«Prepara-te, que nunca mais vais esquecer este concerto»
Assim dizia um dos privilegiados que tiveram a oportunidade única de assistir ao que foi provavelmente um dos melhores concertos que se hospedaram na Casa da Música. Estava sentado atrás de mim, na quarta fila da plateia, e durante quase duas horas trauteou, enlevado, as notas que Abdullah Ibrahim criava.
Teve tudo, este concerto. A entrega desmedida do septuagenário, em comunhão perfeita com o piano. As exclamações que ouvimos nos discos e cds, de quem tira um prazer absoluto da música que executa. A inesperada condução e interligação das músicas, que é do melhor que o jazz tem. Aquele trecho do Desert Flowers, leitmotiv imprevisto e desejado. O último tema, em que me pareceu ficar magistralmente suspensa uma nota... Conhecem aquela sensação de certas músicas que ludribiam a nossa expectativa e quando pensamos chegado o momento do arrebatamento a nota não surge e nos deixa na ânsia do quase?
Abdullah Ibrahim, num concerto em Stuttgart
No final, com gestos de rara humildade, Ibrahim agradeceu as palmas e a plateia em pé, rendida, como se não merecesse tamanha consideração e estima. Nós é que não te merecemos, Abdullah. E continuo à espera daquela nota.
evva
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