A propósito de mais um jornalista morto na Rússia…
A história tem destas coisas, repete-se com outros rostos e outros personagens.
Depois de alguns anos de raiva contida, a Rússia está de volta ao seu lugar de destaque que só dificilmente voltará perder. É assim a corrupção do poder. Torna refém todos aqueles
que o possuem. E a Rússia, tal como os EUA, a Inglaterra, a França, ou a emergente Europa, já não conseguem viver sem ele.
Mas o poder é irónico e cínico. O renascer da Rússia faz-se com as mesmas armas que os seus adversários usaram contra ela. E tal como eles, ela usa-as à sua maneira.
Talvez agora o cidadão Europeu consiga ver a imagem que há muito aparece do lado de fora da janela de sua casa. Aquela que vê o cidadão dos países africanos, sul americanos, ou asiáticos. Aquela que mostra que o capitalismo foi, e ainda é, um projecto Europeu e Norte Americano que serviu para solidificar interesses de ambos.
Mas agora que outros se servem dele, a imagem começa, de repente, a não parecer tão bela.
Pois é, afinal o desenvolvimento da democracia não depende apenas do desenvolvimento do capital. Que chatice.
Não chegaram décadas de Estado social para se entender isto, e agora, que o Estado social é posto em causa pela cultura empresarial, tudo o que somos capazes de pensar é em ser ainda mais competitivos. E claro, lamentar a nossa sorte: como é que os outros não percebem que é melhor para todos jogar o jogo com as nossas regras?
Se a história for muito longa para que se entenda a lição, então uma simples referência ao desporto deve chegar para fazer compreender que qualquer equipa gosta mais de ganhar do que perder, mesmo quando joga a brincar, o que não é o caso presente.
Como bom português, eu continuo a alimentar a esperança (ou ilusão se achar mais adequado) de que Vladimir Puttin pertence à equipa dos pragmáticos e sensatos e, como tal, sabe que para se ganhar um jogo, tem de haver adversários.
Agora resta saber quais as novas regras que a sua equipa quer impor. Ora, pelas amostras que temos visto…
andré
3 comentários:
A história tem por vezes ares de travesti: vestiu-se de comunismo, vestiu-se de capitalismo moderno, mas já não engana senão aqueles que acreditam que ela acabou... Deles fala Georges Duby em "O fim da história".
Sónia
Pois…
Ainda me lembro quando ouvi falar pela primeira vez do livro de Fracis Fukuyama sobre o fim da história. O título parecia-me, e ainda me parece, bem esgalhado.
Mas quando soube da substância, só me apeteceu dar um enxerto de pancada no homem.
É claro que as receitas das vendas de tamanha façanha literaria devem ter dado para muitas outras obras.
É que declarar o fim da história não é pra qualquer um.
andré
Tenho que me retratar (sobretudo por ser teimosa...): o tíltulo da obra do Duby é "A história continua." Cruzamento de linhas: a obra é uma reacção assumida ao livro do Fukuyama.
Sónia
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