sábado, janeiro 27, 2007

NÃO

O que se pretende com este referendo não é despenalizar as mulheres que se submetem a uma prática que visa eliminar uma vida que cresce dentro de si, o que, aliás, e correndo o risco de ser atirada à fogueira, deveria ser sempre um crime severamente punido por lei, excepto nos casos previstos pela actual legislação. Dizia eu, e com toda a convicção, o que se espera do resultado da votação de 11 de Fevereiro próximo é liberalizar uma prática que a maioria dos apoiantes do Sim concorda em condenar, como se pode ler num post ali abaixo: «Somos Todos contra o Aborto».

Uma gravidez não é um castigo pelo mau funcionamento de uma metodologia anticoncepcional e, se duma relação sexual, por prazer ou outras vontades, resultar esse milagre que é a vida, que se assuma, então, a responsabilidade de zelar pela gravidez até ao parto. Se conduzo o meu bólide a alta velocidade, pelo puro prazer que ela me dá, e provocar um acidente com a morte de terceiros, devo ou não ser condenada por isso? Ou teremos chegado a um momento civilizacional de puro egoísmo e desresponsabilização?

Como tal, também não me parece que uma gravidez indesejada obrigue forçosamente um pai, uma mãe, ambos, ou cada um por si, a cuidar uma criança. Por que não entregar o bebé para adopção, se tantos casais o desejam e aguardam? O sistema de adopção funciona mal? Então que se invista na sua melhoria, se crie condições às mulheres, adolescentes ou não, para poderem desenvolver sem prejuízo a sua gravidez indesejada e, após o parto, que o recém-nascido seja entregue a quem o deseja, tem vocação e condições para lhe dar uma educação condigna e o afecto que merece. Repito, se este sistema não funciona, é uma total irresponsabilidade e um crime liberalizar a interrupção voluntária da gravidez, inclusive à custa do erário público e do meu trabalho mensalmente tributado. Se pensarmos bem, e ninguém o pode negar, até poderia ser um bom investimento em termos futuros, num país de tão baixa e tão cara taxa de natalidade.

Acredito que a despenalização da IVG, ou liberalização, redundará no aumento da prática abortiva e na bandeira “Não se preocupem em investir em métodos anticoncepcionais, se um momento de prazer resultar numa gravidez indesejada, sempre podem ir ali ao hospital mais próximo e resolver o assunto». Por isso, convictamente e tal como há oito anos atrás, votarei NÃO.

evva

2 comentários:

menina-m disse...

li o teu post até ao fim. também poderia ter parado logo no início, mas depois não poderia criticar convictamente a tua perspectiva.
como grande parte dos apoiantes do não, estás a deturpar a pergunta. e essa é se nós aceitamos ou não que abortar é crime ou não.
se achas que sim, votas não. caso contrário, votas sim.

em relação às adopções, acredita que estás a muitas milhas da realidade. há milhares de crianças em centros de acolhimento (como o da minha mãe...) que não podem ser adoptadas. sabes porquê?
imagina que uma criança para ser dada para a adopção tem que estar 5 meses ser ter visitas da família. agora, imagina que 1 dia antes do prazo acabar, uma tia avó ver ver a criança. o processo volta ao início.
depois, quando referes que há muitos casais que querem adoptar (e te esqueces de muito egoísmo que POR VEZES está por trás disso), não te lembras que crianças de outras etnias, doentes, com algum tipo de deficiência ou necessidade especial, com 3 anos ou mais, ficam sempre de fora. é um exército de ciranças que viverá continuamente em centros. sem pais.
finalmente, a baixa natalidade. por essa lógica, era bom obrigar-mos as mulheres a terem filhos para "encher estatísticas". parece ficção científica! precisamos de jovens para trabalhar? milhares de imigrantes querem efectivamente trabalhar em portugal.

e fico-me por aqui. está sol, mas muito frio...e tenho que trabalhar =(

Esplendor disse...

Claro que abortar é um crime.
Não consegui ler o teu texto até ao fim por questões de sensibilidade, porque me chocou muito a argumentação, não porque não queira dialogar sobre o assunto.
As pessoas adoptam crianças por EGOÍSMO?! Nunca tal tinha ouvido e conheço casais que adoptaram crianças com deficiências e de outras etnias, não generalizes. Num caso que acompanhei, foram adoptados dois irmãos com problemas de saúde que já tinham passado há muito essa idade. Mas por muito mal que o sistema de adopções funcione, essa não é desculpa para impedir que as crianças nasçam.
Quanto à baixa natalidade, a minha convicção brada que é um enorme contra-senso querer aumentar, por um lado, o número de nascimentos e, por outro, criar ondições para que se interrompa uma gravidez apenas pelo motivo ‘não me apetece’.

evva