VLCD!
do lugar onde estou já me fui embora
pelo Teatro Meridional
Sábado, 7 de Fevereiro às 22h
Auditório Municipal da Póvoa de Varzim
SINOPSE
Desde que o Homem passou a medir o tempo este, inevitavelmente, também o mediu a si. VLCD! é um espectáculo que, através do humor e do absurdo, versa sobre a velocidade. A mesma que conduz nos tempos modernos o ser humano a um nível de vida material que se dissocia da sua própria felicidade. A mesma onde um olhar mais atento (quiçá mais lento...) podia também identificá-la como o verdadeiro truque de uma sociedade de consumo.
A ingenuidade das personagens e a acutilância que pode ter a irrisão são os pontos de partida deste novo desafio, que tem como base de interpretação a técnica de clown, o gesto e a criação colectiva.VLCD! é igualmente uma nova estação desse já vasto, impermanente e misterioso percurso do Teatro Meridional no sentido de uma comunicação própria e íntima de um Teatro que, verdadeiramente, se afirma como a arte do presente e da presença.
SOBRE O ESPECTÁCULO O Homem mede o tempo e o tempo mede o Homem.
(Antigo provérbio italiano)
Desde que as cidades começaram a acertar as horas entre si, desde que o tempo se tornou realmente mensurável, fraccionável, espartilhável em calendários, períodos e horários, o Homem tem aumentado de facto a sua produtividade, a sua riqueza e prosperidade... mas fê-lo na mesma proporção em que se tornou também mais infeliz.
Falar em tempo, hoje, significa acima de tudo compreendê-lo em velocidade, impondo-se agora uma nova ordem do mundo: o mais capaz é o mais rápido. Independentemente da qualidade, do valor intrínseco, da beleza, do afecto, o melhor é o que chega primeiro. Mas é assim também que se passa superficialmente pelas coisas (senão pela própria vida), sem aprofundamento algum, sem vivência interior, sem a essência imaterial dos objectos que suscitaram algures o nosso interesse. Pouco ou nada se vivencia ? nem mesmo a relação com a experiência tida.
Anda-se tão apressado que tudo e todos os que possam atrasar essa marcha se transformam no inimigo. E, assim mesmo, nesse pressuposto, se fez toda uma Revolução Industrial, onde o ser humano se tornou ele próprio um bem que tem que circular para que esta grande engrenagem nem sequer sofra a fricção de um pensamento. Comer depressa, dormir depressa, amar depressa... transformou as pessoas em casas com janelas abertas para a rua mas sem alguém a espreitar por elas. Ruas que, afinal, mais não são que perfeitos túneis de ?A a B? onde seres humanos se projectam, quais comboios rompendo, rompendo, rompendo furiosos a paisagem e por isso rasgando-a de um possível desenho onde ainda se pudesse sonhar.
Mas com o aumento da esperança de vida, nos últimos 150 anos, a questão da felicidade tornou-se presente (e muito premente). Há que ser feliz, aqui e agora, não numa vida depois da morte. Há que ser feliz, agora que por volta dos quarenta anos existe todo um tempo de vida que, do ponto de vista da reprodução da espécie, se tornou redundante.
Responder à questão do Teatro, hoje, significa assim, para o Teatro Meridional, pensar toda uma orquestração onde a relação entre "quem-faz-e-quem-vê" se revelou sempre, ao longo de quase duas décadas, a maior de todas as viagens. Aquela que vai de uma pessoa a outra e pode não ter fim. Aquela que, afinal, evoca o presente e a presença como a mais fundamental de todas as medidas e a única capaz de enfrentar, justamente, a velocidade.E quem melhor para se projectar no tempo presente do que o Clown?
Destas premissas nasceu um espectáculo, feito do encontro de todos os seus criadores. Um espectáculo edificado e projectado dramaturgicamente no espaço contemporâneo dos ensaios e que também ele se debateu, na sua fase de criação, com as mesmíssimas questões que eram, afinal, o seu objecto. Das alegrias, descobertas, dificuldades e também tantas angústias resultou uma oportunidade de crescimento e de valorização humana inesquecível.
Como falar do tempo? Como traduzir através de acções essa sensação tão concreta e tão aguda de que já partimos do lugar onde acabámos de chegar? Como repetir emoções que, debaixo dos nossos narizes, no quotidiano, já nem damos por elas ou tornaram-se tão banais que são tidas como normais?
Como fazer Teatro mais uma vez?
Nuno Pino Custódio
FICHA ARTÍSTICA E TÉCNICA
Criação
Teatro Meridional
Direcção Cénica
Nuno Pino Custódio
Interpretação
Espaço Cénico e Figurinos
Marta Pedroso
Música Original e Espaço Sonoro
Fernando Mota
Desenho de Luz
Miguel Seabra
Fotografia
Margarida Dias
Design Gráfico e Registo Vídeo
Patricia Poção
Assistência de Cenografia
Marco Fonseca
Montagem
Rui Monteiro e Marco Fonseca
Operação Técnica
Rui Monteiro
Assessoria de Imprensa
João Pedro Amaral
Assessoria Jurídica
Diogo Salema da Costa
Assistência de Produção
Filipa Piecho
Direcção de Produção
Narcisa Costa
Direcção Artística
Miguel Seabra e Natália Luíza
[evva]
P.S.: Se alguém conhecer um cantinho agradável e barato para jantar na Póvoa de Varzim, não hesite em em partilhar, sim? Obrigada.
1 comentário:
Partilho esta reflexão sobre o tempo e a sua dimensão subversiva.
Agora, depois do espectáculo, só acrescentaria que o trabalho linguístico dna peça merecia, por sí só um post. Quem pede ao Luciano que comente aqui este tema?
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