quarta-feira, agosto 20, 2008

A propósito da participação Portuguesa nos JO de Pequim

Apesar do enorme estrondo que a participação britânica nos JO tem causado aqui nas ilhas (relatada como a melhor nos últimos 100 anos), as ondas de impacto dos maus resultados da delegação Portuguesa já chegam a todo lado (ontem o Público relatava que as notícias já tinham chegado à agência de noticias France-Press). Vejamos então aquilo que eu tenho visto:

1. Anúncio feito pelo presidente do Comité Olímpico de Portugal, comandante Vicente Moura, de que não se irá recandidatar ao cargo em Dezembro próximo. O mesmo presidente afirmou hoje ao Público que para ganhar as medalhas desejadas nos Jogos Olímpicos é necessária uma revisão de todo o sistema desportivo. A sua decisão de demissão aparece na sequência de uma série de declarações de Vicente Moura em que pede maior profissionalismo aos atletas portugueses, e depois de uma série de declarações de atletas, umas infelizes outras por ventura alvo de má interpretação. A opinião sobre a falta de profissionalismo foi reforçada pela triatleta Vanessa Fernandes (única medalhada portuguesa até agora) mas foi negada pela saltadora Naide Gomes (que apesar de não ter conseguido medalhas continua a ser uma das melhores do mundo na sua especialidade). O secretário de Estado do Desporto, Laurentino Dias, também veio pedir aos atletas para 'competir a sério'.

2. Nas primeiras páginas do Público de hoje pode-se encontrar uma extensa reportagem sobre o assunto,
onde são referidas algumas das situações anteriores. A participação Portuguesa em Pequim custou 14 milhões de euros em quatro anos e em Atenas 2004 custou 12 milhões em três (?!) anos de preparação. Em Atenas o resultados foram duas medalhas de prata, no ciclismo e atletismo, e uma de bronze, também no atletismo. Em Pequim, até agora houve uma medalha de prata. Perante a subida dos custos e a diminuição dos resultados o descontentamento é óbvio. No mesmo jornal, e como cereja em cima do bolo, temos as declarações do professor universitário Santana Castilho na sua coluna de opinião termina perguntando se "um país que cultiva na escola e na polis a falta de rigor e de exigência, tem autoridade para sancionar quem o envergonha no estádio olímpico?"

2. No passado dia 18, no blogue colectividade desportiva, o ex-presidente de Instituto do Desporto de Portugal, José Manuel Constantino, referia com a cautela devida [uma vez que os JO ainda não terminaram] que os objectivos desportivos contratualizados com o Estado — 5 classificações de pódio/medalhas; 12 classificações correspondentes a diplomas (8ºlugar); e dezoito modalidades desportivas presentes nos J.O. — dificilmente serão atingidos.

No meio da novela jornalistica, não se discutiu se os objectivos fixados eram ou não realistas. Para obter 5 medalhas é preciso que nenhum dos candidatos falhe. Ora a probabilidade de erros e falhanços a este nível é muito elevada, ainda para mais quando não existe um conjunto de resultados consistentes por trás. Para a delegação portuguesa, ganhar a medalha ainda é o acontecimento. Para delegações como a dos EUA, China, Grã-Bretanha, perde-las é que é o acontecimento. Não é pelo facto de a Rosa Mota, o Carlos Lopes, ou o Gustavo Lima terem ganho uma vez uma medalha que os restantes atletas, nessa ou nas restantes modalidades, vão passar a ganhar também.
Uma demonstração desta relação de senso comum é o futebol onde já passamos a encarar a vitória não apenas como um desejo mas como uma expectativa. E os resultados estão há vista. Hoje em dia questionar o apuramento para um campeonato da Europa ou do Mundo é quase um insulto, e ambicionar a vitória é quase uma obrigação.

Enfim, este post já está longo. Voltarei ao assunto em breve. É que no meio dos problemas políticos que inevitavelmente rodeiam uma participação olímpica, há muitos atletas (os que se apuraram e os que não se conseguiram apurar), treinadores, dirigentes, e recursos que não podem ser desconsiderados.


andré

1 comentário:

Esplendor disse...

Fico à espera do post sobre os problemas políticos. Pela minha parte, não acho que se devam definir objectivos quantificáveis (uma moda que também chegou ao ensino...) para a participação desportiva. Não acho que conseguir medalhas nos jogos Olímpicos -ou noutros j ogos quaisquer - devam ser um objectivo nacional, mas quando os atletas de um dado país têm um desempenho revelador da falta de investimento estatal na prática e educação desportiva, os resultados disso afectam-nos a todos...

Sónia