O dia amanheceu azul . Há um cheiro intenso a relva cortada no ar, o ronronar da cortadora ainda se ouve ao longe, nos canteiros do fundo da rua. As magnólias já floriram e derramam rosa e branco nas calçadas. As mimosas já invadem os caminhos. Mas ainda me ressoa na memória a chuva de ontem e os versos da Rosário Pedreira. Tarda muito, a Primavera?
Não tenhas medo do amor. Pousa a tua mão
devagar sobre o peito da terra e sente respirar
no seu seio os nomes das coisas que ali estão a
crescer: o linho e genciana; as ervilhas-de-cheiro
e as campainhas azuis; a menta perfumada para
as infusões do verão e a teia de raízes de um
pequeno loureiro que se organiza como uma rede
de veias na confusão de um corpo. A vida nunca
foi só Inverno, nunca foi só bruma e desamparo.
Se bem que chova ainda, não te importes: pousa a
tua mão devagar sobre o teu peito e ouve o clamor
da tempestade que faz ruir os muros: explode no
teu coração um amor-perfeito, será doce o seu
pólen na corola de um beijo, não tenhas medo,
hão-de pedir-to quando chegar a primavera.
Maria do Rosário Pedreira
Nenhum Nome Depois (2005), Gótica, p. 11
Tolerância zero nas estradas
Há 2 horas
2 comentários:
Também quero este.
andré
Este ainda está comigo. Se puder, ainda hoje vou colocar por aqui mais um poema da Rosário Pedreira.
evva
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