domingo, março 29, 2009
Ó tempo, volta p'ra trás...
"...Traz-me tudo o que perdi."
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sábado, março 28, 2009
Em mente num fim de semana de trabalho...
... e em jeito de boas-vindas a uma recente seguidora, aqui ficam duas citações de Paul Lafarge:
Une étrange folie possède les classes ouvrières des nations où règne la civilisation capitaliste. Cette folie traîne à sa suite des misères individuelles et sociales qui, depuis des siècles, torturent la triste humanité. Cette folie est l'amour du travail, la passion moribonde du travail, poussée jusqu'à l'épuisement des forces vitales de l'individu et de sa progéniture. Au lieu de réagir contre cette aberration mentale, les prêtres, les économistes, les moralistes, ont sacro-sanctifié le travail. Hommes aveugles et bornés, ils ont voulu être plus sages que leur Dieu; hommes faibles et méprisables, ils ont voulu réhabiliter ce que leur Dieu avait maudit.
Nos machines au souffle de feu, aux membres d'acier, infatigables, à la fécondité merveilleuse, inépuisable, accomplissent docilement d'elles-mêmes leur travail sacré, et cependant le génie des grands philosophes du capitalisme reste dominé par le préjugé du salariat, le pire des esclavages. Ils ne comprennent pas encore que la machine est le rédempteur de l'humanité, le Dieu qui rachètera l'homme des sordidae artes et du travail salarié, le Dieu qui lui donnera des loisirs et la liberté.
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quinta-feira, março 26, 2009
Tras-os-montes ainda e Portugal?
Ontem de manha a noticia no Publico:Refer fecha Linha do Corgo e Linha do Tamega por tempo indeterminado. Nenhum aviso foi feito as populacoes. A automotora, estacionada em Vila Real, foi levada de volta a Regua pela calada da noite, como se de um roubo se tratasse. Indigno-me com a arrogancia, com a falta de respeito pelos utentes diarios destes comboios, na sua maior parte, idosos e agricultores que viajam para Vila Real ou para a Regua e pelos utentes menos frequentes, nos quais me incluo. Decido telefonar para a Refer para me queixar. Um numero de Lisboa. Nao serve. dao-me um outro numero, desta vez do Porto. Nao sabem de nada. Tento um novo numero, tambem do Porto. "Menina, isso e com Lisboa". Outro numero. O primeiro. Volto a marcar. Uma voz de mulher do outro lado pergunta-me em tom telemarkingesco o que desejo. Quero queixar-me. Quero que alguem me ouca dizer que como trasmontada me sinto desconsiderada, roubada ate. Quero que alguem perceba que os trasmontanos estao cansados de serem os ultimos. Que o que aconteceu a linha do Tua no ano passado, a linha de Vila Real -Chaves, a linha de Mirandela, a linha de Barca de Alva nao pode acontecer com a linha do Corgo e com a linha do Tamega. Quero que a Refer perceba que nos merecemos ter uma linha de comboio em Tras-os-Montes e Alto Douro. A voz do outro lado da linha pergunta: "Isso fica para cima do Porto, nao e?"
Joana
(peco desculpa pela falta de acentos e sinais graficos proprios do portugues, mas escrevi isto no Mac do Michel)
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terça-feira, março 24, 2009
Da importância de tê-los ou não... no sítio
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domingo, março 22, 2009
O artigo da polémica
Vasco Pulido Valente, Público
[evva]
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sexta-feira, março 20, 2009
A propósito do artigo de VPV hoje no Público
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Subscrevo!
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quinta-feira, março 19, 2009
terça-feira, março 17, 2009
segunda-feira, março 16, 2009
Segunda-feira
Pode ser que também chova amanhã. Não é que faça grande diferença mas sempre é mais alguma coisa. Um motivo de conversa, ou então pra desconversar, dizer mal da vida e do tempo.
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domingo, março 15, 2009
antes longe que depressa...
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Alain Bashung (1947-2009)
On m'a vu dans le Vercors
Sauter à l'élastique
Voleur d'amphores
Au fond des criques
J'ai fait la cour a des murènes
J'ai fais l'amour
J'ai fait le mort
T'etais pas née
A la station balnéaire
tu t'es pas fait prier
J'étais gant de crin, geyser
Pour un peu, je trempais
Histoire d'eau
La nuit je mens
Je prends des trains
a travers la plaine
La nuit je mens
Je m'en lave les mains.
J'ai dans les bottes
des montagnes de questions
Ou subsiste encore ton écho
Ou subsiste encore ton écho.
J'ai fait la saison
dans cette boite crânienne
Tes pensées, je les faisais miennes
T'accaparer, seulement t'accaparer
d'estrade en estrade
J'ai fait danser tant de malentendus
Des kilomètres de vie en rose
Un jour au cirque
Un autre a chercher a te plaire
dresseur de loulous
Dynamiteur d'aqueducs
La nuit je mens
Je prends des trains a travers la plaine
La nuit je mens
effrontément
J'ai dans les bottes
des montagnes de questions
Ou subsiste encore ton écho
Ou subsiste encore ton écho.
On m'a vu dans le Vercors
Sauter à l'élastique
Voleur d'amphores
Au fond des criques
J'ai fait la cour a des murènes
J'ai fais l'amour
J'ai fait le mort
T'etais pas née
La nuit je mens
Je prends des trains a travers la plaine
La nuit je mens Je m'en lave les mains.
J'ai dans les bottes des montagnes de questions
Ou subsiste encore ton écho
Ou subsiste encore ton écho.
la nuit je mens...
Au revoir, Bashung!
evva
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Uma semana de luta
A Vida É Feita De Pequenos Nadas
(Sérgio Godinho)
(Segunda-feira trabalhei de olhos fechados
na terça-feira
acordei impaciente
na quarta-feira vi os meus braços revoltados
na quinta-feira lutei com a minha gente
na sexta-feira soube que ia continuar
no sábado fui à feira do lugar
mais uma corrida, mais uma viagem
fim-de-semana é para ganhar coragem)
Muito boa noite, senhoras e senhores
muito boa noite, meninos e meninas
muito boa noite, Manuéis e Joaquinas
enfim, boa noite, gente de todas as cores e feitios e medidas
e perdoem-me as pessoas que ficaram esquecidas
boa noite, amigos, companheiros, camaradas
a vida é feita de pequenos nadas
a vida é feita de pequenos nadas
Somos tantos a não ter quase nada
porque há uns poucos que têm quase tudo
mas nada vale protestar
o melhor ainda é ser mudo
isto diz de um gabinete
quem acha que o casse-tête
é a melhor das soluções
para resolver situações delicadas
a vida é feita de pequenos nadas
E o que é certo é que os que têm quase tudo
devem tudo aos que têm muito pouco
mas fechem bem esses ouvidos
que o melhor ainda é ser mouco
isto diz paternalmente
quem acha que é ponto assente
que isto nunca vai mudar
e que o melhor é começar
a apanhar umas chapadas
a vida é feita de pequenos nadas
(Segunda-feira trabalhei de olhos fechados
na terça-feira acordei impaciente
na quarta-feira vi os meus braços revoltados
na quinta-feira lutei com a minha gente
na sexta-feira soube que ia continuar
no sábado fui à feira do lugar
mais uma corrida, mais uma viagem
fim-de-semana é para ganhar coragem)
Muito boa noite, senhoras e senhores
muito boa noite, meninos e meninas
muito boa noite, Manuéis e Joaquinas
enfim, boa noite, gente de todas as cores e feitios e medidas
e perdoem-me as pessoas que ficaram esquecidas
boa noite, amigos, companheiros, camaradas a vida é feita de pequenos nadas
a vida é feita de pequenos nadas
Ouvi dizer que quase tudo vale pouco
quem o diz não vale mesmo nada
porque não julguem que a gente vai ficar aqui especada
à espera que a solução
seja servida em boião
com um rótulo: Veneno!
é para tomar desde pequeno
às colheradas
a vida é feita de pequenos nadas
boa noite, amigos, companheiros, camaradas
a vida é feita de pequenos nadas.
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"Contra factos não há argumentos"
Este foi o título de um artigo publicado pelo jornal labor (edição on-line de 26 de Fevereiro), relativo ao Relatório de Avaliação Externa da Inspecção-Geral de Educação. Publico-o aqui com autorização do autor. O relatório concluiu alguns “pontos fortes” e alguns “pontos fracos”. Citando o artigo, “como pontos fracos, a débil articulação curricular entre departamentos, o insucesso a Português e Matemática no 9º ano e a Desenho no 12º ano e a fraca participação dos pais no processo educativo”. "Pontos Fortes" e "Pontos Fracos" lá serão. Importa é saber a quem pertencem... Por qual razão será a “fraca participação dos pais” entendida como um “ponto fraco” da escola, com efeitos na sua “avaliação externa”? Esse não será antes um “ponto fraco” dos pais, com efeitos nos "resultados" dos seus educandos? O insucesso nos exames, sendo necessariamente um "ponto fraco" da prestação dos alunos, já não será, necessariamente, um "Ponto Fraco" da prestação das escolas ou, concretamente, da actuação dos professores, até porque nem todos os examinandos de uma escola são alunos dessa escola. Embora relacionáveis, é incorrecto estabelecer uma relação de causalidade directa entre "classificações" e "prestação do serviço educativo" - uma coisa indicia mas não determina a outra e, se assim fosse, também seria aceitável, por exemplo, avaliar o trabalho da polícia pela quantidade de assaltos... É importante considerar que a qualidade da prestação do serviço educativo é mais determinada pela política educativa do que pelo esforço empenhado dos professores ou pela pertinência pedagógica das dinâmicas definidas nas escolas. Se os "maus resultados" dos alunos fossem sinónimo da "má prestação" dos professores nunca haveria "maus resultados". Porque incomodam os pais e os governos, porque não são fáceis de assumir e, principalmente, porque não trazem quaisquer benefícios para os professores, os "maus resultados" merecem um crédito distinto dos "bons resultados" - nesses sim, há muitos interesses... A “avaliação externa” das escolas poderá ser “externa” à escola mas não será “externa” ao Ministério da Educação porque é concretizada por um dos seus serviços – a IGE (Inspecção-Geral de Educação). Portanto, apesar de a “avaliação externa” abraçar propósitos como a “auto-avaliação” e a “correcção das práticas”, não será correcto ignorar que essa “avaliação externa” também tem outro fim – o doseamento das menções “Muito Bom” e “Excelente” que a escola poderá atribuir aos professores, independentemente do mérito que tenham – as “quotas”. Esta “avaliação externa”, à semelhança do próprio modelo de avaliação do desempenho dos professores, instrumentaliza os resultados dos alunos para ilibar as responsabilidades de governação, relacionáveis com esses mesmos resultados. A “avaliação externa” de um serviço, quando determinada por regras e objectivos de quem tutela o próprio serviço, não será credível nem consistente . Lá será “Externa”, mas não “Independente”. Convenha dizer-se que, com “quotas” tão baixas, a excelência dos professores portugueses fica refém do custo dessa “excelência” e não do mérito que tanto se pretende. O que dizer de um Sistema Educativo que só reconhece o mérito que pode pagar? Este é um “ponto fraco” que relevo para o Sistema Educativo português e, sobretudo, para as políticas educativas que o deformam, porque um país que esconde parte do mérito que tem, terá apenas a parte do mérito que reconhece e "contra factos não há argumentos". Paulo Duarte http://www.labor.pt/index.asp?idEdicao=172&id=8483&idSeccao=1790&Action=noticia"Bom e Muito Bom à Serafim Leite"
at 11:44 5 comments
sexta-feira, março 13, 2009
quinta-feira, março 12, 2009
quarta-feira, março 11, 2009
A vida na Bélgica é uma seca
Sobretudo nas autoestradas. Por isso é melhor fazer a festa..
Graças ao clip que o seu irmão gravou Iulian Breazu (23) já é uma estrela na Roménia, na Bélgica no entanto, o ministro de mobilidade vai pedir de levar o jovem dançarino para o tribunal.
Wouter
at 14:19 2 comments
MayDay
Acção de divulgação do MAYDAY Porto 2009 - a força da nossa voz
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segunda-feira, março 09, 2009
Casar com um ingles dá porrada todo o mês
Que pena o nosso Cardeal não ter tido acesso a estas estatísticas publicadas no "The Times" antes da sua 'homilia' do Casino Estoril:
Women should be hit for wearing sexy clothing in public, one in seven believe
One in seven people believe it is acceptable in some circumstances for a man to hit his wife or girlfriend if she is dressed in “sexy or revealing clothes in public”, according to the findings of a survey released today.
A similar number believed that it was all right for a man to slap his wife or girlfriend if she is “nagging or constantly moaning at him”.
The findings of the poll, conducted for the Home Office, also disclosed about a quarter of people believe that wearing sexy or revealing clothing should lead to a woman being held partly responsible for being raped or sexually assaulted.
Although a majority of 1,065 people over 18 questioned last month believe that it is never acceptable to hit or slap a woman, the poll found that those aged 25-39 were more likely to consider that there were circumstances in which it was acceptable to hit or slap a woman.
Men and women over 65 and those in the lower social class groups D and E are more likely to believe that woman should be held partly responsible for being raped or sexually assaulted, Ipsos Mori telephone poll found.
Jacqui Smith, the Home Secretary, said: “Violence against women and girls is unacceptable in any form no matter what the circumstances are.”
Joana
at 21:25 0 comments
sexta-feira, março 06, 2009
Uma questão de tamanho...
at 10:24 0 comments
quarta-feira, março 04, 2009
Nada como uma canjinha...
Sónia
at 10:55 2 comments
terça-feira, março 03, 2009
Freud explica
Alguma professora de Espanhol por aqui para explicar este típo de lapso?
Wouter
at 21:21 2 comments
segunda-feira, março 02, 2009
Ainda o Caramel
Há já algum tempo, escrevi esta crítica sobre "Caramel" com a intenção de a publicar num blog dedicado aos estudos feministas. No entanto, o texto nunca chegou a ser publicado, creio eu por se ter orientado mais para a divulgação de encontros científicos do que para a crítica cinéfila. Como tal, não vejo qualquer problema em publicar o texto aqui. Caso ele venha a aparecer no outro blog, está a ressalva feita.
O açucar das raparigas
Caramel, a primeira longa metragem de Nadine Labaki, apresentada no Festival de Cannes em 2007, e que é o primeiro filme libanês a chegar a um público alargado, permite-nos encontrar um Líbano diferente daquele a que nos acostumaram a televisão ou os jornais. Ao contrário da maior parte dos filmes produzidos nas décadas de 80 e 90 do século passado, cuja temática girava em torno da Guerra Civil (1975-1990) e sobre as suas repercussões, Caramel não procura revisitar o passado conturbado nem focar problemas puramente políticos que ainda persistem, mas sim revisitar o dia-a-dia de pessoas comuns, com a particularidade de centrar a sua atenção no universo feminino. O título do filme e o genérico ao reportarem-se à preparação da substância comunmente usada para a depilação no Oriente, diz ao espectador: “este filme vai falar de mulheres!” O título árabe reforça essa indicação, já que “Sukkar Banat”, para além de designar a mistura depilatória, significa à letra “Açucar das raparigas”.
O filme narra a(s) história(s) de cinco “doces” mulheres que se encontram no salão de beleza “Si Belle” (de notar a homofonia com Cibele, a Magna Mater da Ásia Menor, com poder sobre a natureza e a fertilidade) em Beirute: Layale (Nadine Labaki), esteticista, vive uma relação com Rabih’, um homem casado, mas tem como pretendente Joseph (Adel Karam), um polícia de trânsito; Nisrine (Yasmine al Masri), cabeleireira, perdeu a virgindade com um homem que não é aquele vai desposar em breve, Rima (Joanna Moukarzel), com a mesma profissão, sente-se atraída por mulheres. Jamale (Gisèle Aouad), cliente habitual do salão, mostra dificuldades em lidar com o envelhecimento. Perto do salão fica o atlier de Rose (Sihame Haddad), costureira, que vive com uma irmã mentalmente instável, Lili (Aziza Semaan).
Apoiado num argumento bem-disposto (é pena que muitos dos momentos engraçados do filme advenham da linguagem utilizada pelas personagens e por isso se percam na tradução), com momentos felizes intercalados com acontecimentos menos felizes, o filme reflete sobre as tensões com que as mulheres libanesas lidam no seu quotidiano e que advêm da dificuldade em conjugar os deveres para com as estruturas tradicionais da sociedade – a família, as convenções sociais - com os seus desejos individuais: Rose tem de abdicar do amor para continuar a cuidar da irmã, Layale e Nisrine temem, pelo seu comportamento, envergonhar a família. Nisrine prefere recorrer a uma himenoplastia do que confrontar o noivo e a família com a sua trangressão. O discurso que a mãe de Nisrine lhe faz na noite anterior ao casamento sobre aquilo que a espera, revela o contraste geracional e cultural entre ambas. A cirurgia devolve-a ao espaço ideal da virgindade mas trata-se apenas de uma virgindade corporal, já que emocionalmente a experiência sexual de Nisrine não pode ser apagada.
A tentativa de enganar o tempo como forma de se adequar às convenções sociais tamém é visivel na personagem de Jamale, ao fingir ainda tem ciclos menstruais. É a prova de fertilidade que lhe assegura o lugar na juventude que procura: A sequência de cenas em que as mulheres se juntam para apanhar o ramo no casamento de Nisrine é intercalada com a ida de Jamale à casa de banho, para criar essa ideia. Só depois Jamale se junta ao grupo de mulheres que espera o ramo, as jovens as que ainda podem casar. O casamento – que no contexto libanês significa o espaço social onde o amor pode existir – tem coordenadas temporais circunscritas. E parece mais fácil enganar a passagem do tempo do que remar contra a norma social.
A família é pois um impedimento para a realização pessoal não apenas no que toca às relações sentimentais, mas também no que diz respeito à possibilidade de a mulher decidir livremente sobre a sua imagem: Antes de chegar a casa dos pais do noivo, Nisrine adopta um visual mais conservador; a bela mulher a quem Rima sugere um corte de cabelo ousado evoca a oposição da família para não o fazer; e a mulher de Rabih’ mantém a cor do cabelo inalterada por desejo do marido.
Numa sociedade em que a esfera pública é apenas o lugar de confluência de espaços privados, o espaço público torna-se hostil aos encontros entre pessoas de sexos opostos cuja relação não é socialmente oficial: Nisrine e o noivo são interpelados por um polícia pelo simples facto de conversarem sozinhos na rua à noite; no dia de aniversário de Rabih’, Layale procura um hotel para passarem a noite, mas apenas consegue um quarto numa pensão frequentada por prostitutas, já que os hotéis ditos “respeitáveis” só acomodam casais.
Mas o espaço não comparece apenas como lugar adverso às personagens: o salão de beleza é o lugar que une todas essas mulheres, espaço vedado em princípio aos homens. Contudo Joseph, o pretendente de Layale, entra nesse espaço e prova o agridoce “Sukkar Banat”: sorri, por finalmente se aproximar da mulher por quem suspira ao mesmo tempo que deixa escapar uma lágrima de dor quando Layale lhe depila as sobrancelhas. A sua presença física no filme contrasta com a ausência do amante de Layale, que nunca chegamos a ver, como se essa inexistência visual indicasse que a relação que mantém com Layale se faz mais de ausências do que presenças. Layale acaba por vingar-se de Rabih’ na pessoa da mulher, Christine, ao depilá-la de uma forma intencionalmente dolorosa.
A homossexualidade feminina é abordada através da história de Rima: a sua aparência andrógina pode até ser considerada masculina, quando comparada com as restantes personagens femininas: é a única a usar calças e a única a ter o cabelo curto e a não se maquilhar. A realizadora preocupa-se em mostrar o olhar intenso com que observa outra mulher no autocarro, e a cumplicidade que estabelece com uma anónima e bela cliente para mostrar suas preferencias sexuais. O retrato-cliché de Rima pode resultar não tanto de uma visão estereotipada da lésbica, mas talvez de uma estratégia de enunciação que indicia de forma não explícita um comportamento sexual não consensualmente aceite pela sociedade.
No desenlace, Caramel reconduz as personagens transgressoras a um lugar que obedece ao statu quo social: Layale abandona o amante, Nisrine re-torna-se virgem e Rose esquece o seu pretendente. Só a mulher amada por Rima – que sob o seu anonimato pode simbolizar a mulher libanesa - decide cortar o cabelo. Tradição ou modernidade, qual prevalecerá? A opção depende do optimismo de cada espectador.
Joana
at 21:17 1 comments