quarta-feira, julho 19, 2006

A legitimação da violência

Na passada segunda-feira, enquanto antecipava os títulos dos jornais britânicos do dia seguinte, a estação televisiva SKY News destacava a foto do jornal inglês The Guardian que descrevia de forma impressionante a devastação que a força aérea israelita tinha causado em Beirute, a capital do Líbano. Na tarde do dia seguinte, a mesma estação cobria o sofrimento da mãe de um dos soldados israelitas raptados e destacava os mortos no ataque do dia anterior à estação de comboio de Haifa, bem como o ambiente de tensão e de medo que se vivia naquela cidade, que pelas imagens parecia ainda de pé.

Na terça-feira vi o presidente da Comissão Europeia a pedir ao Hezbollah, mas não a Israel, o cessar imediato da sua actividade militar. Vi o jornal Público a fazer manchete com o ataque à estação de comboio de Haifa e a deixar para segundo plano a destruição do Líbano, e vi eurodeputados do PS, do BE, e da CDU a exigir uma posição da UE contra o ataque de Israel, enquanto o deputado do PSD, um respeitado intelectual, defendia a posição vigente.

Hoje, quarta-feira, o primeiro-ministro britânico afirmou no parlamento que enquanto as condições obrigatórias para o cessar fogo (de Israel) não estiverem cumpridas, ou seja enquanto o Hezbollah não parar a sua acção militar, nada de novo vai acontecer, ou seja, Israel não vai ter de parar os bombardeamentos.

Esta situação é aparentemente simples para muitos dos que estão a ler este texto, pois Israel é a vítima óbvia de uma organização terrorista que todos condenamos. Israel representa para muitos um pedaço do Ocidente (seja lá o que isso for) no meio de um conjunto de Estados subdesenvolvidos que representam ou estão associados ao Eixo do Mal (?!…).

A agressão de Israel não é terrível apenas pela enorme desproporcionalidade de recursos militares, ou pelo ataque a bairros cristãos, ou pelo morte de civis, ou pela devastação de um país que já estava a conseguir dar a volta por cima depois de uma guerra longa.
O que choca é que estes ataques fazem parte de um projecto militar de larga escala a partir do qual o Estado Judaico pretende eliminar todas as potenciais ameaças à sua existência. E porquê? Talvez porque o seu principal aliado, os EUA, pense da mesma forma em relação à sua política externa. É pra deitar tudo abaixo! Iraque, Líbano, quem sabe até o Irão e a Coreia do Norte e, se for necessário, a Síria.

Quanto à foto do The Guardian, talvez fique no top do ranking de um qualquer concurso internacional de fotojornalismo onde será abraçada com choque e muita admiração.

Já agora, e para que se saiba, há cerca de 300 mortos libaneses. Israelitas cerca de 25. Israel ainda está de pé. O Líbano já não.

andré

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