sexta-feira, janeiro 26, 2007

«FINAL

Não foi sem dificuldade que este livro rompeu através dos interstícios do mundo até chegar às tuas mãos, leitor, para aí, como um deserto a abrir noutro deserto, criar uma irradiação simbólica, magnética, onde o branco do papel e o negro das palavras (...) pudessem fundir-se e converter-se nessa outra a que, na enigmática expressão de Sá-Carneiro, a saudade se trava. Como um desses objectos cujo peso, assim que neles pegamos, instantaneamente se divide entre as nossas mãos e a alma, é mesmo de crer que ele esteja já dentro de ti - e algo de mim com ele. Acolhe-o, pois, com benevolência, que, chegada a altura, havemos de arder juntos.»

Luís Miguel Nava
Vulcão (2ª edição, 1995)



evva

2 comentários:

clarinda disse...

Olá,

Uma boa técnica para convocar o leitor, envolvê-lo cúmplice de um pacto. Sabemos disso, não é?

Também virei aqui muitas vezes, podes crer.

Esplendor disse...

Bem-vinda!
Mas o mais interessante é que é um texto que aparece exactamente no final do livro, não é um prólogo ou uma epígrafe. Ofereceram-me o "Vulcão" já há muitos anos, numa altura em que acabara de descobrir o Luís Miguel Nava e devorava a sua poesia, que é muito intensa e visceral. Este texto evoca exactamente aquilo que peço aos livros de poesia, que me deixem beber as suas palavras, fazer delas o sangue do meu sangue e, no final, ardermos juntos.

evva