A propósito da suposta morte da cultura francesa
Em Novembro do ano passado a revista norte americana Time teve como título de capa The death of French Culture. Perante impacto que esta reportagem teve em França, o Público publicou no passado dia 24 de Julho, no seu suplemento P2, um artigo de duas páginas dedicado ao assunto.
Eu confesso que de cultura francesa sei muito pouco. Como pequeno exemplo, neste blog há pessoas com um conhecimento muito mais vasto e profundo sobre o tema. Eu limito-me a ouvir e tentar entender. Contudo, não posso deixar de manifestar a minha admiração e entusiasmo pela actividade cultural que vem de lá. Hoje por exemplo vou ver mais um filme francês, de nome Paris, uma das minhas cidades preferidas.
Estando em Inglaterra mas não em Londres, a comparação entre as a cultura inglesa e francesa é quase inevitável. E aquilo que mais me salta à vista é a diferença que ambas dão à valorização das ideias de belo e de prazer. Em Inglaterra parece haver uma atitude quase esquizofrénica em relação às duas. Por um lado toda a gente olha para os franceses quando pensa em vestir com charme ou luxo, ou então quando pensa em bons vinhos e comida sofisticada. Por outro lado, no dia-a-dia, esta visão é completamente posta de lado, porque para além do mais aqui fica sempre muito bem dizer mal dos franceses (nunca me dei ao trabalho de saber se esta atitude é reciproca). Em Inglaterra a funcionalidade das coisas prevalece ao seu aspecto exterior (uma das razões para eu querer ir à Alemanha é saber se lá conseguiram combinar os dois factores). Enfim... diferenças históricas.
Quando penso em países bonitos e em gente bonita e bem vestida, vou dar invariavelmente a Paris, Provença, Veneza, ou Florença. Quando penso no melhor cinema, na melhor pintura, nos melhores vinhos, ou em alguma da melhor comida, vou dar ao mais ou menos ao mesmo sítio. Mas lá está, são ideias muito marcadas pelo passado. Os poucos pintores comtemporâneos que conheço e gosto são norte-americanos. A industria da moda tem hoje uma escala global e não tão marcada por Paris ou Milão. E apesar de continuar fiel ao cinema francês, os temas e as imagens vindas da Asia ou da América do Sul já há muito que me conquistaram também.
Como escreveu um dia Edward Said, cultura é performance, e basta olhar para Hollywood ou para a Coca-cola para perceber isso rapidamente. Quem hoje ler os Maias de Eça de Queiroz percebe bem o impacto que o chic teve em Portugal há umas dezenas de anos. Mas já foi. Hoje o marketing e o cool têm mais impacto. Sinais dos tempos...
Fico todavia descansado pelo facto de os Ingleses, os Norte-americanos, e gente de muitos outro países continuar a achar que ir a Paris é obrigatório porque é lindo. Creio que enquanto houver procura pelo que é belo viveremos todos um pouco melhor.
andré
2 comentários:
Fica a adenda. Paris, o filme, deixa um pouco a desejar. Pareceu-me um pouco uma Paris à americana. O coração tá de facto um pouco fraquinho.
andré
páris je t'aime
:)
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