Leitura fundamental
«A ESCOLA
Quando entrei para o liceu, em 1973-1974, havia um reitor, livros de ponto para os professores e faltas para os alunos. Mau comportamento, por exemplo, era uma falta - grave - e dava direito a ser expulso da aula, e, em casos mais sérios, do liceu. O liceu, o D. Pedro V de Lisboa, era tido por "progressista". Apesar disso e das balbúrdias do PREC, manteve-se sempre, tanto quanto me lembro, um módico de disciplina. As novas "pedagogias" que entretanto foram sendo introduzidas nos infantários e nas escolas primárias, assentes sobretudo na consideração da criança como um bibelot a quem só se pode falar, ensinar jogos idiotas e a dormir umas sestas, mud[aram] radicalmente a noção de aluno. Sem ela, a disciplina caiu na rua. O aluno passou a ser visto quase como um utente de um serviço público - a escola -, só com direitos, e não alguém sujeito a um código disciplinar de direitos e de deveres. Por consequência, a função do professor foi sendo desvalorizada e, agora, chegámos ao rídiculo de termos pais e alunos a sovarem metodicamente os docentes. É preciso também atentar na geração paternal, a maior parte dela constituída pelos "filhos de Abril" a quem notoriamente faltou um berço e, em tantos casos, "educação" e sentido cívico. Sem autoridade, as escolas públicas - os liceus - soçobram mais tarde ou mais cedo na pura anarquia. Excitar a ignorância contra os professores, metendo tudo no mesmo saco, revelar-se-á a curto prazo desastroso. A ministra da Educação (...) deve igualmente prestar atenção aos alunos e não permitir o verdadeiro assalto que alguma boçalidade familiar se permite fazer às escolas em nome dos sagrados direitos dos broncos dos filhinhos. Não há que ter medo das faltas por mau comportamento e da expulsão de delinquentes das escolas pagas pelo dinheiro dos contribuintes. Caso contrário, a autoridade - da instituição e dos professores sobre os alunos - jamais conseguirá impôr-se num lugar - a escola - onde verdadeiramente tudo começa ou tudo pode acabar.»
Quando entrei para o liceu, em 1973-1974, havia um reitor, livros de ponto para os professores e faltas para os alunos. Mau comportamento, por exemplo, era uma falta - grave - e dava direito a ser expulso da aula, e, em casos mais sérios, do liceu. O liceu, o D. Pedro V de Lisboa, era tido por "progressista". Apesar disso e das balbúrdias do PREC, manteve-se sempre, tanto quanto me lembro, um módico de disciplina. As novas "pedagogias" que entretanto foram sendo introduzidas nos infantários e nas escolas primárias, assentes sobretudo na consideração da criança como um bibelot a quem só se pode falar, ensinar jogos idiotas e a dormir umas sestas, mud[aram] radicalmente a noção de aluno. Sem ela, a disciplina caiu na rua. O aluno passou a ser visto quase como um utente de um serviço público - a escola -, só com direitos, e não alguém sujeito a um código disciplinar de direitos e de deveres. Por consequência, a função do professor foi sendo desvalorizada e, agora, chegámos ao rídiculo de termos pais e alunos a sovarem metodicamente os docentes. É preciso também atentar na geração paternal, a maior parte dela constituída pelos "filhos de Abril" a quem notoriamente faltou um berço e, em tantos casos, "educação" e sentido cívico. Sem autoridade, as escolas públicas - os liceus - soçobram mais tarde ou mais cedo na pura anarquia. Excitar a ignorância contra os professores, metendo tudo no mesmo saco, revelar-se-á a curto prazo desastroso. A ministra da Educação (...) deve igualmente prestar atenção aos alunos e não permitir o verdadeiro assalto que alguma boçalidade familiar se permite fazer às escolas em nome dos sagrados direitos dos broncos dos filhinhos. Não há que ter medo das faltas por mau comportamento e da expulsão de delinquentes das escolas pagas pelo dinheiro dos contribuintes. Caso contrário, a autoridade - da instituição e dos professores sobre os alunos - jamais conseguirá impôr-se num lugar - a escola - onde verdadeiramente tudo começa ou tudo pode acabar.»
João Gonçalves, no Portugal dos Pequeninos, um blog de leitura diária. Os sublinhados são meus e do texto retirei uma frase de que discordo. Ler também este excelente post que João Gonçalves publicou no terceiro aniversário do blog.
evva
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