(O Livro e o Beijo; Dante e Virgílio no Inferno observando os dois amantes assolados pelo vento infernal) Paolo e Francesca de Rimini, Dante Gabriel Rossetti
No Canto V d' O Inferno, justamente intitulado 'Os Luxuriosos', Dante classifica a lascívia como o menos grave dos pecados, colocando-o no círculo mais externo (por curiosidade, na visão do próprio Dante, é coincidentemente o mais grave dos pecados por si experimentados). O castigo condena o pecador a ser eternamente arrastado por uma espécie de furacão. É neste passo que Dante evoca os amores adúlteros e funestos de Francesca de Rimini, filha do Duque de Polenta, e Paolo Malatesta, transformado em eterno parceiro no turbilhão infernal, duplo do vento passional que os arrastou em vida.
Os amantes foram mortos no momento em que liam o episódio onde Lancelot, apaixonado por Genevra (consorte de Artur), é induzido a beijá-la por Galeote. Paolo e Francesca perdem-se também num beijo e são surpreendidos pelo marido e irmão traído, Gianciotto Malatesta. Corria o ano de 1289.
Na Comédia, Francesca narra o esforço de ambos para resistir ao pecado. A tudo resistiram, de facto, excepto à sedução despertada pela leitura:
Nessun maggior dolore
che ricordarsi del tempo felice
ne la miseria; e ciò sa 'l tuo dottore.
Ma s'a conoscer la prima radice
del nostro amor tu hai cotanto affetto,
dirò come colui che piange e dice.
Noi leggiavamo un giorno per diletto
di Lancialotto come amor lo strinse;
soli eravamo e sanza alcun sospetto.
Per più fiate li occhi ci sospinse
quella lettura, e scolorocci il viso;
ma solo un punto fu quel che ci vinse.
Quando leggemmo il disiato riso
esser basciato da cotanto amante,
questi, che mai da me non fia diviso,
la bocca mi basciò tutto tremante.
Galeotto fu 'l libro e chi lo scrisse:
quel giorno più non vi leggemmo avante.
[evva]
P.S.: Não tive oportunidade (nem tempo) de procurar o excerto que Paolo e Francesca liam. Fica para mais tarde.
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