand il a joué il a raté
Il a tout fait capoter
La coupe on l'a ratée
Barthez n'a rien arrêté
C'est pourtant pas compliqué
Les sponsors sont tous fâchés
Mais Chirac a bien parlé

Zidane il a frappé, Zidane il a tapé
Coup de boule
Zidane il a frappé, Zidane il a tapé
Coup de boule
Zidane il a frappé, Zidane il a tapé
Coup de boule
Zidane il a frappé, Zidane il a tapé

Attention, c'est la danse du COUP DE BOULE!

Coup de boule, coup de boule
Coup de boule à droite
Coup de boule, coup de boule
Coup de boule à gauche
Coup de boule, coup de boule
Coup de boule avant
Coup de boule, coup de boule
Coup de boule arrière
Coup de boule, coup de boule
Et maintenant penalty
Attention il va tirer1, 2, 3,
c'est raté!

Zidane il a frappé, Zidane il a tapé
Zidane il a frappé, Zidane il a tapé
Zidane il a frappé, Zidane il a tapé
Zidane il a frappé, Zidane il a tapé

On a quand même bien rigolé
Zidane et Trézéguet
La coupe on l'a ratée
Zidane et Trézéguet
On a quand même bien rigolé
Zidane et Trézéguet
La coupe on l'a ratée
Zidane et Trézéguet
Et Trézéguet
Et Trézéguet
Et Trézéguet, guet, guet
Et Trézéguet
Coup de boule, coup de boule
Et Trézéguet
Coup de boule, coup de boule
Et Trézéguet
Coup de boule, coup de boule
Et Trézéguet
Coup de boule, coup de boule
Guet, guet
Et Trézéguet

(via ::::autopsicografia:... Merci, Mariana!)

evva

quinta-feira, julho 13, 2006

Which Horrible Affliction are you?

[Um dia ainda vou conseguir perceber como é que estes inquéritos acertam sempre...]

Congratulations, you're rabies!
Transmitted by rabid animals, you're most commonly found infecting creatures such as raccoons, skunks, bats and foxes. But don't worry, you affect humans too, causing either paralysis or hyperactivity in your advanced stages, and ultimately death.
Your most famous symptom is hypersalviation - that delightful foaming at the mouth that we have come to know and indeed love. However, you can also cause hallucination; think of the fun you could have at parties!
If you wish, you can proudly tell the world that you kill dogs with the following fine graphic:

I am Rabies. Grrrrrrrr!
Which Horrible Affliction are you?

evva

quarta-feira, julho 12, 2006

Saudades

O Tour chegou hoje a Pau, a mais bonita cidade em que vivi:


E eu sem um canalzinho cabo que fosse para matar saudades destes recantos. A fonte Vigny no Boulevard des Pyrénees era um dos meus preferidos:


Morei os primeiros meses, de Outubro a Fevereiro, na rue du Parlement, em pleno Quartier du Château onde nasceu Henri IV, o tal que conclui que 'O meu reino vale bem uma missa' e se converteu para poder subir ao trono de França:

Em pleno Quartier du Château. O restaurante da esquerda é o 'Reine Margot', que também enlouqueceu por aqui. Viram o filme de Patrice Chéreau?


O Parc Beaumont. Ainda me lembro de andar por aqui a cantarolar a Carmen, numa altura em que estudava a novela de Prosper Mérimée em que Bizet se inspirou.


Até sempre.

evva

Sem perdão

Até eu era incapaz de me ficar se ouvisse uma coisa destas. Estás desculpado, Zizou. On t'aimera pour toujours.

evva

(via nortadas)

Da Finlândia

Ontem à noite, a jantar com um casal de finlandeses, ela professora de História, ele a terminar o Doutoramento, dissertávamos sobre a 'a miragem finlandesa' de José Sócrates e os vícios e virtudes e de tal comparação quando Mikko sentenciou a conversa:
- Podemos ser o país com maior nível educacional, mas nada disso nos faz felizes. Temos uma das mais elevadas taxas de suicídio do mundo.
Ok, pensei. Burros mas felizes. Venha o diabo e escolha.

evva

segunda-feira, julho 10, 2006

Everyone's waiting



for Six Fett Under's last episode tonight. Às 22,30, na 2:.

evva

sábado, julho 08, 2006

Sosseguem as hostes


Afinal O Desejado regressou há muito. Há quase 500 anos que este país suspira pela sua vinda redentora e afinal o esqueleto repousa nos Jerónimos, num túmulo de mármore sobre dois elefantes. Parece que foi um tal Filipe II de Espanha, no ano da graça de 1581, quando andava por aqui a fingir que se interessava, que mandou transladar para Lisboa um corpo que alegava ser do ansiado messias, a ver se punha termo à paranóia sebastianista. Sem sucesso.

Parece-me ser prioritário analisar este monte de ossos em vez dos que descansam em Santa Cruz de Coimbra, a não ser que se queira comprovar d'avantage a ascendência lusa de George W. Embuste. Afinal desde ontem que não como nem durmo desde que ouvi que na sepultura de Damião de Góis foram descobertos os restos mortais de oito imberbes e alguém comentou ser do conhecimento geral que o homem adorava criancinhas...

Estará Portugal preparado para reconhecer que no túmulo do Fundador se guardam os ossos de um qualquer plebeu estropiado? E que no Mosteiro dos Jerónimos se armazena o esqueleto de um equídio?

Porque no fim de contas, meus amigos, toda a gente sabe que o tempo dos redentores da pátria já lá vai e o verdadeiro D. Sebastião jaz actualmente no Palácio de Belém.

evva

sexta-feira, julho 07, 2006



Não te vou cobrar nada.
Apenas quero de ti
alento na caminhada
que escolhi.

O que te dei - não dei.
Apenas te devolvi
parte daquilo que eu sei
que me vem de ti.

Torquato da Luz, no Ofício Diário

evva

quarta-feira, julho 05, 2006

É a vida…



Hoje sinto-me feliz por usar esta frase que tão má impressão nos deu sobre aquilo que somos.
Perdemos como podíamos ter ganho. Mas jogámos até ao fim. Sem baixar os braços. Porque perder também faz parte. Porque é também na derrota que se vêem os campeões.

Para os que estão mais afastados do Desporto eu lembro que nos últimos 10 anos o nosso país já conseguiu ficar entre os 10 melhores (a nível europeu e mundial) no Andebol, no Judo, no Triatlo, no Atletismo (pois com certeza), no Futebol, na Canoagem, no Ciclismo, na Vela, e provavelmente noutras modalidades de que não me recordo agora.

Quando começa a ser frequente chegar ao topo a probabilidade da derrota começa igualmente a ser maior. Mas o importante é não esquecer o que já se conseguiu, pois isso ninguém consegue tirar. Se calhar é por isso que quase nenhum dos jogadores se pronunciou a "quente" sobre a arbitragem (que foi boa). Eles, mais do que ninguém, sabem o que fizeram e o que os Franceses fizeram mais do que eles.
Parabéns a todos.

andré


PS: Será que com as declarações que fez no fim do jogo, a culpar o árbitro, Scolari está a preparar a sua saída?
Eu por mim dava-lhe um grande abraço, pedia ao Prof. Cavaco que o tornasse Comendador, e estendia-lhe uma passadeira vermelha até ao avião a caminho do Brasil.
Vai, vai e não voltes. Foi bom enquanto cá estiveste mas estou farto do teu futebol conservador e da tua avidez ao risco. Junto como o teu colega Parreira, fazes do Futebol uma guerra, retiras-lhe a beleza, e eliminas o jogo. Vai ser dificil suceder-te. Afinal, em 66, foi também com um treinador brasileiro que conseguimos o 3º lugar.

Zizou! Zizou! Zizou!

evva

segunda-feira, julho 03, 2006

Como avaliar os professores malucos?

Um excelente post n'O Mundo Perfeito, que subscrevo na íntegra. Ora leiam:

«Nunca conheci um professor que gostasse de avaliar; é ingrato; quase sempre injusto. Mesmo em ciências exactas é difícil avaliar justamente as aprendizagens. Um bom aluno pode mostrar-se incapaz de realizar um exercício específico, e ter aprendido muito mais do que qualquer outro, globalmente; ser excelente. Por isso, classificações obtidas numa situação de avaliação nem sempre reflectem a aprendizagem realizada. Os professores sabem-no; o ministério sabe-o e, anualmente, emana despachos normativos e circulares inúmeras aconselhando moderação, ponderação, discussão das classificações, que são apenas sugeridas pelos professores das disciplinas, e aprovadas, ou não, pelos conselhos de turma.

É difícil garantir que o aluno da carteira da frente vale exactamente 3 quilos duzentos e cinquenta, e não mais nem menos. A aprendizagem tem portas do cavalo que a avaliação não consegue quantificar. Numa aula, acontece não se aprender o tema da lição, mas outro assunto que não se tinha compreendido antes, no qual não se tinha pensado, ou no qual se vinha pensando sem solução. Faz-se luz de repente. Foi uma aula inútil?
Um bom professor produz este tipo de conhecimento. Flexível. Activo. Crítico. Multidisciplinar. Autosuficiente.

Os alunos de 20 não são necessariamente os mais capazes, mas não é possível negar que sejam quase sempre exemplarmente organizados e disciplinados; cumprem as regras; apresentam soluções convencionalmente certas, mas nem sempre resplandecem, voam. Frequentemente estão presos ao chão com uma cola toda feita de ordem, medo e obediência. Sabem definições de cor. Datas. Fórmulas. Memorizam a gramática de uma ponta a outra, os compêndios chatos, e sabem distinguir conjunção de locução conjuncional. Quase sempre se portam muito bem. Não têm grande sentido de humor. Nem sempre são criativos, mas produzem moeda-classificação. Ouvem-na cair.

Os professores do sistema, sentadinhos na secretária, com seus fatinhos de saia e casaco de fazenda azulinha ou de calça e casaco, cinzentinhos, as mãozinhas brancas de dedo curto com aliança, muito graves e científicos, gostosamente entalados na forma canónica, e incapazes de sair dela, sempre me causaram... borbulhagem.

Gostava dos professores faltistas. Dos que passeavam entre as filas de carteiras enquanto diziam lérias, e a quem chamávamos malucos, mas a cujas aulas íamos com gosto. Daqueles que a gente nem sabia em que parte do programa é que iam.“O que é que o gajo tá a dar?” “Sei lá, deve ser o barroco!” “O barroco não pode ser, que já demos o neo-realismo!”.
Gostava dos que diziam “merda, molhei os sapatos lá fora” ou “hoje estou cheio de gases”, e nos mandavam ler textos sérios pejados de asneiras, divertindo-se com o escândalo entre as meninas: “Tes... ai, tes...tí... bem... posso ler isto?, ai, testí... ti... culo, ai, este texto...".
Gostava dos que se sentavam em cima da mesa a falar sozinhos, despenteados, com mau feitio, e nos ensinavam coisas que a linguagem não contém. E que aprendiam coisas para si enquanto falavam. Estabeleciam uma relação em que não haviam pensado antes, “pois é, pois é”.

Mandavam-nos ver filmes que não eram para a nossa idade e ler livros terríveis. Não creio que seguissem programa, que tivessem planificação, que fossem a reuniões. Não tinham. Chegavam, mandavam umas bocas, dissertavam, divertiam-se que nem uns malucos e quem lhes tirava aquilo, tirava-lhes a vida.
Nos testes ditavam-nos as perguntas, inventadas na hora, e não dava para copiar, embora até pudéssemos... aquilo não estava escrito em lado nenhum.
O que eu aprendi com esses malucos sem método algum, que nunca na vida foram avaliados! Que não poderiam ser avaliados. Porque um bom professor não se avalia. Não é possível quantificar o que ensina. O que eu aprendi a não apodrecer de medo, a pensar mal, mas a pensar, para depois pensar melhor.
A esses professores, esses que eu tive, os faltistas sem método, haviam de lhes aplicar o próximo sistema estatutário de avaliação do desempenho, o tal que o governo vai aprovar com a benção da opinião pública que manipulou com total consentimento das redacções. Chumbavam todos! Era vê-los a cair que nem tordos! Hoje, seriam maus. Nem passavam na entrevista.

A avaliação tornou-se uma obsessão. Como avaliar tudo? Como avaliar um professor? Quanto vale? Quanto pesa? Quanto mede? Como posso ter mais sucesso igual a ter mais dinheiro? Quanto?
Ridículo. Ridículo. Daqui a 10 anos a educação estará na mesma. Pior. A crise na educação não assenta no funcionamento das escolas, mas no da sociedade. A maior parte das crianças chega hoje à escola sem saber o que são valores, ou quais são. É um discurso perdido, que não falam em casa, onde tudo é permitido. Não sabem que não podem sair de uma sala quando querem, porque desconhecem o conceito de regra. Não sabem o que é "isso do respeito". Os professores não conseguem dar aulas porque não conseguem ser ouvidos. Não têm poder para agir, para pedir silêncio.
Daqui a 10 anos a educação estará pior. Os melhores hão-de ser tão robotizados que preferiremos os piores.
É que o problema da educação não está na escola nem nos professores que, como noutras profissões, e em todos os tempos, foram bons e maus.
A crise da escola é o espelho de uma crise social profunda: nada vale nada - apenas o dinheiro e o sexo

evva

(sublinhados meus)

sábado, julho 01, 2006

cavalarias

Num fim de tarde em que os sorrisos abundam, aproveito a alegria que também sinto (grande, grande, grande Ricardo!!!!!!!) para começar a fazer o balanço anual. Como sou professora, costumo começar a colocar as venturas e desventuras do ano nesta altura em que o calendário lectivo também chega frenéticamente ao fim.

A ventura às vezes conduz-nos para encruzilhadas que nos apresentam aventuras difíceis, sobretudo se o nosso percurso cavaleiresco se parece afastar cada vez mais da Távola Redonda.
Como Perceval, sentimo-nos a deambular pela floresta, frustradas por não termos acedido ao enigma, sem ânimo para regressar para junto dos que sentimos nossos.
Vemo-nos rodeados por Florestas da Serpe, no meio da Terra Gasta, e às tantas perdemos o rumo que queriamos dar ao nosso morzelo... Não sabemos, como Boorz soube, responder aos nossos dilemas. Porque são dificeis, mas sobretudo porque mexem connosco. Com o brilho que temos nos olhos. Por amor de um ideal, em serviço de uma causa e de um, ainda, nobre cavaleiro, percorremos lagos ferventes. fontes enganadoras, enfrentámos falsas Genevras e donzelas diabólicas. E hoje, numa encruzilhada, sentimos falta do nosso leal companheiro. Como o nobre Galeote, caímos do nosso cavalo porque os nossos pensamentos nos doem demais para vermos a carreira em que seguimos.
Suplicamos a Lancelot, embora tentando disfarçar a nossa coita, que continue a partilhar venturas na nossa corte. Não raptamos genevras, nem oferecemos reinos grandiosos. mas estamos dispostos a prescindir de sono, a percorrer viagens desgastantes, até a convencer o resto da nossa mesnada com palavras eloquentes. Mas a Távola Redonda não admite cavaleiros estrangeiros. Faltar-nos-á o baptismo de Palamedes? Não sei.
Sei que me sinto muito só e cada vez mais longe do graal. Cada vez com mais provas da espada ao meu alcance. cada vez com menos partilha.
cada vez com menos tempo.
Só uma das pessoas deste blogue entenderá, suponho, esta prosa enredada. E estou certa de que a sentirá como sua. Ainda que, tendo partido hoje em mais uma demanda em que eu, por estar longe da corte dos eleitos, não estive, se tenha esquecido de um relato, com o fizera Boors, seu antigo cavaleiro. Ainda que a Távola Redonda se fique pelo elogio dos meus feitos, mas não faça sequer um esforço que dê a entender que o meu lugar na Távola não se transformou na seda perigosa.
E estou em muitas encruzilhadas. E hoje vou resolver uma delas. Deixo este blog, para sempre, com esta longa prosa, porque não faz sentido. Porque o tempo já é tão pouco. Porque sentimos longe os sorrisos. Os brindes que não fizemos. Só a voz cndescendente que nos diz. Nós compreendemos. Mas que eu esperava ouvir, como dantes, vem. Sem ti é diferente.
Com este egoísmo volto a embrenhar-me nas outras escolhas, estas mais dificeis. E requerem noites de descanso, ponderação e algum consilium. Ou então esperar um sinal de um cavaleiro Branco que nos desvende a narrativa nestas carreiras enredadiças.
Isabel Sofia

E mai' nada!!!



















Inglaterra 1 - Portugal 3

andré