domingo, agosto 20, 2006

Sinais de Esperança…

(produzido a partir de excertos - em itálico - da coluna semanal Ponto de Vista, de Jorge Almeida Fernandes, publicada no passado dia 21 de Agosto no Público, com o título "Israel Analisa-se")

Depois do fiasco no Líbano, Israel debate os erros. Tudo é posto em causa, a doutrina militar, a política palestiniana, as relações regionais. Se o Hezbollah surpreendeu Israel, Israel passou agora a conhecê-lo. É uma questão de sobrevivência.


Para começo não está mau.

Um analista lembrou que Israel não ganha uma guerra desde 1967: teve uma vitória parcial em 1973, atolou-se na Intifada e falha agora no Líbano.


Esta é que eu não sabia.

Os próximos meses assistirão a um provável terramoto político. "É o princípio de uma nova era, se Israel reconhecer a tempo que tem de pagar o preço de uma repetida cegueira", escreve o jornalista Gideon Samet.

Cegueira. Ora aí está. Talvez seja melhor escrever as próximas resoluções da ONU em Braille…

[o historiador Zeev] Sternhell afirma que "o fracasso não foi da elite cultural ou dos valores de sociedade aberta. Não houve falta de devoção, espírito de combate e voluntarismo, qualidades características dum israelita em uniforme. O que faltou foram políticos com estatura e meios adequados de acção."

De facto, primeiros-ministros com estatura, desde Rabin, não tenho conhecimento de ter havido algum.

Os analistas militares, muitos deles oficiais na reserva e veteranos dos serviços secretos, criticam os conceitos estratégicos. Desde a aposta na guerra aérea e tecnológica ("à moda da NATO no Kosovo") ao desprezo pelo adversário, que levou às "surpresas" do Hezbollah, como os seus mísseis antitanque.

E eu a pensar que ninguém era suficientemente ingénuo para imitar os americanos. Para quem tem a reputação de ter um dos melhores exércitos (e serviços secretos) do mundo, esta notícia desilude-me profundamente.

Fala-se no desgaste das tropas de elite em anos de combate de rua na Intifada: "À força de jogar contra más equipas, mesmo as boas equipas vêem o seu nível baixar."


Quanto a isto não há problema. Contrata-se o José Mourinho. Ele até já esteve em Israel e deve ter ficado com a noção exacta do problema.

É posta em causa a doutrina da "alavanca", o uso de alta violência contra os palestinianos para os convencer de que nada obterão pela violência, explica o general Gal Hirsh. Ao fim de cinco anos, os militares fazem o balanço: os palestinianos moderados foram marginalizados e o Hamas ganhou as eleições. No Líbano, foi usado o mesmo princípio e o exército queixa-se agora de perder a "guerra das relações públicas" e de ver os libaneses solidarizarem-se com o Hezbollah.

Pois. Digamos que, tirando os Israelitas e os americanos, já todo o mundo tinha percebido isto.

Há uma gravíssima responsabilidade dos políticos, de Ehud Olmert a Amir Peretz: não fizeram as devidas perguntas. Se a guerra era inevitável, Israel caiu numa armadilha.


Pois caiu e agora o mundo inteiro tem de ajudar Israel a sair dela. Bonito serviço.

O general Uri Saguy, ex-chefe das informações militares, declarou ao Le Monde: "Esta guerra deveria levar os nossos dirigentes a compreender os limites da força e a necessidade de um acordo político regional. Os que têm uma visão binária, que dividem o mundo entre bons e maus, apenas sabem semear a guerra e a desestabilização da região."


Essa dos bons e dos maus era uma indirecta para o Bush, não era?…

O "falcão" Efraim Halevy, antigo chefe da Mossad, propõe uma negociação com o Hamas e critica a sua ostracização. Não interessa que o Hamas reconheça Israel, interessa sair dos territórios, deixar para mais tarde a paz e negociar um statu quo que garanta a segurança e afaste o Hamas sunita do Hezbollah xiita. O "campo da paz", esse quer aproveitar a "oportunidade" para avançar uma solução global.


As aves de rapina têm de facto uma visão muito apurada. Temos de as respeitar e dar-lhes razão quando a têm.

andré

2 comentários:

Anónimo disse...

Parece-me que há um facto importante de que se esquece:desde a retirada de israel do sul do libano, o hezzbollah reforçou a sua capacidade de armamento, com o evidente apoio da síria e do irão, pais que persiste nos fins nucleares, sem que a comunidade internaccional tenha feito nada. que acha disto?

Esplendor disse...

Eu acho que o armamento do Hezzbolah é de facto preocupante e acho legítimo que Israel o tente impedir. Contudo, a destruição do Líbano não só não conseguiu parar essa situação como tornou o Hezzbolah no mártir/heroi dali da zona.
Quanto à inactividade da comunidade internacional em relação ao Irão, eu gostava de lhe lembrar o que aconteceu devido a umas supostas armas de destruição maciça no Iraque.

Sinceramente, ainda acha que é à bomba que tudo se resolve?

andré