Esta gente
Há dias, o convite para a próxima actividade da UNICEPE (Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto) vinha recheado com uma história que me tocou, a propósito de um poema de Sophia de Mello Breyner Andersen. O título do poema coincide com o deste post:
Esta Gente
Esta gente cujo rostoÀs vezes luminosoE outras vezes toscoOra me lembra escravosOra me lembra reisFaz renascer meu gostoDe luta e de combateContra o abutre e a cobraO porco e o milhafrePois a gente que temO rosto desenhadoPor paciência e fomeÉ a gente em quemUm país ocupadoEscreve o seu nomeE em frente desta genteIgnorada e pisadaComo a pedra do chãoE mais do que a pedraHumilhada e calcadaMeu canto se renovaE recomeço a buscaDe um país libertoDe uma vida limpaE de um tempo justo
Não resisto a partilhar o texto que o acompanhava e cuja autorização de divulgação fora do círculo a que se destina eu agradeço ao autor. Passo a transcrever:
Cara Associada:Caro Associado:No passado dia 2 fez 5 anos que morreu Sophia de Mello Breiner Andresen.Em Outubro de 1969, o signatário cumpria o serviço militar obrigatório em Lisboa, na Escola Prática de Administração Militar. Éramos 39 no meu curso.Devido às eleições que se aproximavam, apenas uma terça parte era autorizada a saír em cada noite. Entre os 26 obrigados a permanecer na caserna, as trocas de ideias eram acesas. Se, ao princípio, um ou outro ainda defendia a nossa guerra em África (para onde era previsível irmos), passados poucos serões já nenhum a defendia, rendidos aqueles poucos aos fortes argumentos dos politicamente mais conscientes.Fora-nos dito que quem estava recenseado seria autorizado a ir votar à respectiva freguesia. Porém, na véspera, isso foi desdito e só os recenseados em Lisboa poderiam votar. Tal acresceu a tensão acumulada nas semanas de quase total permanência no quartel.E, para grande surpresa, o dia das eleições, Domingo, 26, amanheceu com as largas dezenas de grandes ávores envoltas em enormes cartazes com o poema de Sophia que abaixo trancrevo (quase de cor, desde essa manhã).É essa grande poeta que vamos homenagear na próxima Quarta-feira. Prepare alguns seus poemas e venha partilhá-los connosco. A entremear, teremos canções pelo nosso Associado Jorge Gomes da Silva. Divulgue.Saudações cooperativistas,Rui Vaz PintoPresidente da Direcção
Porque os tempos se aproximam perigosamente e os gestos passados ameaçam voltar a ser necessários no presente, eu divulgo! Tentarei participar.
Sónia
Sem comentários:
Enviar um comentário