Comoção
Extraordinária a surpresa que a RTP proporcionou esta noite, ao transmitir o último concerto de Zeca Afonso no Coliseu (1983). Apesar de alguns elementos da assistência merecerem estar presos (e uma certa irritação quase involuntária por pouco me fazia mudar de canal cada vez que os filmavam, de cravinho na mão), e sem querer deixar de realçar a já tradicional polidez indígena no adequado uso dos aplausos (então aquela 'malta' não sabe que não se interrompe um Fado de Coimbra com palmas?), que memórias desfilaram ao escutar a voz trémula e embargada de um José Afonso já claramente debilitado... O meu tio Adriano, de olhar azul maroto, a dedilhar e a cantar a Balada de Outono ("Águas das fontes calai/ Ó ribeiras chorai/ Que eu não volto a cantar"), as noites adormecidas ao som da Canção de Embalar e todas as músicas que integraram a banda sonora despolitizada da minha infância, mais preocupada em cantarolar os refrães do que inquirir do seu significado profundo.
Confesso que desliguei no final para não ouvir a irritante Grândola, mas o que me ficou deste concerto único foi nele entrever uma certa (certeira?) imagem do 25 de Abril hoje, velho, doente e anacrónico. Haverá ainda motivo para comemorações?
evva
Sem comentários:
Enviar um comentário