sexta-feira, fevereiro 17, 2006

A irrelevância de muitos Mestrados dava uma óptima Tese de Doutoramento

A ler: Mestrado em Irrelevância, por Rui Ângelo de Araújo, n' Os Canhões de Navarone.

Um dia, quando se redigir a história do ensino superior português na alvorada do século XXI, ficará registado como, por motivos de sobrevivência e escassez de alunos de licenciatura, pulularam neste país pós-graduações e mestrados absolutamente medíocres.

Pior: as gerações vindouras conseguirão compreender como se poderá recusar uma Dissertação de Mestrado sobre Filosofia ou Narrativa Medievais para creditação na carreira docente do Ensino Não-Superior, com base no argumento único e inquestionável de que o Mestrado se intitulava 'História e Cultura Medievais' e nada disso contribui para a valorização científica e pedagógica de professores de português e filosofia do ensino secundário, e se continue a aceitar, para os mesmos grupos disciplinares, a creditação de Dissertações em Administração, Estatística, Ciências da Educação (se alguém me conseguir explicar o que significa, agradeço; eu que estou há mais de um década no ramo ainda não consegui perceber...), "A angústia (ou falta dela) do cábula antes do teste de avaliação", ou "Mil e uma maneiras de passar de ano os alunos preguiçosos para melhorar as estatísticas de 'sucesso educativo' "...?


Ou ainda: como compreender que se aprovem (por vezes com Muito Bom, quando essa classificação existe) certas Dissertações de Mestrado ou Teses de Doutoramento fraquíssimas só porque o candidato em causa é docente da casa (apesar do arguente não o ser, eu sei) e, coitado, tem de defender depressa a tese ou então, coitadinho, vai para a rua...? Já agora, alguém me explica o que é o Português Arcaico Médio?


As Instituições portuguesas de Ensino Superior, sobretudo as Faculdades de Letras, têm de repensar com urgência a sua função e estratégia e questionar se serão ou querem ser meros redutos de formação de professores para o desemprego ou preferem tornar-se centros de excelência, de investigação, defesa e publicação de um saber que é a pedra angular da formação de qualquer indivíduo.


Nada melhor do que os medievais para nos recordarem, lá dos confins da sua Tenebrosa Idade, o que um intelectual que se preze devia valorizar, sempre:


«Somos anões aos ombros de gigantes: vemos mais longe».


evva

Sem comentários: