quarta-feira, janeiro 30, 2008

Segunda pessoa

Alguém diz tu. Alguém sem nome.

É a terra e o corpo e é o rasto de um sentido.

Alguém diz tu à imagem que se esgarça,

à certeza de uma longínqua razão.

Longe. O passado. Nomes, errados nomes de desejo.

Cego de insónia, nem lembrar te posso.

Nem mesmo em sonho saberia ver-te.

És só o pronome, tu, a ondular-te na boca,

norte magnético num desespero em surdina.

És a sílaba que dói a dor solar de um sentido.

A história avança na cabra-cega sem rostos,

e eu vivo em ti o tu mais só da minha vida.

(Óscar Lopes)

Em 1985, a Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Porto editou o livro A Ilha dos Amores onde está publicado este poema de Óscar Lopes, que é o único que se conhece do autor. Descobri-o, contudo, num número especial da Gazeta Literária, comemorativo dos 125 anos da Associação: o quatro , de Outubro de 2007. Pena é que, já publicado em Outubro, só agora me veio parar às mãos.

Sónia


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