Casamento
Há muita gente que sonha em casar, na partilha de um projecto de vida, na criação de uma família, de um lar, com ou sem filhos. Há muita gente que gostaria de juntar os trapos e viver em união. Pela igreja, pelo civil, com os amigos todos ou numa ilha quase deserta. Casar parece-me ser antes de mais um enorme desejo de partilha, com afecto ou sem ele.
Ainda hoje podemos assistir à prática secular dos casamentos por conveniência, e não falo apenas nas classes mais ricas. Há quem case para conseguir um visto de residência ou porque o outro é a melhor pessoa para garantir a subsistência dos filhos ou do nível de vida, ou porque simplesmente não quer ficar sozinho. Deve haver muitas razões para duas pessoas se casarem. Mas convenhamos, aquilo que quase todos desejamos e queremos é que a partilha do amor entre duas pessoas seja a principal conveniência de um casamento.
Desde há uns anitos (muito grandes) que o valor dominante na Europa e no mundo ocidental censura o casamento entre mais do que duas pessoa, pois isso seria institucionalizar a poligamia o que, de acordo com os nossos valores, é um comportamento incorrecto. Não creio que seja arriscado dizer que este valor provém em grande medida da moral judaico-cristã que domina muitos dos nossos comportamentos como também o entendimento que temos dos mesmos.
A moral judaico-cristã reprovou durante muito tempo o divórcio, contudo, com o passar dos tempos, essa moral deu lugar a uma outra, a do respeito pela vontade de cada um e pelo reconhecimento de que o amor, em alguns casos não dura para sempre (acho que muitos de nós ainda temos dificuldade em aceitar este facto), e de que, assim sendo, os laços não podem ser permanentes.
O casamento é um daqueles casos em que a moral e a escolha individual convivem muito bem, isto porque as decisões do casal não embatem com as escolhas da restante sociedade nem põem em causa valores essenciais como a vida ou a morte, a saúde ou a segurança. A responsabilidade é apenas dos dois.
O facto de nós entendermos isto e não nos pormos a pensar em ser polígamos ou seguir qualquer outra moral cultural é para mim uma prova de que a nossa sociedade entendeu as razões e os limites que estão por detrás da visão ocidental do casamento. Só faço esta nota para restringir o meu problema de análise e não por qualquer censura a outra moral cultural.
Perante isto, só entendo a proibição do casamento entre pessoas do mesmo sexo devido às consequências sobre eventuais futuros filhos ou perante a evidência de que tal comportamento é manifestamente contrário à moral dominante.
Creio que a discussão sobre a adopção de filhos por casais do mesmo sexo está viciada à partida pois uma mulher lésbica pode ter filhos. Estamos aqui perante uma descriminação de sexo favorável à mulher, pois, que se saiba, até a data os homens não podem ter filhos, logo tem de adoptar. Ou seja, não podemos impedir que um casal de lésbicas tenha um filho/a mas não deixamos que um casal de homossexuais possa ter.
Mas deixemos a adopção de parte. E se os casais do mesmo sexo não quiserem ter filhos. Vamos descriminá-los face aos casais heterossexuais que não os têm? Porquê?
Qual é essa moral dominante, que eu não vejo em lado nenhum, que censura este tipo de casamentos?
É contra natura? E a agricultura, e a poluição, e a urbanização, e a ciência? São naturais de quem? Do ser humano? Pois com certeza. Como o é o casamento, pois até hoje, que se saiba, ninguém viu mais nenhum animal ou planta a casar.
Vai pôr em causa a sobrevivência da família? Lamento mas os factos têm vindo a demonstrar que o contrário, isto é, que a família consegue sobreviver às mutações sociais e, mesmo com divórcios, separações, e filhos de outros casamentos, o amor e o desejo de partilha são mais fortes e ultrapassam todas as barreiras.
Vai pôr em causa a sobrevivência da espécie? Como, se a população não para de aumentar? E a poluição também não está a pôr? E o armamento também não põe?
Por muito que eu pense, não vejo razão nenhuma para uma lei impedir o direito de escolha ao casamento a casais do mesmo sexo.
Ainda hoje penso que se um/a futuro/a filho/a meu/minha quisesse casar com alguém do mesmo sexo isso ir-me-ia perturbar um pouco, sobretudo porque isso punha em risco a possibilidade de eu vir a ter netos/as (egoísta…). Pois é, mas eu continuava a não ter nada a ver com isso. A decisão era deles/as.
andré
2 comentários:
Je suis desolée! Vim cá julgando que encontraria links para a direita sel-righteous (leia-se: O Acidental e Blasfémias), e...pas de links! Oh! Há lá umas coisas tão giras sobre esta questão
Querida, não desanime! Continue a visitar-nos que, logo, logo, fazemos-lhe a vontade e talvez se escreva alguma coisa sobre o assunto. Quanto a links, lamento desiludida, mas talvez não os incluamos por aqui.
evva
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