segunda-feira, maio 22, 2006

Por que é que eu gosto de Frederico Lourenço


«me marcou profundamente o fascínio pelo Condado Portucalense nos alvores da nacionalidade, o que me levaria mais tarde a sentir-me sempre mais em casa a norte do que a sul do rio Douro. Do Porto a Valença: o meu mundo de eleição.»
Frederico Lourenço, Amar não acaba, 2004, Cotovia, Lisboa, 3ª edição, p. 72.
Amar não acaba foi o último livro que li de um só fôlego, pela noite dentro até ao amanhecer, depois de o ter comprado na Feira do Livro do ano passado. Não pela declaração acima transcrita, é claro, mas por um irresistível fascínio pela escrita semi-autobiográfica do autor. Que surpresas trará a Feira deste ano? Será desta que colocarão on-line os 'Livros do Dia'?


Sobre Amar não acaba escreveu o Abrupto em Dezembro de 2004:

Leiam, leiam, leiam este livro estranho, memória autobiográfica da adolescência, escrita a vinte anos de distância – muito pouco. Um retrato de uma família portuguesa pouco portuguesa, que deixou construir à sua volta uma teia cultural vivida nas suas formas mais “pesadas”: a ópera, a música, as línguas, o comunitarismo panteísta de Lanza del Vasto. Este texto é uma surpresa: não sabia que alguém vivia assim entre nós. O relato de Frederico Lourenço é umas vezes franco, outras vezes bizarro, pela densidade cultural que parece sempre excessiva. Pode-se viver assim? Pode-se viver sempre dentro do texto dos outros? Pode-se viver sempre dentro dos gestos do bailado, das palavras dos lied, do universo total e absoluto de Wagner? Pode-se viver, amar, face a presenças tão intensas e tão inequívocas como as da grande arte? Pode-se viver no meio da beleza transmitida pelas obras de arte sem que estas preencham todo o espaço do sentimento? O que é que sobra? Pode-se ser feliz num universo tão povoado de sentido? Duvido, mas também este livro não é sobre a felicidade, mas sim sobre o deslumbramento.
evva

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