sexta-feira, fevereiro 22, 2008

Luta pela sobrevivência

(a propósito do documento da SEDES)



Estava eu a navegar pela net quando dei conta, em simultâneo, deste vídeo do Youtube que pelos vistos tem tido enorme popularidade, e da mais recente tomada de posição da SEDES, um “think-tank” que existe num país que não é famoso por os ter.
Quer o vídeo quer o documento parecem abordar o mesmo problema, a sobrevivência, muito aliada à procura de sustento e à definição de territórios de intervenção.
Colocar a questão nestes termos não é menorizar o documento da SEDES mas sim tentar ilustrar de forma simples o que está em causa. Porque as causas básicas da vida em sociedade podem parecer diferentes mas são sempre as mesmas: justiça no respeito das liberdades e direitos dos cidadãos. Fazendo um paralelismo com o vídeo do Youtube, se alguém quiser comer um dos meus, vai ter de comer também.

O teor do texto da SEDES é de grande preocupação, o que não é de estranhar face à situação de tensão que se vive no país. Os alvos dessa preocupação são o poder político – nomeadamente os partidos –, a comunicação social e, de forma ligeira, o sistema de justiça. Uma vez mais, não é de estranhar. As razões dessa preocupação são, em primeiro lugar, a excessiva intervenção do Estado na vida pública e a ligação dessa intervenção a interesses partidários, em segundo, a forma como a comunicação social sensacionaliza a vida pública esvaziando o interesse pelo tema anterior, e em terceiro e último lugar, a forma passiva com que o sistema de justiça lida com tudo isto. Sei que me estou a repetir mas nada disto é de estranhar.
Mais uma nota apenas, para sublinhar a requintada ironia na comparação que é feita ás preocupações do governo em relação à criminalidade versus as bolas de Berlim e colheres de pau. Lindo.

Perante isto, o apelo da SEDES incide sobretudo na regeneração dos partidos de forma a que estes reflictam de forma mais clara e justa as sensibilidades dos portugueses. Apela-se à decência e à criação de uma “elite de serviço” que ajude a combater a crescente dissociação entre o conceito de “res pública” e o de intervenção política.
O pedido é sensato mas é ingénuo. Creio que é claro que na democracia dos nossos dias os partidos se tornaram independentes das elites que fizeram o 25 de Abril. Foi um passo inevitável da ascensão social de uma população que era em geral pobre e que, apesar de todo o investimento, continua a manifestar baixos níveis de educação e cultura logo, menos sensível aos interesses das elites. Por outro lado, o mesmo capitalismo que alimentou esta ascensão nunca veio munido de preocupações éticas. Mas foi este o modelo que algumas das pessoas da SEDES propagaram e que eu aposto que algumas delas ainda ensinam.

Ora, se as pessoas da SEDES sabem isto tão bem como eu, então já deviam era ter começado há muito a arregaçar as mangas, a sair mais vezes das suas casas, dos seus carros e das suas férias e começar a fazer aquilo que os partidos sempre fizeram, agir na vida pública.
Da pouca informação que tenho sobre algumas das pessoas da SEDES, creio que agir civicamente nos mesmos moldes de alguns dos nossos dirigentes políticos está fora de questão mas se calhar não seria mal ver bem o vídeo do Youtube e pensar qual que, tal como as causas também as estratégias continuam as mesmas: união, força e uma forte convicção naquilo em que se acredita.


andré

2 comentários:

Esplendor disse...

Lindo, lindo, lindo!!!
Dois "pontitos negros" -ou talvez um ... - em que já vou meter o dedo não me impedem de te bater palmas.
Só acho mais uma vez (já lá tens o teu comentário sobre o Chávez no teu post) que falhas por generalização quando falas nos partidos. A generalizar que seja relativamente ao bipartidismo que tem governado este país, apagando a ideia de que outros partidos têm outras práticas e outras propostas.
Depois também há que marcar bem, mas se calhar é o que acabas por fazer... que o problema não têm sido os interesses dos partidos na governação, mas a forma como os (partidos) que nos têm governado têm cedido promiscuamente aos interesses de grupos económicos, mas isso aconteceu com partidos como poderia ter acontecido com listas de cidadadão eleitores, supostamente independentes (de quê? de ideias? de interesses?...)
Bom texto, André!!

Sónia

Esplendor disse...

Agora que vi o video: grande post!!

Sónia