Retrato de uma princesa desconhecida
Para que ela tivesse um pescoço tão fino
Para que os seus pulsos tivessem um quebrar de caule
Para que os seus pulsos tivessem um quebrar de caule
Para que os seus olhos fossem tão frontais e limpos
Para que a sua espinha fosse tão direita
E ela usasse a cabeça tão erguida
Com uma tão simples claridade sobre a testa
Foram necessárias sucessivas gerações de escravos
De corpo dobrado e grossas mãos pacientes
Servindo sucessivas gerações de príncipes
Ainda um pouco toscos e grosseiros
Ávidos cruéis e fraudulentos
Foi um imenso desperdiçar de gente
Para que ela fosse aquela perfeição
Solitária exilada sem destino
Sophia de Mello Breyner, 16/10/95
[evva]
3 comentários:
Paralelismos?
Sónia
Tinha escrito um comentário no post anterior que, não sei como, aparentemente não foi publicado. Não pude evitar recordar-me deste poema de Sophia ao ler os versos de Ángel González, sabes a data de composição/publicação?
E que tal uma biografiazinha do autor? Confesso a minha total ignorância sobre Ángel González e a geração de 50. Pouco atenta aos poetas do lado de lá da fronteira, passei do Lorca ao Leopoldo Panero. Do que entretanto se escreveu e publicou, pouco sei.
evva
Pouco sei também sobre a vida do poeta e tal como dizias a respeito do Pacheco, a biografia frequentemente distrai. Para mais textos deste e de outros poetas, tens a clássica antologia do José Bento (Relógio de Água ou Assírio e Alvim?) e a antologia do António Sáez de onde retirei este texto - ambas, edições bilingues.
Quanto à data, foi um lapso já corrigido.
Sónia
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