Bury me deep in words and music
As análises que por aí circulam sobre a responsabilidade de Michael Jackson na projecção e na morte da MTV (cuja óbito agora se anuncia, a coincidir com o desaparecimento de quem projectou e elevou à categoria de objecto artístico a matéria que a alimentava) e do domínio da imagem que promove e vende a música, com ela se confunde e a ultrapassa, pouco dizem sobre a nossa pequena realidade de pré-adolescentes na primeira metade da década de oitenta.
De facto, quem naquela época seguia a MTV? Muito poucos. A televisão por satélite chegava a alguns lares e bares, apenas. O pouco a que conseguíamos almejar era ao Top+ a cada sábado e a torcer para que no primeiro lugar da lista de vendas estivesse o tão desejado teledisco. Isto para dizer que, ao contrário dos adolescentes de hoje, a nossa formação pop não passava assim tanto pela imagem (enfim, tínhamos a Bravo e as outras revistas alemãs com as fotos e os posters, mas pouco mais) televisiva porque, na ausência de canais de televisão a passar música 24 horas por dia, restavam-nos os discos e esses sim, o ritmo contagiante que deles emanava, a música que idolatrávamos, as letras que tentávamos perceber ainda antes de sabermos soletrar uma palavra de inglês, os discos de vinil foram a base da nossa relação com a música pop, não os telediscos. Muito menos as rádios, alguns anos antes do boom da divina pirataria. Os concertos ao vivo eram raríssimos. Por isso me soam tão estranhas estas afirmações de que nós, sim nós, adolescentes e pré-adolescentes portugueses da época em que Thriller revolucionou a música pop, pertencíamos à geração MTV.
Veio-me tudo isto hoje à memória ao ouvir, por caso, um tema dos Triffids (alguém um dia terá de escrever um tratado sobre o quanto as nossas emoções devem à pop dos antípodas, dos The Church aos Go-Betweens). Um dos versos desta canção, uns bons anos mais tarde, haveria de ser a frase que inaugurou o screensaver do meu primeiro PC. Ainda lá andou por algum tempo, até um vírus envenenar a memória do computador (e a minha). Os adolescentes de agora conseguirão assim tão facilmente libertar a imagem das palavras e da música e cristalizar todas as comoções da juventude numa simples frase?
The Triffids, Bury me deep in love (1987)
Bury me deep in love,
Bury me deep in love
Take me in, under your wing
Bury me deep in love
There's a chapel deep in a valley
For travelling strangers in distress
It's nestled among the ghosts of the pines
Under the shadow of a precipice
When a lonesome climbing figure
Maybe slips, maybe loses grip
Tumbles into a crevice
To his icy mountain crypt
Buy him deep in love, bury him deep in love
Take him in, under your wing
Bury him deep in love
When the rock below is shaking
The heart inside is quaking
How long this cold dark night is taking
Bury me deep in love
Bury me deep in love, bury me deep in love
Take me in, under your skin
Bury me deep in love
And the little congregation gathers,
Prays for guidance from above
They sing, "Hear our meditation,
Lead us not into temptation
But give us some kind of explanation
Bury us deep in love"
You may lose me on the east face
You may lose me on the west
I may be covered over in the night
Bury me deep in your love yes
Bury me deep in love. bury me deep in love
Take me in, hide me under your skin
Bury me deep in love
Bury me deep in love, darling bury me deep in your love
Deeper and deeper. deeper and deeper
Bury me deep in love
[evva]
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