Segunda pessoa
Alguém diz tu. Alguém sem nome.
É a terra e o corpo e é o rasto de um sentido.
Alguém diz tu à imagem que se esgarça,
à certeza de uma longínqua razão.
Longe. O passado. Nomes, errados nomes de desejo.
Cego de insónia, nem lembrar te posso.
Nem mesmo em sonho saberia ver-te.
És só o pronome, tu, a ondular-te na boca,
norte magnético num desespero em surdina.
És a sílaba que dói a dor solar de um sentido.
A história avança na cabra-cega sem rostos,
e eu vivo em ti o tu mais só da minha vida.
(Óscar Lopes)
Em 1985, a Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Porto editou o livro A Ilha dos Amores onde está publicado este poema de Óscar Lopes, que é o único que se conhece do autor. Descobri-o, contudo, num número especial da Gazeta Literária, comemorativo dos 125 anos da Associação: o quatro , de Outubro de 2007. Pena é que, já publicado em Outubro, só agora me veio parar às mãos.
Sónia
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