quinta-feira, abril 13, 2006

Aos meus amigos

Aos que me escutam, aos que me consolam, aos que me dão colo, aos que se riem dos meus dramas e teimam com um sorriso em mostrar-me a suave naturalidade deste rio que flui e que insisto em agitar, eu, que tudo sinto intensa e dolorosamente, aos que vibram com as minhas pequenas alegrias, aos que aturam o meu espírito díficil, insuportavelmente persistente, aos que perdoam os meus excessos, aos que os apontam para que não volte a soçobrar, aos que agradecem, cada dia, os momentos que partilhamos e aos que me fazem, a cada momento, querer ser um pouco melhor:

«a iiª ygualeza que he antre persoas desvayradas chama-se amizade. Esta tem fundamento en o ben honesto e vertuoso, e nom ama por entender seu proveyto nem seu prazer en a cousa amada, mas tam soomente por ella seer boa sente o amor dentro en sy meesmo delectoso contentamento (...). [Segundo diz Seneca] en hua sua epistolla, as cousas seguras mostram os amigos e os fazem parecer, mas as tribulaçoões os provam, demonstrando quaaes son certos e quaaes nom. (...)

E porem diz Seneca en o Livro dos costumes que o meu amigo he outro eu. E quem tal cobrar, seendo como elle, stara soo e acompanhado. E, demonstrando a elle o segredo do seu conselho, sentirá alivamento, assy como se o dissesse a outrem, e avera segurança de sse nunca saber, como se o sempre tevera calado, nem avera que recear, pois homem strangeyro non sta antre elles, mas cada huu he tornado en outro e ambos son feytos hua persoa. Desta amaviosa ygualeza nace grande segurança, per cujo aazo o amante acha sempre prestes e aparelhados os peytos do seu amigo, en que seguramente possa deitar qualquer cousa que trouxer maginada, da qual sempre sera tam seguro como se a tevesse çarrada en sy meesmo

Deste amigo se diz aquella palavra comuu, convem a ssaber: "Non ha en o mundo cousa mais doce que teer amigo com que homem ouse de falar todallas cousas assy como consigo". E por seer achado tal como este compre a cada huu de aver cuydado special. E, depois que o tever gaançado, ponha en o guardar boa femença, per tal maneyra que o sentimento que ambos ouverem perteeça juntamente a hua persoa. E stonce os seus coraçoões acharam dentro en sy muy doce e leal benquerença, que antre os prazeres do mundo he mais delectosa. E as palavras do verdadeiro amador abrandaram o cuydado do seu amigo. Elle per sua sentença dara desembargo ao seu dovidoso conselho, e, avendo compaixom dos padecimentos do amado, apouquentará sua doença e con prazivel ledice tirará sua tristura. E cada huu, enquanto stever en presença do outro, sentirá doce folgança.»

Livro da Vertuosa Benfeytoria, Infante D. Pedro/ Frei João Verba, Ed. crítica, organização, introdução e notas de Adelino de almeida Calado, Coimbra, Por Ordem da Universidade, 1994.

[evva]

3 comentários:

Esplendor disse...

Minha querida...
obrigada por me chamares amiga. Contigo conto continuar a partilhar lágrimas, entusiasmos, agitações, tempestades e dias solarengos.
Para ti, uma das melhores pessoas que conheço, os meus braços estão sempre abertos.
Isabel Sofia

Esplendor disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Esplendor disse...

Já conhecia este texto de Vinicius, mas é sempre bom relê-lo. Obrigada, Filipe.

evva