Num comentário ao post anterior (o do Rui) pedem-se sugestões de soluções para resolver a situação entretanto criada no grupo de Espanhol. Estas são, contudo, do conhecimento do Secretário de Estado da Educação (SEE). Quando, há pouco tempo, se aplicaram restrições ao funcionamento de cursos de Ensino Superior, impedindo de abrir os que apresentavam menos de 30 inscrições em 3 anos, a Associação Portuguesa de Professores de Espanhol Língua Estrangeira (APPELE) correu a pedir uma reunião ao Ministro da Ciência Tecnologia e Ensino Superior (MCTES) e, não tendo obtido sequer uma resposta, informou o MCTES e o Ministério da Educação (ME) sobre a sua posição relativamente ao que achava ser um erro: ignorar que não é o mesmo encerrar cursos de cuja existência se sabe literalmente há séculos (como por exemplo o de Direito) ou apenas há uma dúzia de anos (este é o caso do Espanhol) e em cuja divulgação nem o MCTES nem o ME não só não investiram como ainda intervieram negativamente com uma reforma curricular castradora da aprendizagem de línguas. Durante alguns anos , essa reforma obrigou os alunos a dar continuidade no Ensino Secundário a uma das duas línguas aprendidas no Ensino Básico, sendo do conhecimento geral e do ME em particular que a maioria das escolas básicas não oferecia o Espanhol, nem oferecia nem oferece o Alemão, língua a que tal situação também prejudicou. Tal situação mudou depois de muitos protestos, mas durou o tempo suficiente para reduzir o número de alunos a estudar a disciplina e, consequentemente, para fechar cursos de Espanhol no Ensino Superior, prejudicando gravemente a formação inicial de professores numa área carenciada, como é o Espanhol. Digo isto, para explicar que a solução não está só no que há a fazer, mas no que se podia não ter feito e para o qual, aliás, se foi bastante advertido.
Quando o ME começou a reduzir as habilitações exigidas para ensinar Espanhol, a APPELE manifestou-se contra e defendeu em alternativa o investimento na formação de professores com base em que a redução da certificação/formação científico didáctica exigida não facilita (antes pelo contrário...) as aprendizagens. Actualmente, a situação é muito mais grave do que alguma vez foi, pois, apesar de o discurso oficial alegar que houve precedente noutras situações de carência de docentes de outros grupos, esse precedente não alcançou o mesmo grau de facilitação de pré-requisitos para a docência. Nem sequer quando o Espanhol arrancou a título experimental podiam os docentes envolvidos estar na situação de apenas deter conhecimentos linguísticos do Espanhol, pois, na altura, o ME assegurou a sua formação específica juntamente com a Embaixada de Espanha.
A solução passa claramente por CONTRATAR os colegas com habilitação "mínima" assegurando o complemento da sua formação antes da entrada na carreira, com particular investimento na reciclagem de professores de grupos ditos "excedentários" (Francês, Alemão...) e por recurso prioritário aos professores certificados legalmente (com formação profissional na língua em questão). Em reunião com a APPELE, o SEE não contrariou a razão destas reivindicações; apenas manteve a insistência de que não havia certezas de haver professores profissionalizados que chegassem para as vagas (embora os números depois provassem que sim e já antes o indicassem), assumiu o compromisso de resolver com a Associação situações de injustiça na colocação de professores (compromisso que depois não cumpriu...) e não abriu qualquer possibilidade de negociação da medida que abriu a possibilidade de efectivação no grupo de Espanhol a professores efectivos de outras línguas (embora pensar nos horários zero de alguns desses professores e na rentabilização da mão de obra não se deva sobrepor à qualidade pedagógica...). Esta informação pode ser confirmada nas muitas declarações à imprensa na página web da APPELE.
Transitando para outro assunto e falando das opções políticas de cada um (que será talvez o tema mais interessante abordado no post anterior, mas sobre o qual não tenho a veleidade de ter tanto para dizer que interesse ao público em geral), só digo o seguinte: são de cada um, é certo, mas as de quem vota PS não são neste momento as da esquerda. É verdade que há no PS um eleitorado de esquerda fiel à história de resistência anti-fascista do Partido, mas é um voto na memória histórica. Dizer que a direita não tem melhores políticas educativas (como faz o Rui no seu comentário), é de acordo com a minha visão ideológica, um erro de raciocínio. O PS não está à esquerda dessa direita: está a fazer política à direita, e mais à direita que esta direita em algumas questões cruciais em termos de identidade ideológica, como a precariedade laboral, a desigualdade na distribuição da riqueza, no acesso à cultura, o deficit democrático ...
É curioso referir-se (no comentário do Rui) a actuação do PS no primeiro ciclo do Ensino Básico:
o primeiro post que escrevi para este blog foi precisamente na sequência do fecho de um conjunto de escolas de primeiro ciclo, algumas das quais com provas dadas e prémios de qualidade educativa, para enfim... poupar verbas do orçamento de Estado. Cada um escolhe o que quer como projecto político e eu respeito isso, mas não respeito todas as razões apresentadas para as escolhas feitas.