O artigo da polémica
«Os valores de Bento XVI não são os valores de um governo, de uma ONG ou de um indivíduo que tenta limitar o imenso desastre da sida em África. São valores de outra ordem. São valores de uma ordem religiosa, que cada vez menos se percebem ou respeitam no Ocidente. Não vale por isso a pena discutir a moral sexual da Igreja (e do Papa). Vale a pena garantir que ela não invade a esfera da liberdade civil. Ora Ratzinger não andou por África a pedir que se proibisse o preservativo. Pediu aos católicos que prescindissem dele, em nome de uma perfeição que os católicos escolheram procurar. A influência dele é, neste capítulo, deletéria? Inegavelmente. Convém que ela não alastre em África (e na Europa)? Sem a menor dúvida. Mas sem esquecer que o Papa está no seu direito e no seu papel.»
Vasco Pulido Valente, Público
[evva]
7 comentários:
"deletério"
Para que usais palavras que me recordam o pesadelo do DELE e dos concursos ao grupo 350?!?!
Desculpem, mas o VPV, por muito que o aprecio, está enganado. Não se trata de 'valores de outra ordem' que merecem o respeito, desde que 'não interferem com a esfera da liberdade civil'. O problema da SIDA em Africa não se põe em opções de vida como a gente as conhece, trata se duma questão de saúde pública de cuja emergência occidentais como nós (VPV incluído)não se apercebem. Mais de 20 milhões de Africanos já morreram de SIDA, mais menos o mesmo número deve estár infectado com o virus. Todo avanço que foi feito no combate à doenço, baseia se na prevenção, de qual a distribuição en sobretudo a demistificação do preservativo são elementos essencias. Ventilar uma opinão de que é sabido que deita por terra todo este esforço, não é meremante 'ser consequente com seus próprios valores' (sejam eles de outra ordem ou não) é criminoso. E não estou a ver por que o líder religioso merecia outro tratamento que Milosevic ou Omar al-Bashir. Ala com ele pra Haia..
Wouter
Está tudo doido?! Mas agora foram todos possuídos de odiozinho jacobino anti-clerical?! Crimes contra a Humanidade?! Tribunal de Haia?!
Deve ser difícl, para um não crente, compreender o radicalismo das opções que o Papa prega, mas não será a abstinência estóica um melhor meio de combate à doença? Tomam as declarações do Papa fora do contexto da teologia que prega, como se a questão do uso do preservativo fosse uma bandeira ideológica da Igreja Católica.
Quanto aos esforços da Igreja para o combate à sida em África, remeto para os meus comentários ao post anterior.
Correndo o risco de me repetir, o Papa propõe um caminho de vida alternativo, quem não for crente ou não quiser acreditar, que não o siga.
evva
A bandeira ideológica desta igreja não tem nada a ver com principios nobres que vão além do nosso vocabulario quotidiano. É uma estratégia de comunicação cínica, de uma organização que está a redefinir o monopólio que perdeu no século XX, misturando a bondade - o seu USP (unique selling proposition) de costume - com um conservadorisme moral extremo. Com este novo posicionamento a igreja toma o papel de antagonista do o islão fundamentalista, posição essa que aproveita do bipolarismo que se instalou no mundo desde 11/9 e por isso se mostra cada vez mais fértil. A morte de mais uns poucos milhões de Africanos ou a vida duma criança Brasileira de 9 anos (que foi violado pelo seu padraste, fez um aborto e por consequência ela e a mãe foram excomunicadas) é mera collateral damage nesta batalha ideológica 'de outra ordem'.
Quanto ao esforço da igreja ou grupos ligados á ela contra a SIDA, é obvio que esse é enorme - o contrário seria um escândalo para uma organização com uma rede mais vasta que a da Coca-Cola. Mas tenho a certeza que nem toda gente destes paróquias e grupos locais ficou tão contente com a mensagem do Bento. Abstinência estoica pode ser um modelo teórico muito bonito, tal com é bonito pensar que havera paz na terra se só fossemos mais tolerantes e pacientes um com outro, hélas, mas o homem é um ser sexual, como é um ser por vezes violento. E e melhor tentar controlar estas condições, que agravam as vezes os nossos problémas, num quadro racional, com meios que provaram a sua eficâcia, do que relegar tudo outra vez para um ser superior, cuja (in)existência já nos fez perder bastante tempo.
Wouter
Por falar em odiozinho jacobino anti-clerical...
evva
concordo com o Wouter. Civilizacionalmente, já devíamos ter avançado mais em termos de acção religiosa depois das cruzadas. Ainda anda por aí muito cavaleiro de Cristo à solta (e não estou a falar de ti evva)...
Eu também. O argumento do Wouter é bem mais realista e faz mais sentido do que o meu.
Deve ter sido mais uma das minhas crises idílicas. Acontece.
André
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