Espelho de Duas Faces
Connie Imboden, Untitled (1990)
Ajuda-me a esquecer as tuas faltas
e a ignorar os teus crimes
para melhor te amar.
Dá-me a febre em que te exaltas
e o que nos olhos exprimes
quando não sabes falar.
Espelho de duas faces, plana e curva:
és, e não és.
Imagem dupla, ora límpida, ora turva,
numa te afirmas, noutra te negas, em ambas te crês.
Queria sentir-te em outros sentidos.
Queria ver-te sem olhos e ouvir-te sem ouvidos.
E queria as tuas mãos numa aleluia fraterna.
Essas mãos que ainda ontem, de manhã, aturdidas,
com duas varas secas e folhas ressequidas
arrepiaram de luz as sombras da caverna.
Há muitos anos que sei este poema de cor sem conseguir recordar o seu autor. Jorge de Sena? José Gomes Ferreira? Talvez porque fossem os poetas que mais lia quando inúmeras vezes o li e reli até os versos fazerem parte da minha memória. Esqueci o autor tal como esqueci o motivo por que tantas vezes procurei decifrá-lo. Hoje, finalmente, fez-se luz. Quem diria? É de António Gedeão.
[evva]
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