segunda-feira, fevereiro 04, 2008

Crónica de Madrid





Uns amigos que foram recentemente a Madrid, por sugestão minha, calcorrearam tarde e a más horas e muuuuito cansados, toda a “calle Factor” à procura da “Casa Pedro”: deram-me a triste notícia de que tinham acabado por desistir, porque já não existia o Restaurante - triste e constrangedora, pelo que lhes fiz passar; triste, porque este Restaurante é, para mim e para muitos, um lugar especial e não apenas mais um bom restaurante. 
A casa abriu em 1965 e desde o início que se institui como um espaço ligado à resistência e à intelectualidade, ao qual ficaram ligados nomes como os de Silvio Rodríguez, Tuñón de Lara, Paco Rabal, Rafael Alberti, Luis Pastor e outros. Mas também sempre foi um espaço a que qualquer um podia ficar ligado, ainda que não fosse famoso, nem de esquerda, nem tivesse dinheiro para pagar uma boa refeição... Mário Alberto, pintor e cenógrafo, escreveu a respeito de Pedro López - o “mesonero”: “este Pedro tem ajudado muito todos os exilados de todos os países. Ninguém sai sem comer ao lado de Pedro e Petra. Que pena haver tão pouca gente assim.”
Mário Alberto escreveu isto em 1986. Dez anos depois eu estive lá (fará amanhã precisamente doze anos...) e do que me lembro é sobretudo da afabilidade com que fui tratada, do excelente estufado que comi, do chá de hortelã-pimenta feito num genuíno samovar russo, da aguardente caseira oferecida pelo próprio e de me sentir. muito, muito “em casa” quando inevitavelmente falámos de política. As paredes, literalmente forradas com cartazes, convocavam à conversa momentos e figuras de um imaginário de esquerda (nada consensual). A casa institui-se também como “Fundación Museo Antifascista de los que Seguimos Estando Frente a Palacio” e saí de lá carregada de material com que durante a conversa Pedro López me foi aos poucos enchendo os braços: notícias da casa, poemas seus, notícias de Portugal...
Voltei lá há cinco anos: levava um cartaz para juntar aos muitos de que me lembrava e a letra da Grândola que ele me tinha pedido, com uma boa gravação que tinha também arranjado. A casa estava fechada, mas era Verão em Madrid e não estranhei. Consultando por estes dias, no Google só uma das três referências à casa ainda estava disponível:

“Casa Pedro-Torre Narigues: cocina española. Se pueden degustar desde las magníficas carnes elaboradas al estilo del Norte, al sabor del campo andaluz, con su gazpacho o salmorejo. Estupendos pinchos y tapas. Dirección: Factor, 8 (semi esquina a Mayor 86). Teléfono: 91 542 54 54.”

Noutro site, sobre a rua se lia que no mesmo número funcionava ahora outro espaço de restauração, mas Madrid é grande, as confusões são possíveis e este era um sítio muito escondidinho (o que deu jeito para as reuniões clandestinas que aí se fizeram em tempos). Espero que alguém me venha ainda a confirmar que lá posso voltar e levar outro cartaz para a mesma pessoa.



Sónia.

2 comentários:

Esplendor disse...

Pois é, o museu fechou. Quando a história mais ou menos contemporânea se torna museu já entrou na fase empoeirada. E quando o museu fecha, pouco mais há a dizer. Do pó vieste e ao pó voltarás, lá dizia o Outro.

evva

Esplendor disse...

O "Outro"????? Estamos a falar da palavra de Deus?
Respeitinho!!!

Sónia
(ateia convicta)