Foi por estas e por outras...
que me des-sindicalizei (façam o favor de registar o neologismo que não é decerto da minha autoria, tal a quantidade de vezes que já o ouvi):
"Lidar com indisciplina não é uma prioridade."
Mário Nogueira, secretário geral da Fenprof, "Diário de Nóticias", 25-03-2008
(via 'A frase do dia', Público)
evva
5 comentários:
É por estas e por outras que estou num sindicato da FENPROF. Quando o escândalo da opinião pública é maior perante o não cumprimento da legislação por parte de uma aluna, que relativamente ao escândalo perante o não cumprimento da legislação e decisões de tribunal por parte do Governo e do Ministério da Educação em particular, há uma estranha e muito suspeita desproporção de apreciações...
Sónia
E ainda digo mais: de facto não é uma prioridade...
Não é dos alunos que me queixo! Queixo-me sim de eles serem quase 200 e de serem em grupos de 30, de passar demasiadas horas com eles e poucas a pensar neles, queixo-me de o que me obrigam a fazer com eles não deixar espaço para o que gostava de fazer com eles, mas isso são as condições de trabalho. A prioridade para um sindicato, neste momento, deve ser alterá-las.
Sónia
Mas as condições de trabalho passam também pelo reforço da autoridade, ou, para não ferir susceptibilidades ideológicas, do respeito a ter pelo professor que quer e deve ensinar. Já tive turmas de menos de dez alunos em aulas de Apoio Pedagógico Acrescido e não era pelo escasso número de discentes que as aulas funcionavam bem. Começava logo pelo material, uma minoria fazia-se acompanhar de livro ou caderno, o que não diferia muito das aulas normais. Até de uma ficha de trabalho distribuída na aula anterior e para terminar em casa se esqueciam. Ah, e também andaram a filmar umas aulas de substituição, em que faziam malabarismos com as mochilas dos colegas e o caixote do lixo para a câmara do telemóvel de um deles. Foram descobertos e punidos com cinco dias de suspensão.
A indisciplina DEVE ser uma prioridade dos sindicatos. Aliás, foi por falta de apoio dos sindicatos em situações graves de indisciplina que muitos colegas deixaram de ser sindicalizados.
evva
A autoridade de um professor institui-se pela sua capacidade para gerir uma aula e isso passa pela autoridade científica e pedagógica que revela perante os alunos e passa pelo reconhecimento da relevância social da tarefa que desempenha. Quanto a isso não há - creio - pruridos ideológicos. Ora numa aula dita de substituição em que um professor de Matemática substitui um colega de Educação Física, a autoridade cai por terra quando o professor substituto não conhece as mais elementares regras de funcionamento do ginásio e de uso dos equipamentos, acabando muitas vezes por realizar a tarefa de tomar conta de crianças e as entreter, tarefa que não requer a sua autoridade científico-pedagógica e o atira para uma perigosa terra de ninguém. Esta foi uma das grandes causas da perda de autoridade dos professores. Não tendo estado contra as aulas de substituição , pelo contrário a generalidade dos sindicatos, reivindicaram sim que aquilo que elas deviam ser fosse preservado, contratando-se professores das diferentes áreas especificamente para esse efeito. alertaram para os perigos da indisciplina e de perda de autoridade sem pruridos ideológicos, e genericamente têm ainda dado apoio contencioso aos professores que desenvolveram acções jurídicas nesse sentido. Concretamente em relação a esta aluna, o SPN reagiu de imediato e a FENPROF está a exigir o reforço da autoridade dos professores como medida de combate à indisciplina. Qualquer situação de falha no apoio aos professores deve ser localizada e denunciada, para não atingir genericamente todos os sindicatos. Há efectivamente práticas sindicais diferentes, mas os colegas que referes estariam sindicalizados num sindicato ou noutro; não estavam, com certeza, sindicalizados em todos.
Sónia
«A autoridade de um professor institui-se pela sua capacidade para gerir uma aula e isso passa pela autoridade científica e pedagógica que revela perante os alunos e passa pelo reconhecimento da relevância social da tarefa que desempenha»
Por muito bom que seja um professor a 'gerir' científica e pedagogicamente uma aula e a sua competência científica e pedagógica ilimitada, o que fazer quando um aluno tenta incendiar uma mesa acendendo discretamente um isqueiro numa aula? E quando os alunos durante uma aula cantam em coro parvoíces dirigidas ao professor no mais puro vernáculo? Sanções punitórias: chamar imediatamente um funcionário ou um elemento do Conselho Executivo, que poderá adoptar a pena máxima exequível, a suspensão por cinco dias. A transferência de escola, tão célere no caso Carolina Michaelis, é muito, muito complicada e de difícil e tardia aplicação (é, por exemplo, necessário que haja uma escola que aceite a transferência desse aluno). E que fazem as criaturinhas quando regressam da suspensão ou ingressam na nova escola? Na imensa maioria dos casos, exactamente o mesmo, ou pior, do que fizeram antes.
Tudo isto para salientar que a solução deve passar por sanções mais pesadas e que impliquem os Encarregados de Educação, que deveriam igualmente ser penalizados pela indisciplina dos seus educandos. Quem já tiver passado pela docência numa escola dos Ensinos Básico e Secundário sabe que, muitas vezes, quando queremos sancionar um aluno com 'trabalho comunitário no estabelecimento de ensino' (limpar, no tempo livre do discente, durante dois dias as salas de aula porque deitou deliberadamente papéis para ou chão, riscou as mesas ou cuspiu a maçaneta da porta), os Encarregados de Educação se oponhem frontalmente.
evva
P.S.: Os casos que citei de colegas que entregaram o cartão do sindicato pertenciam ao SPN.
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