domingo, outubro 19, 2008

Ser livre

Resposta de Paulo Duarte a Ramiro Marques:

Paulo disse...

Toda a pessoa tem o direito de fundar, com outras pessoas, sindicatos e de se filiar em sindicatos para defesa dos seus interesses. (Ponto 4 do Artigo 23º da Declaração Universal dos Direitos Humanos).

As manifestações espontâneas, individuais ou colectivas são um direito – são a expressão da Democracia. As associações de professores, os sindicatos de professores e outras organizações registadas, com estatutos, com responsabilidades sérias e assumidas, com objectivos formalmente conhecidos e com um corpo de associados formalmente inscritos, são entidades legítimas e credíveis. Em toda e qualquer acção empreendida por estas organizações, os seus associados expõe a cara, o nome e os princípios que os movem… Não são espíritos livres – são Pessoas Livres que constroem a Democracia.

Mas, na sombrinha protectora dos sms, dos e-mail, dos blogs… mas, também, na penumbra dos corredores das escolas ou na barulheira das salas de professores e dos bufetes das escolas … anda por aí, sem cara nem nome, uns espíritos amarrados a propósitos anónimos, com o intuito de denegrir a acção sindical universalmente consagrada. Nesses momentos é preciso haver precaução e discernimento suficientes para nos demarcarmos dessas movimentações anónimas. Estas milícias de acólitos da Sombra não são espontâneas – são preparadas e organizadas e, por algum motivo desconhecido, não se encontram registadas! Quem representa legitimamente os Professores? São as ORGANIZAÇÕES ESTABELECIDAS (sindicais, científicas, recreativas…) ou as CORPORAÇÔES CONSPIRATIVAS que as pretendem demover? É muito fácil, para um espírito, falar mal dos sindicatos sem nunca ter sido delegado ou dirigente sindical e sem nunca ter contribuído para as formas de luta que os sindicatos têm desencadeado, porque é nessas organizações que se luta democraticamente pelos nossos ideais, confrontando a nossa visão com a dos demais e aceitando, democraticamente, a opção do colectivo que vai crescendo com a força das diferenças unidas – os professores frustrados que se “colam” a estes espíritos são, muito provavelmente, aqueles adesivos (como lhes chamava Vitorino Nemésio) que, nas escolas, andam sempre a retorquir da acção sindical e a querer saber dos delegados/dirigentes, quando é que o Sindicato faz alguma coisa (por eles) mas, depois, quando há uma greve, queixam-se por ser ao sábado, queixam-se por ser à sexta, queixam-se porque têm um teste… e não sabem fazer mais do que isso mesmo – queixarem-se. Dedico-lhes a cantiga “Movimento Perpétuo Associativo” dos “Deolinda” (procurem-na no youtube). Vamos ver quem representa os professores – se os espíritos que organizaram o dia 15, ou os sindicatos que organizaram o dia 8, constituídos por professores, bem vivos, que não se escondem atrás de intrigas espirituais. A diferença entre uns e outros viu-se em algumas manifestações: para um espírito é fácil acenar uma faixa, ou cartaz, com a fotografia da Srª Ministra e com a palavra “vaca”. Este tipo de manifestos nunca transporta o nome das organizações sindicais. As palavras de ordem, as bandeiras, as faixas das organizações sindicais… todos esses suportes têm responsabilidades concretas para com aqueles que representam e que, afinal, são EDUCADORES de carne e osso e referências bem concretas para os seus alunos. 

A FENPROF anda a divulgar pelas escolas uma proposta aberta relativa a um modelo alternativo de avaliação do desempenho. A ideia é levar para as negociações de Junho/Julho, com o Ministério da Educação, algo de concreto e representativo da vontade dos professores. Qual é a proposta dos “espíritos”? Têm algum representante nas negociações de Junho/Julho? Têm andado pelas escolas a reunir de forma aberta com os professores, em reuniões legítima e legalmente convocadas, assumindo a responsabilidade pela palavra passada ou será que, pelo contrário, apanham este e aquele (mais desprevenido) e passam a palavra sob a mesma cobardia que tem sido a verdadeira causa da inércia e da desunião dos professores? 

Creio que, assim, ficam esclarecidos aqueles que ainda não tinham percebido as razões pelas quais a FENPROF não se “colou” à conspiração do dia 15. As organizações não se “colam” a corporações anónimas e esse é um dos vários sentidos de responsabilidade que as caracterizam.

Que intenções terão aqueles que sabendo, à partida, que não têm condições logísticas para levar mais de cem mil professores a Lisboa, acabarão por permitir uma interpretação de desmobilização da classe docente relativamente à inesquecível “Marcha da Indignação”? É importante conseguir mais de cem mil professores em Lisboa no dia oito. O dia quinze nunca teria essa escala de participação e, penso eu, nunca teve essa intenção…

Não sou espírito e tenho nome.
Paulo Duarte"


Sónia


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