Il n'est trésor que de vivre à son aise
Há 543 anos, em Janeiro de 1463, François Villon abandonava Paris. Tinha-lhe sido comutada em dez anos de exílio uma pena de morte por enforcamento (envolvera-se numa desordem de que saíra ferido um notário pontificial, depois de uma vida errante envolvida em rixas, roubos, bandos de malfeitores, vagabundagem). A partir dessa data, a história perde-lhe o rasto. ficam os versos (e oh que versos):
Ballade de bonne doctrine à ceux de mauvaise vie
"Car ou soies porteur de bulles,
Pipeur ou hasardeur de dés,
Tailleur de faux coins et te brûles
Comme ceux qui sont échaudés,
Traîtres parjurs, de foi vidés;
Soies larron, ravis ou pilles:
Où s'en va l'acquêt, que cuidez?
Tout aux tavernes et aux filles.
"Rime, raille, cymbale, luthes,
Comme fol feintif, éhontés;
Farce, brouille, joue des flûtes;
Fais, ès villes et ès cités,
Farces, jeux et moralités,
Gagne au berlan, au glic, aux quilles
Aussi bien va, or écoutez!
Tout aux tavernes et aux filles.
"De tels ordures te recules,
Laboure, fauche champs et prés,
Sers et panse chevaux et mules,
S'aucunement tu n'es lettrés;
Assez auras, se prends en grés.
Mais, se chanvre broyes ou tilles,
Ne tends ton labour qu'as ouvrés
Tout aux tavernes et aux filles?
"Chausses, pourpoints aiguilletés,
Robes, et toutes vos drapilles,
Ains que vous fassiez pis, portez
Tout aux tavernes et aux filles.
[BALADA DE BOA DOUTRINA AOS DE MÁ VIDA
"Pois portador sejas de bulas,
Vicies ou arrisques dados,
Moedas faças, fogo engulas
Como os que foram escaldados,
Tredos perjuros, desfiançados,
Sejas ladrão, roubes, persigas:
Vai onde o ganho, a que cuidades?
Tudo à taberna e às raparigas.
"Rima, ri, bate, tange, salta,
Finge esgares tontos depejados,
Mistura momos, toca flauta,
Pelas cidades, povoados,
Farsas e jogo, autos sagrados,
E ganha às cartas, já lobrigas
Que logo vai, ouvi meus brados!
Tudo à taberna e às raparigas.
"Dessa imundície atrás tu pulas?
Trabalha, ceifa campos, prados,
Serve cavalos, pensa mulas,
Nunca serás entre letrados.
Assaz vais ter, em teus agrados;
Mas se maceras só estrigas,
Vai, dos teus ganhos bem suados,
Tudo à taberna e às raparigas.
"Bragas, gibões bem pespontados,
Roupa e trapinhos que consigas,
Nunca pior, sejam levados:
Tudo à taberna e às raparigas.
Tradução De Vasvo Graça Moura, Os Testamentos de François Villon e algumas baladas, Campo das Letras, Porto, 1997]
evva
P.S. Nunca 2,5 euros foram tão bem gastos.
Sejas ladrão, roubes, persigas:
Vai onde o ganho, a que cuidades?
Tudo à taberna e às raparigas.
"Rima, ri, bate, tange, salta,
Finge esgares tontos depejados,
Mistura momos, toca flauta,
Pelas cidades, povoados,
Farsas e jogo, autos sagrados,
E ganha às cartas, já lobrigas
Que logo vai, ouvi meus brados!
Tudo à taberna e às raparigas.
"Dessa imundície atrás tu pulas?
Trabalha, ceifa campos, prados,
Serve cavalos, pensa mulas,
Nunca serás entre letrados.
Assaz vais ter, em teus agrados;
Mas se maceras só estrigas,
Vai, dos teus ganhos bem suados,
Tudo à taberna e às raparigas.
"Bragas, gibões bem pespontados,
Roupa e trapinhos que consigas,
Nunca pior, sejam levados:
Tudo à taberna e às raparigas.
Tradução De Vasvo Graça Moura, Os Testamentos de François Villon e algumas baladas, Campo das Letras, Porto, 1997]
evva
P.S. Nunca 2,5 euros foram tão bem gastos.
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