sábado, fevereiro 03, 2007

Novas da China


Sexta-feira, 2
À saída de Shanghai para Macau, e já a bordo do avião, o primeiro-ministro procurou os jornalistas para lhes dar um ralhete paternalista. Depois de dois dias sem comentar a crise desencadeada pelas declarações do seu ministro da Economia, Manuel Pinho, José Sócrates sentiu-se incomodado por ter sido interpelado pelos profissionais da comunicação à saída de um evento e, a seguir, foi manifestar-lhes o seu desagrado. Disse que só fala quando as coisas são previamente combinadas «como em qualquer país civilizado», e falou no mau aspecto que não quer dar num país estrangeiro. Afirmou ainda desconhecer que os jornalistas tentavam, há dois dias, obter declarações suas sobre o caso Pinho. É, no mínimo, estranho que os seus assessores não lho tenham dito.
O enguiço desta viagem à China começou logo na primeira iniciativa, terça-feira, 30, em Pequim, com as declarações de Manuel Pinho, que quis «vender» Portugal como um país de mão-de-obra barata aos investidores chineses. No dia seguinte, reafirmava a sua posição e comentava as reacções suscitadas em Lisboa, afirmando que os sindicatos são «forças de atraso».
O chefe do Governo e os seus acólitos não têm gostado da forma como a comunicação social tem feito a cobertura desta viagem de negócios. Os jornalistas têm sido, umas vezes aberta, outras veladamente, acusados de estarem a estragar esta viagem e de só noticiarem assuntos menores – como a defesa dos salários baixos e os ataques, por parte de um membro de um governo socialista, aos sindicatos, ou a tentar obter declarações sobre Direitos Humanos na China – e de não darem a devida atenção aos muitos contratos e memorandos de entendimento celebrados entre empresas portuguesas e chinesas. A jornalista da rádio pública chegou mesmo a ser acusada, por um assessor, de estar a fazer o jogo do PSD. Houve várias pessoas a ouvi-lo. Terá sido apenas uma brincadeira?
Que se saiba, em qualquer país civilizado, quem define o que tem ou não interesse editorial – o que é notícia – é o jornalista no terreno e a sua direcção editorial, não o gabinete do chefe do Governo. Costuma ser assim em democracia. Se a bem sucedida viagem de negócios ao Oriente se tornou, internamente, um fracasso mediático, a culpa não deve ser atribuída aos jornalistas, mas às declarações do ministro da Economia. Não é por terem aceite boleia num avião fretado pelo Governo que este deve presumir poder usar os jornalistas como instrumentos de propaganda das suas iniciativas. Roubando uma expressão ao socialista João Cravinho, gostaria de concluir dizendo que jornalistas domesticáveis pertencem à classe dos animais domésticos.

Francisco Galope»

evva

1 comentário:

clarinda disse...

Vais ver daqui a nada o governo vai querer importar algum modelo interessante da China, como se quis ou quer importar O modelo de ensino finlandÊs.Até parece por esta posição tão'socrática' que já importou.