A propósito de La pelota vasca
Corrijam-me se estiver errado mas o que se vive no país Basco deve ser o último caso de terrorismo ainda existente na Europa dos 27. E se não for único não deve haver muitos mais para contar.
O documentário realizado por Julio Medem em 2003 aparece em pleno governo Aznar, pouco depois da ilegalização do Batasuna, e com o movimento Basta Ya como pano de fundo. Digamos que nesta altura a situação que nunca foi simples estava um pouquinho complicada.
Daí que não espanta que se diga logo no início que esta é uma obra para promover o diálogo. Assim se espera.
Passado o período das certezas, hoje o melhor que sei fazer é acumular dúvidas. Não dívidas. Essas, felizmente estou a conseguir pagar, com mais ou menos esforço.
Mas, até um gajo cheio de certezas fica um pouco confuso quando aborda a questão do país basco. Afinal aquilo é Espanha ou não é Espanha? E se não é Espanha, deve ou não dever ser independente? E se deve ser independente, o que fazer com a Catalunha e com a Galiza?
Este é um dos méritos do documentário, o facto de apresentar os problemas que estão por detrás do terrorismo. É que de vez em quando, de tanto mediatizarmos a superfície das coisas, esquecemos da sua substância. E convenhamos, é mais fácil culpar os bascos pelo terrorismo do que tentar encontrar uma solução para a sua autonomia.
Culpados há dos dois lados. De um lado, temos os tipos do género 'sou diferente e quero manter-me diferente' do outro lado tipos do género 'somos todos iguais e temos de ser todos iguais'.
O documentário realizado por Julio Medem em 2003 aparece em pleno governo Aznar, pouco depois da ilegalização do Batasuna, e com o movimento Basta Ya como pano de fundo. Digamos que nesta altura a situação que nunca foi simples estava um pouquinho complicada.
Daí que não espanta que se diga logo no início que esta é uma obra para promover o diálogo. Assim se espera.
Passado o período das certezas, hoje o melhor que sei fazer é acumular dúvidas. Não dívidas. Essas, felizmente estou a conseguir pagar, com mais ou menos esforço.
Mas, até um gajo cheio de certezas fica um pouco confuso quando aborda a questão do país basco. Afinal aquilo é Espanha ou não é Espanha? E se não é Espanha, deve ou não dever ser independente? E se deve ser independente, o que fazer com a Catalunha e com a Galiza?
Este é um dos méritos do documentário, o facto de apresentar os problemas que estão por detrás do terrorismo. É que de vez em quando, de tanto mediatizarmos a superfície das coisas, esquecemos da sua substância. E convenhamos, é mais fácil culpar os bascos pelo terrorismo do que tentar encontrar uma solução para a sua autonomia.
Culpados há dos dois lados. De um lado, temos os tipos do género 'sou diferente e quero manter-me diferente' do outro lado tipos do género 'somos todos iguais e temos de ser todos iguais'.
Outro dos pontos de interesse do documentário é o elevado número de pessoas que envolve, de políticos a académicos, passando por músicos e polícias, na maiora de origem basca. Vítimas, aparecem de ambos os lados. As viúvas, os orfãos, as mulheres dos condenados que têm de andar a fazer viagens pelo país para ver os seus maridos, os presos torturados, estão lá todos. Dos agressores temos mais imagens do que depoimentos, o que não é de estranhar. Por exemplo, o maior de todos eles, o sr. general, jaz tranquilo na sua tumba. Não se pode fazer muito em relação a ele. E no entanto, é a partir da guerra civil e do ambiente que se cria no regime franquista que nasce muita da animosidade e, sobretudo, é aí que nasce a ETA.
O que me leva a uma das conclusões mais tristes do documentário. Pensar que grande parte do problema Basco se relaciona com a barbarie de um regime que já passou à história mas do qual, ainda hoje, a Espanha tem dificuldade em se libertar. Nesse sentido, é ainda mais triste pensar que um partido democrático como o PP possa ser, de alguma forma, refém ou cumplice desse passado. A segunda conclusão triste é pensar que muitos dos nacionalistas toleram a violência da ETA. Por um lado, dá jeito para reivindicar autonomia, e por outro, alivia o rancor das muitas feridas abertas.
Parece-me óbvio que ficaríamos todos mais pobres se a cultura basca caminhasse para o abismo mas admitamos de bom grado que resolver esta situação não é fácil nem para os Bascos nem para Madrid. Fica a esperança de que haja muita gente em Espanha a ver este documentário, que para além do mais é visualmente notável. E que o objectivo dos seus autores seja cumprido. Já não era nada mau.
andré
1 comentário:
Acho impressionante que Portugal viva alheio ao que se passa em Espanha no que se refere à discussão das entidades nacionais dentro do "Estado Espanhol" - pelos vistos, uma expressão com origem no regime franquista, mas muito útil para marcar a inexistência de um país/nação, e, provavelmente por isso, tão perfilhada pelos movimentos independentistas. Que neste canto (no fundo , não mais do que isso) da península, não se discuta se o que se fala na Galiza é Português, Galego ou Espanhol, nem se discutam as fronteiras entre movimentos de auto-determinação e movimentos terroristas em território espanhol é no mínimo desconcertante, quando comparado com o que se fala dos movimentos terrorista e de auto-determinação de outras paragens bem mais distantes...
A "Pelota Vasca" é algo que urge comentar em Portugal, seja no filme do Julio Medem, seja no de Orson Welles (ver neste blog post de Fevereiro ou Março deste ano).
Sónia
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