segunda-feira, janeiro 22, 2007

Ah… o Aborto

Se tem havido aspecto que me tem agradado nesta campanha do referendo do Aborto, é que as pessoas que defendem o Sim parecem ter abandonado a tradicional atitude de superioridade moral, em prol da acção civica e assim tentar fazer aquilo que os partidários do Não sempre souberam fazer bem: convencer as pessoas a votar na opção que defendem.

Daí que me dá especial prazer escrever este post em reposta à intervenção anterior que, para não variar, insiste em abordar a questão do Aborto de forma panfletária e sensacionalista. Enfim… uma autêntica blasfémia…

Para que não haja dúvidas: Somos Todos contra o Aborto!
Não estamos a defender o direito de matar mas sim o direito de escolher a forma como vivemos. Sim, vivemos. A mãe, o pai, os irmãos e irmãs que já cá estão, e o resto da família.
Só argumenta com a desresponsabilização dos futuros/eventuais pais quem não quer pensar que a venda de preservativos e restantes anticoncepcionais é hoje uma realidade avassaladora, e que precisamente por isso, as pessoas não devem ser castigadas quando eles não funcionam.
Então, afinal em que ficamos? Podemos ou não ter relações sexuais só por prazer? E se a maioria concorda que sim, então porque é que obrigamos as pessoas a criar uma criança se essa não era a sua intenção? Afinal a maternidade e a paternidade são ou não actos de amor consentido e almejado?

Para que continue a não haver dúvidas: Somos Todos a favor dos pais e das mães, da familia com ou sem filhos!
Tal como uma familia que quer mas não consegue ter filhos, triste é aquela que os tem mas não os quis.
A responsabilidade das pessoas é a mesma, quer quando decidem ter como quando decidem não ter filhos. O nosso dever é apoiar a sua educação e garantir que, quando elas não a têm, possam passar a tê-la. A autonomia, e não o individualismo, é o que se procura.
O objectivo é que todos possam pensar pela sua cabeça e formular o seu juízo, sabendo à partida em que é que acreditam.

E se ainda houver dúvidas: Somos pelos pequeninos, pelos bebés, pelos fetos, e pelos embriões.
Creio que quase nenhum de nós fica indiferente à felicidade de uma nova vida, de um novo filho, de uma nova sobrinha, ou de uma neta. Só mesmo quem tem muito medo das pessoas é que pode pensar que alguém que decide abortar não sente amor ou respeito pelo próximo. O facto de haver pessoas que o fazem de forma irresponsável não quer dizer que todos o façam.

A todos que defendem a mesma posição que eu, por favor, escrevam, discutam, convençam. Não pensem que as pessoas vão acreditar em nós porque nos acham mais espertos ou inteligentes. Elas só vão acreditar em nós quando conseguirmos fazer com que os nossos argumentos sejam os mais vistos, os mais discutidos, os mais propagados. E aí, vão pensar neles e, se tudo correr bem (como vai correr), vão votar Sim.


Quanto à amiga Romena, eu também tenho amigas. Alemãs, espanholas, belgas, inglesas, gregas e chinesas.
E todas elas pasmam quando eu lhes digo que no meu país o Aborto é um crime. Sim, Crime!
Esse é o problema.


andré

8 comentários:

Anónimo disse...

Esta é, com toda a certeza, a melhor defesa do SIM que li até agora. Acho que nem eu soube explicar tão bem porque vou votar sim.
Muito obrigada.

Anónimo disse...

Claro que é crime... Matar uma pessoa tem de ser crime. Isso é óbvio...

Esplendor disse...

Plenamente de acordo, Nuno.

evva

menina-m disse...

também concordo, matar uma pessoa é crime.


agora, resposta para a fulcral questão "o que é uma pessoa", se nem todos os filósofos da história souberam responder, então eu não respondo.
só posso achar que um nascido é + ou - pessoa do que um não nascido. tal como uma mãe é + pessoa do que um óvulo fecundado. mas lá está, não sou dona da verdade. e por o não ser, voto sim.

Anónimo disse...

você acredita mesmo que a maior parte das gravidezas resulta de falhas dos anti-conceptivos? não me diga que também acredita no pai natal...

Esplendor disse...

Pai Natal?!
Não!
Eu acredito na fada madrinha, no lobo mau, e no capuchinho vermelho.

andré

norma disse...

Mariana concordo contigo: O tão badalado argumento do "mas há um coração a bater" não me convence. Primeiro, porque ainda que não seja politicamente correcto dizê-lo, há centenas de outros seres (evito usar a palavra pessoa ou ser humano pelas razões que acima mencionaste)que também cabem nesse espectro. Segundo, porque, segundo me parece, o critério para decidir se uma pessoa morreu ou não (corrijam-me se estiver errada) é o cérebro. Não pode ser este o mesmo critério para ajudar a definir o que é uma pessoa ou não?

André parabéns pelo teu post.

Joana

norma disse...

Só mais uma questão relativamente aos dados fornecidos pela amiga romena: as mulheres fazem três abortos por ano exclusivamente depois da despenalização?

Mas se anteriormente o aborto era praticado na clandestinidade, como é possível afirmar que isso nao acontecia antes. Acho distorcido apresentar a existeência desse número de abortos como uma consequência da despenalização.