domingo, março 15, 2009
"Segundo os sindicatos e não desmentido por ninguém, nesta sexta-feira mais de 200 mil manifestantes desceram em festa a Avenida da Liberdade num belo dia de sol. A maior manifestação de sempre, dizem.
Uma vez mais se cumpriu o dia da manifestação da Primavera. Eu estive presente, como sempre, não por considerar que sejam importantes para alcançar resultados ou defender direitos, mas por aquilo que poderia representar o não lá estar. Desconfio dos resultados porque não acredito que baste desfilar numa avenida, mesmo que esta se chame liberdade, fazer uns discurso, gritar umas palavras de ordem e voltar calmamente a casa para mudar seja o que for. A realidade mostra que estas “lutas” para defender ou protestar nunca impediram a perda daquilo que não se queria perder. Basta ver o código de trabalho para se ter um bom exemplo. Nestas manifestações tira-se mais a “pressão à panela” que se coloca pressão sobre os governantes. Eu acredito na necessidade de se ser mais “duro”, de fazer exigências e exigir que sejam cumpridas sob a ameaça de se radicalizarem mais as lutas. Não ameaçando com mais manifestações ou um dia de greve para mais tarde, mas com greves mais longas e duras que paralisassem o país. Isso iria exigir sacrifícios de todos nós, para alguns enormes sacrifícios, mas nenhuma luta se ganha sem eles, sem determinação e sem confiança numa vitória final.Bastava que nos mostrassem que a “guerra” era para ganhar que os sindicatos, como nossos “generais” não aceitariam compromissos, “memorandos”, ou desistências e comprometendo-se a ir até ao fim. Tudo é possível de ser feito. Não temos de nos acomodar a um “fado” que esteja traçado e impossível de mudar. Há alternativas, há outras formas de organização social, outras maneiras de vivermos as nossas responsabilidades no nosso destino. Podemos fazê-lo, basta que haja a vontade. Estarão os sindicatos dispostos a isso ou vão continuar a preferir fazer mais uns passeios sazonais pela avenida?"
Subscrevo totalmente o primeiro segmento destacado a negro, mas não o resto. Repudio particularmente o tom de quem fala "do alto da sua razão" e o tom de distância e gozo relativamente "aos sindicatos" ("eles, os sindicatos... num belo dia de sol..., em passeios sazonais..."). Também nunca gostei de generais, nem sequer fui muito com fardas, mas se tiver que alinhar, prefiro soldados rasos e milicianos... No autocarro onde eu ia, ninguém voltou calmo para casa, fomos e viemos inquietos, a pensar e debater a luta, a escrever documentos, a agendar reuniões sindicais, a prepará-las... isso não nos impediu de dar pelo sol ou de contar uma anedota e abraçar os amigos que só vemos nestas coisas. Ninguém (ou, pelo menos, ninguém que não seja muito ingénuo) lá foi com a pretensão de que ia para Lisboa mudar tudo de uma vez por todas, nem sequer tenho a certeza de que vou ver no meu tempo de vida o resultado de eu ter lá ido, mas ir lá teve consequências e não ir, também. "Basta ver" o que se passou com as manifestações pelo subsídio de desemprego para os professores.
Desconfio muito destes gritos de "ou tudo ou nada" quando lançados ao vento, por muito válidos que sejam. Gritou-se por não entregar objectivos: não vou dizer que tudo o vento levou; pelo contrário... o vento agora traz daquela poeira que pica os olhos de quem não queria ver e acho isso bonito. Eu não entreguei e voltaria a não entregar, mas tenho dúvidas de que tenha sido a escolha mais eficaz. Não pretendo isolar-me de quem está comigo nesta luta e, gostando ou não, esses são todos os que vivem comigo neste mundo. Não gosto dos que vão a correr para a frente chamar lentos aos que ficam para trás. Justiça seja feita, não sei o quanto (se algo) daquilo que digo se aplica a quem escreveu o texto em epígrafe: já deixei de me orientar para ele no segundo parágrafo. Seja como for, quem o escreveu esteve lá e isso vale o que vale.
Sónia
(Com o meu agradecimento ao João pelo envio do texto e por me "picar" para responder estas coisas... Os destaques a negro são da responsabilidade dele. Ele que vos ature...)
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1 comentário:
Um texto destes pode ter várias interpretações. Não acho que o(s) autor(es) deste blog fale(m) "do alto da sua razão".
A ideia de general pode ser realmente dada a várias interpretações. A minha interpretação, que penso coincidir com a do autor, não tem nenhuma intenção bélica nem autoritarista. Talvez a comparação seja mal escolhida. Acho que deve ser lida como alguém que lidera e não que chefia. Alguém que inspira, motiva e dá confiança.
"No autocarro onde eu ia, ninguém voltou calmo para casa, fomos e viemos inquietos, a pensar e debater a luta, a escrever documentos, a agendar reuniões sindicais, a prepará-las..."
Também não é essa a minha interpretação. O autocarro é a continuação da manifestação. Trata-se do depois, do dia a dia, da resistência individual e do assumir posições coerentes e continuadas. É um pouco como aqueles professores que foram às manifs, fizeram greve, assinaram moções (porque se sentem protegidos pelo anonimato) mas, depois, acabaram por entregar os OI. É apenas uma comparação...
Seja como for, quem o escreveu esteve lá e isso vale o que vale.
:)
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