terça-feira, fevereiro 19, 2008

Por falar em Fidel

Quando penso em Fidel Castro, a minha consciência leva-me inconscientemente para a parte bonita da história. Do Fidel.
Líder revolucionário, inspirado no Che Guevara e libertador daquele que era conhecido como o bordel dos EUA.
Depois de mais uns esforços de memória, e de uns arrebates de consciência, sempre difíceis, lembro-me que Cuba é nos dias de hoje o bordel dos EUA, e de todos os quantos lá quiserem ir. Ah! E dos discursos de 4, 5, e mais horas. Valentes ouvintes…

Mas isto são tudo fait divers. Fidel Castro foi um dos símbolos da autonomia da América Latina face à política utilitária dos EUA. Tal como o são Hugo Chaves e Evo Morales, por muito que nos custem a engolir, e tal como o foi Ghandi na libertação da India da Inglaterra, e Amilcar Cabral ou Agostinho Neto na libertação daquelas que eram as ex-colónias de Portugal.
E, a faltarem mais razões, estas já chegam para merecer a admiração de muita gente.

O resto da história de Fidel mistura poder, um país pequeno isolado, sem aliados nem muitas alternativas políticas. A partir de determinado momento, pareceu-me que para os cubanos, acreditar en el comandante deve ter sido mais uma questão de orgulho do que de convicção. Pátria o muerte.
Como é óbvio nem todos acreditaram. E a partir de determinada altura o sonho virou pesadelo. O poder invariavelmente corrompe. Não há nada a fazer.

Uma coisa me descansa, o facto de Fidel sair numa altura em que os EUA começam a perder a sua posição hegemónica, e passam a ocupar aquela que sempre mereceram. A de uma grande democracia. E chega.
A saída de Fidel deixa agora nas mãos da China o papel de herdeiro da revolução de 17, embora duvide que ela se goste de ver desta maneira. Mas enfim…
Não posso deixar de prestar homenagem a este homem, tal como prestei a Álvaro Cunhal e a todos aqueles que numa altura díficil da vida do seu país, lutaram pelo sonho de fazer dele um país melhor. Mesmo que ache que alguns deles estavam enganados.


andré

6 comentários:

Esplendor disse...

Ah,ah,ah,ah,aha,ah! Não consigo parar de rir. E defender o Chavez e o Morales! E os USA a perder a hegemonia? Mas em que mundo é que vive? Volta depressa, ps ares de Inglaterra estão a prejudicar o teu discernimento.

evva

Esplendor disse...

Reparou nas bandeirinhas que festejavam a independência unilateral do Kosovo (eu queria ver era as regiões de predominância étnica sérvia a proclamarem a independência unilateral do Kosovo albanês)? Aquelas brancas, azuis e vermelhas, stars and stripes, and so on? Hegemonicamente falando, é claro.

evva

Esplendor disse...

A mim o que me descansa é que é indiferente que o Fidel lá esteja ou não. O projecto não é dele. Não foi sozinho para a Sierra Maestra e não tem estado sozinho. Chávez, Morales e sobretudo a China, são histórias diferentes. Não podem estar no mesmo saco. Outra coisa que me descansa é que os Estados Unidos iludem cada vez menos quanto a ser uma grande democracia: o Michael More, Guantánamo e Abu Grahib ajudaram a denunciá-lo.

Sónia

Esplendor disse...

"Chávez, Morales e sobretudo a China, são histórias diferentes. Não podem estar no mesmo saco."

Ok. A China era só pra enganar. Mas explica lá porque é que o Chavéz e o Morales não podem estar no mesmo saco?

andré

Esplendor disse...

Sobre estas coisas pesa outra responsabilidade... não te vou responder agora com o sono a chegar! Já volto ao debate noutro dia!

Sónia

Esplendor disse...

Ora cá vai o comentário prometido.
Ideologicamente, as diferença são muitas. Cuba não importou, como aconteceu noutro lados o modelo soviético (nem o leninista, nem o estalinista), nem o chinês (maoísta) nem o de outras experiências latino-americanas. Se o ideário de Bolívar é o que destaca na maior parte das propostas progressistas da América Latina, em Cuba, a base ideológica é sobretudo o pensamento de Martí.
Quanto à prática política, a China é uma economia de mercado cuja consideração como experiência progressista (hoje em dia) é muito controversa dentro dos próprios comunistas. Depois, actuação e o discurso de Fidel nada tem que ver com o populismo do de Chávez. O Fidel dá-te uma aula magistral de história política durante oito horas e o Chávez dá uma festa. Mesmo assim prefiro reservar-me mais tempo para definir uma opinião sobre Chávez e Morales.
Toda a simplificação é redutora, toda a generalização implica distorção da realidade.

Sónia