A recusa do esquecimento
É provavelmente uma das imagens mais chocantes e perturbadoras do 11 de Setembro de 2001. Não há heróis, bandeiras, grupos de pessoas a sofrer, pó, aviões, ou bombeiros. Nem as torres a arder. Apenas uma visão, quase graciosa, de alguém que sabemos que vai morrer.
A censura a esta imagem esteve na origem de um documentário do Channel 4 emitido na 2: na noite de Sábado, 9/09, que procurou entender porque é que o fenómeno dos (denominados) Jumpers foi aparentemente silenciado e progressivamente esquecido pelos media dos EUA.
No dia seguinte, a SIC Notícias emitiu um outro documentário sobre o atentado, desta vez com imagens do que se passou nos andares de baixo das torres, e onde os bombeiros tiveram de mudar o local de evacuação devido à queda destroços… e de pessoas. Jumpers não foram dez… nem onze…
Voltemos então um pouco atrás.
Pouco tempo depois do 11/09, o director do Le Monde Diplomatique, Ignácio Ramonet, falava numa conferência no Porto do paradoxo resultante da ausência de imagens das vítimas do atentado, devido a um acordo entre televisões e jornais que visava impedir a sua exploração mediática. O contraste com a exposição constante do sofrimento das vítimas dos bombardeamentos dos EUA no Afeganistão tornava possível que este último trágico e polémico acontecimento – com centenas de vítimas – fosse visto pela opinião pública de forma mais dramática do que o anterior – onde morreram vários milhares.
Parece ter havido aqui uma tentativa de conter a difusão de imagens que pudessem porventura alimentar entre a população a ideia de derrota, impotência ou invulnerabilidade. O país não podia parar, o seu desígnio não podia ser posto em causa. Fez-me lembrar o filme Dune: the spice must flow.
Mas isto não foi apenas uma orquestração. Na peça do Channel 4, alguns/as entrevistados/as indignam-se ou revoltam-se perante o suicídio e a sua difusão. Era desonra, uma morte amaldiçoada. O inferno que muitos viveram, com o fumo e o calor inimaginável, não seria razão suficiente para justificar tal decisão.
Curiosamente ou não, a falta de informação sobre o que de facto ocorreu naquele malfadado dia tem alimentado toda a espécie de teorias, a mais famosa das quais, disponível em video.google.com, coloca a administração Bush por detrás do que aconteceu. Parece haver algumas pontas soltas, a mais óbvia das quais será o ataque ao Pentágono por um avião… ou por um míssil. Mas passemos à frente.
A busca da identidade deste Jumper traz também relatos de pessoas que compreendem e aceitam que, naquela circunstância, o salto é não só o caminho para uma morte mais tranquila como também um derradeiro acto de coragem.
Parece emergir de algumas reportagens que agora aparecem uma necessidade de relembrar e repensar o que se passou. Cinco anos passados, depois do desastre no Iraque, dos ataques em Londres e em Madrid, talvez haja uma recusa do esquecimento, que confronta os EUA e os seus habitantes com a sua impotência. Mas mais ainda, que os torna iguais a todos os que aceitam a sua fraqueza e vivem com os seus fantasmas.
Talvez seja uma parte do caminho para a maturidade. Era bom que fosse.
andré
A censura a esta imagem esteve na origem de um documentário do Channel 4 emitido na 2: na noite de Sábado, 9/09, que procurou entender porque é que o fenómeno dos (denominados) Jumpers foi aparentemente silenciado e progressivamente esquecido pelos media dos EUA.
No dia seguinte, a SIC Notícias emitiu um outro documentário sobre o atentado, desta vez com imagens do que se passou nos andares de baixo das torres, e onde os bombeiros tiveram de mudar o local de evacuação devido à queda destroços… e de pessoas. Jumpers não foram dez… nem onze…
Voltemos então um pouco atrás.
Pouco tempo depois do 11/09, o director do Le Monde Diplomatique, Ignácio Ramonet, falava numa conferência no Porto do paradoxo resultante da ausência de imagens das vítimas do atentado, devido a um acordo entre televisões e jornais que visava impedir a sua exploração mediática. O contraste com a exposição constante do sofrimento das vítimas dos bombardeamentos dos EUA no Afeganistão tornava possível que este último trágico e polémico acontecimento – com centenas de vítimas – fosse visto pela opinião pública de forma mais dramática do que o anterior – onde morreram vários milhares.
Parece ter havido aqui uma tentativa de conter a difusão de imagens que pudessem porventura alimentar entre a população a ideia de derrota, impotência ou invulnerabilidade. O país não podia parar, o seu desígnio não podia ser posto em causa. Fez-me lembrar o filme Dune: the spice must flow.
Mas isto não foi apenas uma orquestração. Na peça do Channel 4, alguns/as entrevistados/as indignam-se ou revoltam-se perante o suicídio e a sua difusão. Era desonra, uma morte amaldiçoada. O inferno que muitos viveram, com o fumo e o calor inimaginável, não seria razão suficiente para justificar tal decisão.
Curiosamente ou não, a falta de informação sobre o que de facto ocorreu naquele malfadado dia tem alimentado toda a espécie de teorias, a mais famosa das quais, disponível em video.google.com, coloca a administração Bush por detrás do que aconteceu. Parece haver algumas pontas soltas, a mais óbvia das quais será o ataque ao Pentágono por um avião… ou por um míssil. Mas passemos à frente.
A busca da identidade deste Jumper traz também relatos de pessoas que compreendem e aceitam que, naquela circunstância, o salto é não só o caminho para uma morte mais tranquila como também um derradeiro acto de coragem.
Parece emergir de algumas reportagens que agora aparecem uma necessidade de relembrar e repensar o que se passou. Cinco anos passados, depois do desastre no Iraque, dos ataques em Londres e em Madrid, talvez haja uma recusa do esquecimento, que confronta os EUA e os seus habitantes com a sua impotência. Mas mais ainda, que os torna iguais a todos os que aceitam a sua fraqueza e vivem com os seus fantasmas.
Talvez seja uma parte do caminho para a maturidade. Era bom que fosse.
andré
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