sábado, outubro 13, 2007

Tudo isto é fado, nada disto é cinema

Carlos Saura com Caetano Veloso
nas gravações de Fados
(foto EFE)

O cinema não passa por aqui. Nem sequer sob a forma de documentário. Parece mais um longo teledisco onde desfilam as escolhas do autor (ou de Carlos do Carmo, o consultor português?). Se bem que pareça pretender contar a história do fado (apesar de Carlos Saura o negar), não acredito que um espectador menos familiarizado com ela consiga compreender o alcance das muitas referências que o filme exibe, da música africana à brasileira, mas onde a ausência do tango, filiação estudada por Rui Vieira Nery (referido na ficha técnica!), é incompreensível.


Neste video clip pseudo-biográfico, Amália é pouco mais do que uma nota de rodapé, mas Carlos do Carmo, of course, e Marisa omnipresentes. Não me queixo do Camané, por razões óbvias, apesar de Saura filmar o seu lado menos fotogénico e por isso mais autêntico (também gostei das rugas de Caetano Veloso a assassinar Estranha Forma de Vida e de Chico Burque), mas que dizer do esquecimento de Maria Teresa de Noronha, Mísia ou Kátia Guerreiro? Não pretendia este filme(?) encerrar a trilogia de Saura sobre «três formas de expressão musical urbanas do século XX»? E o fado de Coimbra não é urbano?

De qualquer forma, para quem venera o fado como eu, há actuações inesquecíveis: Cuca Roseta com a melhor interpretação de SEMPRE de Rua do Capelão, ou Novo Fado da Severa (quem perceber mais disto do que eu, por favor elucide o título exacto da composição escrita pelo injustiçado Júlio Dantas*) e Lilla Downs a não envergonhar Lucília do Carmo na Travessa da Palha. Mas tudo isto não deixa de ser uma estranha forma de cinema.

evva

* Ainda está por escrever a enorme contribuição deste homem para a cultura portuguesa. Voltarei a ele um dia destes.

5 comentários:

clarinda disse...

fiquei convencida e aguardo o texto sobre Júlio Dantas.

Anónimo disse...

Não sou apaixoada pelo fado, nem vi o filme. mas creio que o fado de coimbra não é urbano. acho-o até iminentemente "rural" ou quando muito sem lugar
isael sofia

Esplendor disse...

Discordo. O fado de Coimbra é produto de uma cultura urbana. Consegues imaginar pastores ou camponeses a dedilhar a guitarra portuguesa e a cantar aquelas trovas?

evva

Anónimo disse...

Há quem defenda que as origens do fado de Coimbra estão aí... nas camponesas ou lavadeiras ou o que fossem. De qualquer modo, a elas era dirigido. E as trovas do genuíno fado de coimbra não são urbanas. Coimbra era uma aldeia, de rio claro e sombras verdejantes onde os estudantes espreitavam as moças roliças que os faziam suspirar. ~Que tem isto de citadino?
isabel Sofia

RH disse...

A AIDGLOBAL apresenta o espectáculo de solidariedade O FADO ACONTECE que decorrerá no dia 10 de Novembro, pelas 22h00, no Forum Lisboa. Celeste Rodrigues, Raquel Tavares, Ana Sofia Varela, Sofia Amendoeira, Hélder Moutinho, Ricardo Ribeiro, Artur Batalha, Luís Pinheiro, Luís David. Mais informações em www.aidglobal.org