terça-feira, março 25, 2008

Um hino à '(des)educação*'

* por iniciativa ministerial




A situação é grave, muito grave. A forma como o novo Estatuto do Aluno tem vindo a ser propagandeado - eficaz arma de combate à indisciplina -, só nos pode deixar inquietos, se conseguirmos evitar não rir.

Já há algum tempo, meses até, exactamente a partir do momento em que se começou a falar deste novo Estatuto, que os alunos perguntam 'Então agora podemos faltar à vontade que não reprovamos?', ao que se responde continuamente 'Claro que não, o novo Estatuto ainda não entrou em vigor'.

Os alunos do Ensino Secundário anseiam diariamente por este Estatuto. Só quem está totalmente alheado da selva em que se tornaram as nossas escolas pode proclamar que esta nova forma de cabulice institucional melhorará o comportamento dos alunos nas aulas.

Exige brevidade na comunicação de faltas e ocorrências aos Encarregados de Educação? A grande maioria dos professores já adoptou esta atitude, a única maneira de precaver ou fazer face a situações de indisciplina.

Permite processos sumaríssimos para sancionar essas situações? Toda a gente sabe que a maior parte dos alunos indisciplinados (são muitos e cada vez mais), ao fim de cinco dias de suspensão, a pena máxima que a lei prevê, voltam para a escola para fazer igual ou pior.

Mas o mais grave que a divulgação das recentes imagens provocará, quando na próxima segunda-feira recomeçarem as aulas, é a repetição destes comportamentos 'por imitação', se não forem tomadas medidas urgentemente exemplares. Foi esta uma das razões que nos levou à decisão de não divulgarmos aqui as imagens do Carolina Michaelis (uma escola com pergaminhos mas que quase nunca protegeu os professores em situações de indisciplina e agora vê o seu nome ser arrastado na lama do sistema educativo português), para além da preservação da identidade da colega (poderia ser qualquer um de nós). Poderá acontecer a qualquer um.



evva



P. S.: Quando na década passada o Contra-Informação começou a brincar com Pinto da Costa terminando todas as intervenções do boneco com o já clássico 'penso eu de que', os meus alunos perguntaram-me por que razão toda a gente se ria com aquelas palavras. Não entendiam o erro repetido à exaustão. Foi uma boa oportunidade de lhes explicar a sintaxe do verbo. Só não sei (já passou tanto tempo) se sumariei esses profícuos cinco minutos de aula.

Se fosse hoje, e numa aula assistida para efeitos de avaliação, provavelmente teria a nota mínima no 'cumprimento da planificação'. Mas talvez me dessem um Bom no item 'aproveitamento pedagógico de situações imprevistas'. Só para responder à pergunta 'por que demoram tanto as reuniões de Departamento cuja ordem de trabalhos consiste em debater a avaliação do desempenho docente'. Réplica: a maior parte dos critérios de avaliação são contrasditórios.

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