sábado, março 08, 2008

Para reflectir

«O ZÉNITE E O NADIR


Hoje para os professores será o dia do Zénite. Hoje olhando-se uns aos outros, vendo as filas e filas de gente vindas de Vila Real de Santo António a Monção e Bragança, os professores sentirão aquela sensação de alegria que percorre os participantes duma manifestação bem sucedida. Sentirão força, alegria, trocarão entre si sinais de reconhecimento e identidade, beijos, abraços, palmadas nas costas, polegares no ar, colocarão uns aos outros autocolantes. As pessoas ficam "físicas" nas manifestações, de braço dado. Os mais treinados nestas coisas, que conhecem bem as "manifs", estarão mais calmos do que os novatos. Os novatos vão falar muito, gritar mais alto, sentir a "psicologia das multidões", uma novidade para eles. Será um dia em cheio para os professores, reconfortante e, quando nas suas camionetas regressarem a casa, cansados e com pena de não haver mais, pensarão na lição que deram à ministra e ao governo. Mas, com eles, viajará o Nadir.


Segunda feira voltarão às escolas, às aulas. Se a ministra não for demitida, ou se demitir, começa a ressaca do sucesso, vai parecer pouco o que com tanto esforço foi conseguido. Se os professores estivessem dispostos a entrar em greve, a "rua" poderia ter tido um papel de uma etapa de luta para outra. Mas duvido que os professores tenham a unidade, a força, a disposição, a resistência psicológica e financeira que são necessárias para uma greve que só seria eficaz se fosse prolongada, sem fim à vista, dura e intransigente. Mas todos sabem que uma coisa é ir a uma manifestação neste momento, outra fazer greve. E por isso a sensação de vitória vai-se azedar pouco a pouco, dar origem a mais do mesmo que hoje assalta muitos portugueses: uma sensação de impotência, de que não vale a pena fazer nada, de derrotismo e ou apatia ou agressividade.Escrevo hoje no Público sobre a "rua" e termino dizendo que quando se vai para a "rua" tem que se saber como se sai dela. Em democracia, quando se vai para a "rua", local nobre e legítimo do protesto, tem que se saber que não se pode continuar nela sob pena de então as coisas estarem muito mal para a democracia. Duvido que nesta luta dos professores exista um plano B. O plano A resultou, está à vista hoje. Podia haver um plano B para 2009, no voto, mas duvido que quando lá se chegar exista uma alternativa no domínio político para o materializar. Por isso temo que disto tudo resulte pouco mais do que desespero apático, ou asneira agressiva. Vamos ver.

© José Pacheco Pereira»


[evva]

1 comentário:

Esplendor disse...

A luta continua, afinal!!!!!


"Professores e educadores reafirmam determinação para prosseguirem a luta


Os professores e educadores portugueses reafirmam (na Marcha de 8 de Março) a sua profunda indignação e, por esse motivo, reafirmam, também, toda a sua determinação para prosseguirem a luta, caso as suas propostas não sejam tidas em conta, anunciando, desde já:

- Uma Semana Nacional de Luto nas Escolas na última semana de aulas deste segundo período, ou seja, a próxima, adoptando-se o luto nas escolas entre os dias 10 e 14 de Março. O vestuário escuro e a colocação de sinais visíveis de luto nas escolas - apelando-se à criatividade dos professores, que tão bons resultados tem dado nesta luta - será a forma de manifestarmos o nosso mais veemente protesto pelas actuais políticas educativas. Um luto que os professores adoptarão sempre que um membro do Governo se desloque à sua escola e da visita se tenha conhecimento prévio.

- A aprovação de "Tomadas de Posição" nas escolas, ao longo da Semana de Luto, que reafirmam a resolução que hoje aprovamos e serão enviadas ao Primeiro Ministro, à Ministra da Educação e à Comissão Parlamentar de Educação.

- A entrega ao Governo, no primeiro dia de aulas do 3º período, do Abaixo-Assinado que hoje correu e correrá, ainda, nas escolas, em que se reafirmam, mais uma vez, as posições que iremos aprovar.

- A promoção, ao longo do 3º período, das "Segundas-feiras de Protesto", como forma de iniciar cada semana de trabalho. Os professores concentrar-se-ão em locais públicos, como têm feito, e manifestar-se-ão de acordo com o seguinte calendário: 7 de Abril - iniciativa para divulgação do calendário das acções e locais de concretização; 14 de Abril - protestos no Norte do País, em todas as suas capitais de distrito e em algumas das maiores cidades da região; 21 de Abril - protestos na região Centro; 28 de Abril - protestos na área da Grande Lisboa; 5 de Maio -protestos no Sul e nas Regiões Autónomas. Após esta ronda retomaremos o protesto pela mesma ordem.

- Marcação de um Dia D, de Debate, no 3º período, em que os professores, em todas as escolas e agrupamentos, tendencialmente no mesmo dia e à mesma hora, paralisarão a sua actividade para reflectirmos sobre as suas condições de trabalho e do exercício da profissão, para além de aprovarem posições que serão tornadas públicas.

- Promoção de uma Campanha em Defesa do Horário de Trabalho, com a distribuição de esclarecimentos e minutas para que seja requerido o pagamento do serviço extraordinário sempre que, em qualquer semana, sejam ultrapassados os limites legalmente estabelecidos , quer em actividade lectiva ou não lectiva, quer em reuniões.

Da intervenção de Mário Nogueira, o Terreiro do Paço


Lurdes Rodrigues na SIC

Entretanto, a Ministra da Educação, em entrevista no telejornal das 20h00 na SIC, fingiu que não percebu o significado da Marcha da Indignação que juntou cem mil educadores e professores de todo o País em Lisboa.

Lurdes Rodrigues afirmou logo após a Marcha (citação rigorosa): "Vou continuar a trabalhar para encontrar as melhores soluções, tal como tenho feito e é o que vou continuar a fazer". Conclusão: e a luta, sendo assim, também vai continuar! E já a partrir desta segunda-feira! / JPO "

no website da FENPROF, a 9 de Março de 2008