Aos meus amigos
Aos que me escutam, aos que me consolam, aos que me dão colo, aos que se riem dos meus dramas e teimam com um sorriso em mostrar-me a suave naturalidade deste rio que flui e que insisto em agitar, eu, que tudo sinto intensa e dolorosamente, aos que vibram com as minhas pequenas alegrias, aos que aturam o meu espírito díficil, insuportavelmente persistente, aos que perdoam os meus excessos, aos que os apontam para que não volte a soçobrar, aos que agradecem, cada dia, os momentos que partilhamos e aos que me fazem, a cada momento, querer ser um pouco melhor:
«a iiª ygualeza que he antre persoas desvayradas chama-se amizade. Esta tem fundamento en o ben honesto e vertuoso, e nom ama por entender seu proveyto nem seu prazer en a cousa amada, mas tam soomente por ella seer boa sente o amor dentro en sy meesmo delectoso contentamento (...). [Segundo diz Seneca] en hua sua epistolla, as cousas seguras mostram os amigos e os fazem parecer, mas as tribulaçoões os provam, demonstrando quaaes son certos e quaaes nom. (...)
E porem diz Seneca en o Livro dos costumes que o meu amigo he outro eu. E quem tal cobrar, seendo como elle, stara soo e acompanhado. E, demonstrando a elle o segredo do seu conselho, sentirá alivamento, assy como se o dissesse a outrem, e avera segurança de sse nunca saber, como se o sempre tevera calado, nem avera que recear, pois homem strangeyro non sta antre elles, mas cada huu he tornado en outro e ambos son feytos hua persoa. Desta amaviosa ygualeza nace grande segurança, per cujo aazo o amante acha sempre prestes e aparelhados os peytos do seu amigo, en que seguramente possa deitar qualquer cousa que trouxer maginada, da qual sempre sera tam seguro como se a tevesse çarrada en sy meesmo
E porem diz Seneca en o Livro dos costumes que o meu amigo he outro eu. E quem tal cobrar, seendo como elle, stara soo e acompanhado. E, demonstrando a elle o segredo do seu conselho, sentirá alivamento, assy como se o dissesse a outrem, e avera segurança de sse nunca saber, como se o sempre tevera calado, nem avera que recear, pois homem strangeyro non sta antre elles, mas cada huu he tornado en outro e ambos son feytos hua persoa. Desta amaviosa ygualeza nace grande segurança, per cujo aazo o amante acha sempre prestes e aparelhados os peytos do seu amigo, en que seguramente possa deitar qualquer cousa que trouxer maginada, da qual sempre sera tam seguro como se a tevesse çarrada en sy meesmo
Deste amigo se diz aquella palavra comuu, convem a ssaber: "Non ha en o mundo cousa mais doce que teer amigo com que homem ouse de falar todallas cousas assy como consigo". E por seer achado tal como este compre a cada huu de aver cuydado special. E, depois que o tever gaançado, ponha en o guardar boa femença, per tal maneyra que o sentimento que ambos ouverem perteeça juntamente a hua persoa. E stonce os seus coraçoões acharam dentro en sy muy doce e leal benquerença, que antre os prazeres do mundo he mais delectosa. E as palavras do verdadeiro amador abrandaram o cuydado do seu amigo. Elle per sua sentença dara desembargo ao seu dovidoso conselho, e, avendo compaixom dos padecimentos do amado, apouquentará sua doença e con prazivel ledice tirará sua tristura. E cada huu, enquanto stever en presença do outro, sentirá doce folgança.»
Livro da Vertuosa Benfeytoria, Infante D. Pedro/ Frei João Verba, Ed. crítica, organização, introdução e notas de Adelino de almeida Calado, Coimbra, Por Ordem da Universidade, 1994.
[evva]
3 comentários:
Minha querida...
obrigada por me chamares amiga. Contigo conto continuar a partilhar lágrimas, entusiasmos, agitações, tempestades e dias solarengos.
Para ti, uma das melhores pessoas que conheço, os meus braços estão sempre abertos.
Isabel Sofia
Já conhecia este texto de Vinicius, mas é sempre bom relê-lo. Obrigada, Filipe.
evva
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