You Are Welcome To Elsinore
Entre nós e as palavras há metal fundente
entre nós e as palavras há hélices que andam
e podem dar-nos morte violar-nos
tirar do mais fundo de nós o mais útil segredo
entre nós e as palavras há perfis ardentes
espaços cheios de gente de costas
altas flores venenosas portas por abrir
e escadas e ponteiros e crianças sentadas
à espera do seu tempo, e do seu precipício
Ao longo da muralha que habitamos
há palavras de vida, há palavras de morte
há palavras imensas, que esperam por nós
e outras frágeis, que deixaram de esperar
há palavras acesas como barcos
e há palavras homens,
palavras que guardam o seu segredo, e a sua posição
Entre nós e as palavras, surdamente,
as mãos e as paredes de Elsenor
E há palavras noturnas palavras gemidos
palavras que nos sobem ilegíveis à boca
palavras diamantes palavras nunca escritas
palavras impossíveis de escrever
por não termos conosco cordas de violinos
nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar
e os braços dos amantes escrevem muito alto
muito além do azul onde oxidados morrem
palavras maternais, só sombra só soluço
só espasmo só amor, só solidão desfeita
Entre nós e as palavras, os emparedados
e entre nós e as palavras, o nosso dever falar
Mário Cesariny (1923-2006)
andré
2 comentários:
E que bom puder continuar com estas palavras, e poder lê-las e ouvi-las naquela voz única e livre e sem dentes e plena de poesia.
evva
Substitua-se 'puder' por 'poder'
evva
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