domingo, dezembro 31, 2006

Ode


Não queiras Lídia, edificar no spaço
Que figuras futuro, ou prometer-te
Amanhã. Cumpre-te hoje, não sperando.
Tu mesma és tua vida.
Não te destines, que não és futura.
Quem sabe se, entre a taça que esvazias,
E ela de novo enchida, não te a sorte
Interpõe o abismo?

Ricardo Reis

Odes de Ricardo Reis,
(Obras Completas de Fernando Pessoa, Lisboa, Editorial Nova Ática, p.160),
publicada pela primeira vez no número 1 da Atena, em Outubro de 1924.

[evva]

sábado, dezembro 30, 2006

domingo, dezembro 24, 2006

Natividade

Iluminura de Jean Bourdichon (1457?-1521),
de Les Grandes Heures, d'Anne de Bretagne
Paris BnF Lat. 9474, f. 51v.
evva

sábado, dezembro 23, 2006

Hoje deram-me esta prenda de Natal

Creio nos anjos que andam pelo mundo
Natália Correia

Creio nos anjos que andam pelo mundo,
Creio na Deusa com olhos de diamantes,
Creio em amores lunares com piano ao fundo,
Creio nas lendas, nas fadas, nos atlantes,

Creio num engenho que falta mais fecundo
De harmonizar as partes dissonantes,
Creio que tudo é eterno num segundo,
Creio num céu futuro que houve dantes,

Creio nos deuses de um astral mais puro,
Na flor humilde que se encosta ao muro,
Creio na carne que enfeitiça o além,

Creio no incrível, nas coisas assombrosas,
Na ocupação do mundo pelas rosas,
Creio que o Amor tem asas de ouro. Ámen.


andré

segunda-feira, dezembro 18, 2006

Amar os livros

La Cité des dames
Christine de Pisan
(detalhe do f. 3v,
Genève BPU Fr. 180)
evva

quarta-feira, dezembro 13, 2006



















Mais violência
Menos acção
A mesma sedução

É quase um bom filme.
Mas é o melhor Bond que eu já vi.

andré

terça-feira, dezembro 12, 2006

Cinco lições

Eu sei que os posts dos blogs devem ser curtos, mas eu peço a todos os futuros leitores para abrirem uma excepção a este caso e gastarem um pouco de tempo a ler este texto até ao fim. Obrigado.

Há quase 50 anos, quando cheguei ao Minnesotta, como um estudante recém-desembarcado de África, tinha muito que aprender, a começar pelo facto de não haver nada de esquisito em usar protectores de orelhas, quando a temperatura descia para 15 graus negativos. Desde então, toda a minha vida foi consagrada a aprender. Agora, gostaria de transmitir as cinco lições que aprendi durante dez anos, como secretário-geral da ONU - lições que, na minha opinião, a comunidade das nações também precisa de aprender, no momento em que tem de enfrentar os desafios do século XXI.
A primeira lição é que, no mundo de hoje, todos somos responsáveis pela nossa segurança recíproca. Perante ameaças como a proliferação nuclear, as alterações climáticas, as pandemias mundiais ou os grupos terroristas que operam a partir de refúgios seguros em Estados falhados, nenhuma nação pode garantir a sua própria segurança afirmando a sua supremacia sobre todas as outras. Só trabalhando em prol da segurança de todos podemos esperar garantir uma segurança duradoura para nós próprios.
Essa responsabilidade inclui a responsabilidade partilhada de proteger as pessoas do genocídio, dos crimes de guerra, da limpeza étnica e dos crimes contra a humanidade. Uma responsabilidade que foi aceite por todas as nações, na cimeira da ONU do ano passado. Mas, quando vemos os assassínios, as violações e a fome que são infligidos ao povo do Darfur, compreendemos que essas doutrinas não passam de mera retórica, enquanto aqueles que têm poder para intervir eficazmente - exercendo pressão política, económica ou, em último recurso, militar - não estiverem dispostos a dar o exemplo. Também têm uma responsabilidade para com as gerações futuras - a de conservar recursos que lhes pertencem tanto como a nós. Cada dia em que nada fazemos ou não fazemos o suficiente para prevenir as alterações climáticas tem custos elevados para os nossos filhos.
A segunda lição é que somos responsáveis pelo bem-estar de todos. Sem solidariedade, nenhuma sociedade pode ser verdadeiramente estável. Não é realista pensar que uns quantos podem continuar a retirar grandes benefícios da globalização, enquanto milhares de milhões de outros permanecem ou são atirados para uma pobreza abjecta. Devemos dar a todos os nossos semelhantes pelo menos a possibilidade de partilharem a nossa prosperidade.
A terceira lição é que a segurança e a prosperidade dependem do respeito pelos direitos humanos e o Estado de direito.
Ao longo da história, a diversidade enriqueceu a vida humana e as diferentes comunidades aprenderam umas com as outras. Mas, se quisermos que as nossas comunidades vivam em paz, devemos salientar também o que nos une: a nossa humanidade comum e a necessidade de a nossa dignidade humana e direitos serem protegidos pela lei.
Isso também é vital para o desenvolvimento. Tanto os estrangeiros como os cidadãos de um país tendem a investir mais, quando os seus direitos fundamentais são protegidos e quando sabem que serão tratados equitativamente pela lei. E as políticas que favorecem verdadeiramente o desenvolvimento têm mais hipóteses de ser adoptadas, se as pessoas que mais necessitam do desenvolvimento puderem fazer ouvir as suas vozes.
Os Estados precisam também de cumprir as regras que regem as relações entre eles. Nenhuma comunidade, em parte alguma do mundo, sofre de excesso de Estado de direito, mas muitas sofrem de falta dele - e isto aplica-se também à comunidade internacional. É uma situação que devemos mudar.
A minha quarta lição é, pois, que os governos devem ser responsabilizados pelos seus actos, tanto na cena internacional como na nacional. Todos os Estados devem prestar contas àqueles que são afectados, de uma maneira decisiva, pelas suas acções. Na situação actual, é fácil obrigar os Estados pobres e fracos a prestar contas, pois precisam de ajuda externa. Mas só o povo dos Estados grandes e poderosos, cuja acção tem maior impacto sobre os outros, pode obrigá-los a fazê-lo. Isto confere ao povo e instituições dos Estados poderosos uma responsabilidade especial por ter em conta as opiniões e interesses mundiais. E hoje têm de tomar em consideração os actores não estatais. Os Estados já não podem - se é que alguma vez puderam - enfrentar sozinhos os desafios mundiais. Cada vez mais, precisam da ajuda de uma miríade de associações em que as pessoas se juntam voluntariamente, para benefício próprio ou para reflectir em conjunto sobre a situação do mundo e para o mudar.
Como é que os Estados se podem responsabilizar uns perante os outros? Só por intermédio de instituições multilaterais. Assim, a minha quinta e última lição é que estas instituições devem ser organizadas de uma maneira justa e democrática, permitindo que os pobres e os fracos tenham alguma influência sobre a acção dos ricos e dos fortes.
Os países em desenvolvimento deveriam ter mais influência nas instituições financeiras internacionais, cujas decisões podem significar a vida ou a morte para os seus cidadãos. E haveria que incluir novos membros permanentes ou a longo prazo no Conselho de Segurança, cuja composição reflecte a realidade de 1945 e não a do mundo actual. E, o que não é menos importante, os membros do Conselho de Segurança devem aceitar a responsabilidade que acompanha o privilégio de o integrarem. O Conselho não é um palco para expressar interesses nacionais. É o comité de gestão do nosso frágil sistema de segurança mundial.
Mais do que nunca, a humanidade precisa de um sistema mundial que funcione. E a experiência tem demonstrado, repetidamente, que o sistema é pouco eficaz, quando os Estados-membros estão divididos e carecem de liderança, mas funciona muito melhor, quando há unidade, uma liderança clarividente e a participação de todos os actores. Sobre os dirigentes do mundo, os de hoje e os de amanhã, recai uma grande responsabilidade. Compete aos povos do planeta assegurar que se mostrem à altura dessa responsabilidade.

Kofi A. Annan
Secretário-geral das Nações Unidas
in Publico, 12 DEZ 2006


andré

terça-feira, dezembro 05, 2006

Grande gente assuada em Camaalot

Lancelot e Galaaz
(Iluminura do Manuscrito BN fr 116 f. 667)


Nas últimas semanas, têm aqui chegado através de motores de busca portugueses e espanhóis (sobretudo da Catalunha), várias pesquisas intituladas Vespera de Pinticoste foi grande gente assuada em Camaalot..., assim mesmo, ipsis verbis, tal como se encontra no manuscrito 2954 da Biblioteca Nacional de Viena.
Caros visitantes, sejam bem-vindos. Neste blog reunem-se verdadeiros entusiastas dos textos arturianos em prosa. Se quiserem conversar sobre os cavaleiros da Távola Redonda, dissertar sobre os amores de Lancelot e a rainha Genevra, ou de Tristão e Iseu, o lugar de Boorz de Gaunes na linhagem do rei Ban, a sabedoria do rei Bandemaguz, os percursos de Galaaz, Galvão, Perceval e demais cavaleiros, partilhar leituras, convicções, loci critici... chegaram definitivamente a Corberic e têm à disposição a caixa de comentários ou o endereço electrónico indicado no perfil. Podem ter a certeza que, deste lado, haverá sempre alguém interessado em responder.

evva

domingo, dezembro 03, 2006

Inesperadamente...

Your Inner European is Italian!
Passionate and colorful.
You show the world what culture really is.


Será que foi por ter escolhido o Ferrari? Quem adora conduzir... Ou preferir vinho e ópera a cafés submersos em fumo que nos arranham a garganta e estragam a cútis? But, anyway, I'll always have Paris.


evva

P.S.: Daqui.

Para ler, reler e meditar

Francisco José Viegas, no Origem das Espécies:

«Assim é fácil.

O mail do leitor Luís Varela coloca um problema sobre a língua, a correcção gramatical e a incorporação de novas expressões e léxico. Seria bom que se reflectisse sobre o assunto. Estará certo incorporar expressões como «tu dissestes» ou «tu fizestes» apenas porque elas são escutadas e popularizadas? Nos anos oitenta as faculdades retomaram a «linguística da oralidade» contra a «escrita», o que desvalorizou a ideia de «norma» e a abriu ao «linguajar registado»; ou seja, se se registam expressões como essas, o que nos permite dizer que estão erradas? É uma democracia da barbaridade, mas é necessário discutir o assunto. Outro caso é a expressão «bué», por exemplo, incluída no Dicionário da Academia. Trata-se de um modismo que, aliás, caiu em desuso actualmente; mas a vontade de ser «moderninho» e «actualizado» levou à sua inclusão no Dicionário da Academia. O problema é que um dia destes haverá, nos dicionários, entradas que apenas foram popularizadas pelo Gato Fedorento, que as ridiculariza, ou pela Ana Malhoa, que as utiliza com grande alegria. Assim é fácil.»

É um assunto que há muito me preocupa. Concordo que certos vocábulos do registo calão ou gíria integrem os dicionários (como seria mais fácil ler e entender o passado se os dicionários antigos os integrassem... Relembro a este propósito a polémica em torno do verdadeiro significado da expressão 'une saison en enfer', de Rimbaud). Mas aceitar como norma línguística certas expressões só porque os falantes as utilizam quotidianamente encerra o perigo de demoronamento da língua, pela relativização das regras que a estruturam. Numa escola onde leccionei, uma colega com responsabilidades na biblioteca dizia sempre 'parteleira' por 'prateleira'. À luz dos pressupostas da nova 'Gramática da Língua Portuguesa' este registo até poderia ser aceite.

evva

Estados de espírito

Il pleure dans mon coeur



Il pleure dans mon coeur
Comme il pleut sur la ville;
Quelle est cette langueur
Qui pénètre mon coeur?

Ô bruit doux de la pluie
Par terre et sur les toits!
Pour un coeur qui s'ennuie,
Ô le chant de la pluie!

Il pleure sans raison
Dans ce coeur qui s'écoeure.
Quoi! nulle trahison?...
Ce deuil est sans raison.

C'est bien la pire peine
De ne savoir pourquoi
Sans amour et sans haine
Mon coeur a tant de peine!

Paul Verlaine (1844-1896)

[evva]

sexta-feira, dezembro 01, 2006

A quem surpreendeu esta notícia?


Terão os clubes de futebol profissional coragem para acabar de vez com as claques organizadas e por si subsidiadas? Alguém duvida da marginalidade que grassa nestes grupos? Quando ouço a linguagem insultuosa com que enfeitam os jogos a que assistem pergunto-me por que é que ainda me dou ao trabalho de gostar de futebol.

evva